Naomi Tominaga iniciou sua trajetória na indústria do entretenimento aos 19 anos, rapidamente se destacando por sua capacidade de impactar áreas fundamentais desse setor. Formada em Administração de Empresas com foco em Finanças pela Hult International Business School, em Boston, Naomi aproveitou seu profundo conhecimento em análise de dados para criar estratégias de marketing musical altamente eficazes. Seu primeiro projeto de grande destaque foi em 2019, quando coordenou uma parceria entre Apple e Sony Music, desenvolvendo mini-documentários para artistas renomados como Gilberto Gil, Pabllo Vittar e Rashid. Desde então, Naomi tem sido responsável por gerenciar importantes parcerias com gigantes da música, incluindo Sony Music, Warner Music Group e Universal. Atualmente, atua como Market Lead em uma agência de marketing digital especializada no setor musical (Ranked Music) em Miami, onde continua a promover o crescimento artístico e a alcançar resultados significativos no cenário global. Nesta entrevista, Naomi compartilha suas experiências e perspectivas sobre os desafios e as tendências do marketing digital na música.
Florida Review: Sua carreira no Marketing Musical tem sido marcada por sucessos criativos e estratégicos. O que inicialmente te atraiu para essa indústria e como sua formação em finanças influenciou sua abordagem ao Marketing?
Naomi Tominaga: Sempre fui fascinada pela interseção entre criatividade e dados. A música é uma linguagem universal, e poder combinar meu amor por ela com minha formação em finanças tornou o caminho ainda mais interessante. Finanças me ensinaram a pensar de forma estratégica e a tomar decisões baseadas em dados, algo crucial para criar campanhas que tocam as pessoas emocionalmente, mas que também trazem resultados concretos. Essa combinação entre o criativo e o analítico é o que me mantém sempre buscando novas formas de inovar. Quando estamos trabalhando em uma campanha, é imprescindível não só pensar no lado criativo, mas também nos números que estão por trás de cada decisão. Saber analisar os dados, desde as preferências de consumo até as tendências de plataformas como TikTok ou Spotify, permite que a gente otimize cada etapa da campanha. Porém, o diferencial está em como transformamos esses dados em estratégias que tocam emocionalmente o público. Não basta entender o que o público quer ouvir, é preciso entender como se conectar com ele de forma autêntica.
Florida Review: A Indústria da Música opera em um Cenário Global, com públicos diversos em diferentes regiões. Quais são os desafios e soluções que você encontra ao adaptar suas campanhas de marketing para atender às particularidades de cada mercado?
Naomi Tominaga:O grande desafio é reconhecer as diferenças culturais e de consumo musical de cada região. O que é eficaz em um país pode não funcionar em outro. Por isso, é essencial estudar a fundo o comportamento dos fãs em cada local, as particularidades de marcado entendendo suas plataformas favoritas e o tipo de música que mais os atrai etc. Uma equipe multicultural é um grande trunfo nesse processo. Contar com equipe locais no Brasil, México e Estados Unidos, por exemplo, nos oferece uma visão prática do que realmente funciona nesses mercados, além de insights valiosos sobre as tendências locais. Um exemplo de destaque foi o trabalho com o J Balvin no Brasil, nesse projeto ajustamos a estratégia para que ele se conectasse diretamente com o público brasileiro. Sugerimos que ele usasse “gírias” populares, como o meme “Calma, Calabreso”, que fez enorme sucesso. Isso gerou um forte engajamento, com a campanha sendo amplamente divulgada na mídia local, demonstrando a importância de uma abordagem personalizada e genuína em cada mercado.
Florida Review: Você já trabalhou com artistas emergentes e estabelecidos. Quais são as diferenças nas estratégias de Marketing para promover novos talentos em comparação aos artistas já consolidados no mercado?
