Por Antonio Tozzi
O ano de 2023 ficará marcado por três técnicos que se destacaram no futebol brasileiro, cada um com sua própria característica. Mas todos vencedores que calaram seus críticos com resultados positivos.
Fernando Diniz
O primeiro a se destacar foi Fernando Diniz. O técnico do Fluminense vinha sempre colhendo análises favoráveis de seu trabalho. Desde quando começou em equipes menores como Votoraty, Atlético de Sorocaba, Paulista de Jundiaí, Botafogo-SP, Osasco Audax, o ex-meia atacante se caracterizoui por implantar um estilo de jogo em que a posse de bola e a troca de passes entre seus jogadores se torna fundamental.
Assim foi feito por onde passou, e em 2016, comandando o Osasco Audax, sagrou-se vice-campeão paulista, perdendo a final para o Santos de Dorival Junior (outro de nossos personagens). Entretanto, mesmo com a derrota, a postura adotada pela modesta equipe chamou a atenção dos comentaristas e dos torcedores.
Após perambular por várias equipes de interior de São Paulo e treinar o maraná, Diniz entrou no circuito dos principais clubes brasileiros, com o convite do Athletico Paranaense em 2018. Seu trabalho despertou a atenção dos dirigentes do Fluminense e, no ano seguinte, ele assumiu o Tricolor Carioca. No mesmo ano, ele trocou o Flu pelo São Paulo. Permaneceu no Tricolor paulista até o início de 2021, mas o auge de seu trabalho foi ter levado a equipe do Morumbi à liderança do Campeonato Brasileiro de 2020. Entretanto, mesmo com sete pontos de vantagem sobre o vice-líder a poucas rodadas do final, o time de Diniz caiu de rendimento e perdeu o campeonato para o Flamengo.
Dispensado pela diretoria do São Paulo em fevereiro de 2021, Diniz não teve um bom ano. Assumiu o Santos e o Vasco da Gama e não obteve bons resultados. Os seguidos insucessos renderam a ele o epíteto do treinador “que joga bonito, mas não ganha”.
Em 2022, ele retornou ao Fluminense a convite do presidente Mario Bittencourt. Novamente, moldou a equipe à sua maneira, encantando analistas e até mesmo torcedores, mas a sina de não vencer torneios continuava a assombrá-lo.
Porém, tudo mudou neste ano de 2023. Em uma final épica com o Flamengo no Campeonato Carioca, o Fluminense perdeu o primeiro jogo por 2 a 0 e deixou seus torcedores preocupados. Todavia, no jogo de volta, sua equipe aplicou uma goleada de 4 a 1 no badalado Flamengo e permitiu a Diniz conquistar seu primeiro título, sepultando de vez a alcunha do “joga bonito, mas perde”.
A cereja do bolo, porém, ainda estava por vir. Sob seu com ando, o Fluminense conquistou pela primeira vez em sua história a Copa Libertadores da América – verdadeira obsessão do clube carioca. Agora, dos 12 clubes mais populares do Brasil, apenas o Botafogo do Rio de Janeiro não ,teve o gosto de alcançar a Glória Eterna.
Para coroar seu ano, Diniz comandou o Fluminense na vitória sobre o Al-Ahly, campeão africano, por 2 a 0 em Jeddah, na Arábia Saudita, e fez a final com o poderoso Manchester City, campeão europeu dirigido por Pep Guardiola, considerado o maior técnico do mundo. Enfim, alcançou a redenção com todos os méritos, mesmo com sua equipe sendo derrotada por 4 a 0 na final do Mundial de Clubes da Fifa.
Ainda por cima, Diniz foi convidado pelo então presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues para assumir interinamente a Seleção Brasileira, que pode ter como técnico efetivo o italiano Carlo Ancelotti, atual treinador do Real Madrid.
Abel Ferreira
O português de Penafiel jamais imaginaria que faria história em um dos clubes mais populares do Brasil e deixaria seu nome marcado nos corações dos torcedores do Palmeiras.
Desconhecido da maioria da imprensa e dos torcedores brasileiros, Abel Ferreira trocou o Paok da Grécia pelo Palmeiras em novembro de 2020, em plena pandemia. Ele chegou ao clube em novembro de 2020, na época da pandemia da Covid-19, substituindo o famoso Vanderley Luxemburgo, um dos treinadores mais icônicos do Alviverde paulista. Ele foi indicado por Anderson Barros, diretor de futebol do Palmeiras, após o time ter ouvido recusas de outros treinadores.
Em janeiro do ano seguinte, ocorreu a final da Copa Libertadores da América de 2020, adiada por causa da pandemia. O jogo foi realizado no Maracanã e o Palmeiras derrotou o Santos por 1 a 0, com gol de Breno Lopes no final da partida. Ainda em 2020 comandou o time na conquista da Copa do Brasil.
A partir daí, o teinador português foi colecionando títulos. No mesmo ano, ganhou a Copa Libertadores em 2021 consecutivamente, desta vez sobre o Flamengo em Montevidéu. A torcida palmeirense exultava com as conqustas das taças, enquanto alguns críticos diziam que Abel Ferreira era um técnico bom apenas para vencer competições de mata-mata e não conseguia vencer campeonatos de pontos corridos.
Mais uma vez ele calou os críticos. Em 2022 e 2023, ele levou o Palmeiras a dois bicampeonatos: do Campeonato Paulista e do Campeonato Brasileiro. De quebra, ainda venceu a Recopa Sul-Americana em 2022 e a Supercopa do Brasil em 2023.