Naomi Tominaga: Todos nós queremos mais engajamento e streams para nossos clientes, no entanto, para artistas emergentes, esse objetivo maior é consequência de um investimento em campanhas de “awareness” apoiadas em conteúdo orgânico original e criativo, que atraia um público específico. Quando menciono campanhas de awareness, refiro-me à uma promoção digital que torna o artista quase onipresente nas plataformas. Queremos que as pessoas vejam tanto o nome quanto a imagem desse artista no TikTok, Instagram e outras redes, a ponto de ele se tornar impossível de ignorar. A estratégia é ser repetitivo e constante, usando principalmente vídeos para fixar a memória do público. No TikTok, isso pode ser feito com vídeos de 6 segundos que capturam rapidamente a atenção, enquanto no Instagram focamos no “ThruPlay”, garantindo que os vídeos sejam assistidos até o final. O aumento dos streams no Spotify e em outras plataformas surge como consequência de quão bem conseguimos construir a marca do artista nas redes sociais e o quanto as pessoas começam a associá-lo com algo que apreciam, seja sua música, estética ou estilo de vida. No caso de artistas estabelecidos, o approach é diferente. A estratégia de marketing foca no fortalecimento da conexão já existente com o público. Em vez de gerar awareness, buscamos aprofundar essa relação, criando novas narrativas e momentos que engajem os fãs de maneira mais íntima e emocional. O objetivo não é fazer o público descobrir o artista, mas mantê-lo relevante e presente no cotidiano dos fãs, oferecendo algo novo que reafirme o que eles já amam naquele artista.
Florida Review: Com a sua vasta experiência em Marketing Musical, o que você acredita que o futuro reserva para o uso de Novas Tecnologias, como Inteligência Artificial, nas estratégias de promoção de artistas?
Naomi Tominaga: Acredito que a inteligência artificial já está começando a transformar a forma como desenvolvemos campanhas. Com a análise de grandes volumes de dados, a IA nos permite entender profundamente o comportamento dos fãs, prever tendências e personalizar o conteúdo de maneira mais precisa do que nunca. Ferramentas de IA podem recomendar playlists, ajustar campanhas em tempo real e até sugerir colaborações entre artistas com base em dados de audiência e compatibilidade de estilo. Além disso, vejo a IA como essencial para a otimização de catálogos, ajudando as equipes de artistas e gravadoras a identificar falhas ou áreas ignoradas que poderiam ser monetizadas. Por exemplo, a IA pode identificar oportunidades em faixas mais antigas que, de repente, têm picos de streaming ou geram muitas criações no TikTok, alertando a equipe para um possível reinvestimento na faixa. No futuro, a IA terá um papel ainda maior, não só na análise e no ajuste de campanhas, mas também na criação de experiências interativas e na maximização de novas oportunidades de mercado.
Florida Review: Para encerrar, qual conselho você daria para alguém que deseja seguir uma carreira no Marketing Musical?
Naomi Tominaga: Meu conselho principal é ter humildade para aprender e ser adaptável. A indústria da música muda constantemente, com inovações frequentes em plataformas, tecnologias e no comportamento dos consumidores. Quem consegue se destacar é aquele que se adapta rapidamente a essas mudanças e, mais importante, vê oportunidades onde outros veem desafios. Ser criativo, trazer novas ideias e não ter medo de arriscar são essenciais para fazer a diferença em um setor tão dinâmico.
Além disso, as relações interpessoais são fundamentais. O marketing musical vai além dos dados e da estratégia; ele é essencialmente sobre pessoas. É crucial saber colaborar e construir confiança com gravadoras, artistas, distribuidores, plataformas e com o próprio público. Cada uma dessas partes tem sua importância e saber equilibrar essas relações de forma estratégica pode ser o fator decisivo entre uma campanha comum e uma que realmente marca a carreira de um artista. Também é importante estar sempre atento às tendências, tanto globais quanto locais. O que funciona em um país pode não ter o mesmo efeito em outro, então é vital adaptar as estratégias de acordo com o público que se deseja alcançar. No final, o sucesso vem da combinação de conhecimento, criatividade e boas relações, que são a base para campanhas autênticas e impactantes.