Este ano foi emblemático. O Palmeiras perdeu dois expoentes de seu meio-campo: Danilo e Gustavo Scarpa, transferidos para o Notthingham Forest, da Inglaterra. A torcida se revoltou com a diretoria por não ter contratado imediatamente substitutos para os dois craques. Nem mesmo os títulos do Paulistão e da Supercopa serviram para aplacar as críticas. Para piorar, o Botafogo abriu enorme vantagem sobre os concorrentes e tudo indicava que sairia do jejum de 28 anos sem título.
Após a eliminação dolorosa na semifinal da Libertadores para o Boca Juniors, da Argentina, na disputa de pênaltis, o Palmeiras atravessava uma fase de instabilidade. Porém, novamente a versatilidade de Abel Ferreira corrigiu o rumo e levou o Verdão a mais um título do Brasileirão. Ele modificou o esquema tático, substituiu algumas peças e sobretudo efetivou o garoto Endrick como titular. Essas providências garantiram uma sequência de vitórias – uma delas épica na virada de 4 a 3 sobre o Botafogo no Rio de Janeiro – e a conquista de mais um título para a equipe paulista.
Seu contrato termina no final de 2024 e a presidente Leila Pereira, que tentará a reeleição, tentará prorrogá-lo por mais três anos estendendo-o até 2027. Apesar da esperança dos torcedores palmeirenses, parece difícil a renovação do contrato, pois não param de chegar convites para ele e sua comissão técnica trocarem a América do Sul por outro lugar do mundo. Até lá, os torcedores do Palmeiras devem comemorar as vitórias e os títulos como se fossem os últimos da era Abel Ferrreira.
Dorival Junior
Dorival Junior sempre foi ligado ao Palmeiras, onde atuou como médio volante, mesma posição onde se consagrou Olegário Toloi de Oliveira, o famoso Dudu, seu tio. Porém, apesar da identificação com o clube, ele não obteve bons resultados à frente do clube de seu coração. Ao dirigir o Verdão, conseguiiu manter o clube na Série A, em 2014, quando o Palmeiras flertou com seu terceiro reabaixamento para a Série B neste milênio.
Na verdade, ele não era considerado um técnico de elite. Em 2009, ele venceu a Série B com o Vasco da Gama e, no ano seguinte, conquistou o Paulistão e a Copa do Brasil comandando o Santos Futebol Clube. Depois de uma passagem sem brilho pelo Atlético-MG em 2011, foi contratado pelo Internacional, onde conquistou o Campeonato Gaúcho.
Nos anos de 2012 e 2013, dirigiu três clubes cariocas: Vasco, Fluminense e Flamengo, sem nenhuma conquista importante. Em 2014, salvou o Palmeiras do rebaixamento no Brasileirão.
Entre 2015 e 2017, voltou a treinar o Santos, tendo sido campeão paulista em 2016 e vice-campeão brasileiro. Nos anos de 2017 e 2018, foi para o São Paulo de onde saiu para treinar o Flamengo. Não causou grande impacto em nenhum dos clubes.
Depois de um interregno de dois anos, foi convidado para dirigir o Athletico-PR em 2020 e venceu o Campeonato Paranaense, mas foi demitido após uma sequência de derrotas. Em 2022, assinou contrato para comandar o Ceará, onde fez uma campanha histórica na Copa Sul-Americana e estava fazendo um bom Campeonato Brasileiro.
Seu bom desempenho chamou a atenção da diretoria do Flamengo que lhe fez o convite de comandar o Rubro-Negro carioca até o final do ano, após a demissão do português Paulo Souza. A solução saiu melhor do que o esperado. Em 41 jogos, obteve 26 vitórias, oito empates e sete derrotas. Além de tudo, levou o Flamengo aos títulos da Copa do Brasil, nas finais contra o Corinthians, e da Copa Libertadores da América sobre o Athletico Parananense.
Quando tudo indicava sua permanência à frente do clube mais popular do Brasil, a diretoria flamenguista decidiu não renovar seu contrato e optou pela vinda do português Vitor Pereira, que dirigiu o Corinthians no ano anterior. O desempenho de Pereira foi ruim, e o Flamengo o demitiu para contratar o argentino Jorge Sampaoli, que também não agradou e foi dispensado, sendo substituído por Tite,ex-técnico da Seleção Brasileira.
Dorival Junior não conseguiu esconder sua mágoa pela maneira como foi ispensado pelo Flamengo. De repente, de técnico cotado a comandar o Mengão em uma Libertadores da América ou mesmo assumir a Seleção Brasileira, ele se viu desempregado.
Porém, o destino costuma pregar peças. O São Paulo decidiu demitir o ídolo Rogério Ceni, que estava tendo problemas com o elenco, e escolheu Dorival Junior como seu substituto. Com seu jeito apaziguador, ele conseguiu aglutinar o elenco em torno dele e o Tricolor paulista foi se ajustando.
Seu grande feito foi ter levado o São Paulo a conquistar o título inédito de campeão da Copa do Brasil – única competição que o time do Morumbi não havia conquistado. O mais insólito foi o fato de as finais terem sido exatamente contra o Flamengo, ou seja, ele se vingou de seus antigos patrões da melhor maneira, demonstrando a eles o erro em não ter renovado seu contrato. Como disse, o destino costuma pregar peças.