Por Nanda Cattani
O Globo de Ouro 2025 foi mais do que uma celebração da excelência no cinema e na televisão: foi um momento histórico para o Brasil. Na noite do dia 5 de janeiro, a atriz Fernanda Torres subiu ao palco no Beverly Hilton Hotel na Califórnia para receber o prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama, emocionando a todos com sua vitória por Ainda Estou Aqui. O momento carregava um simbolismo especial, já que sua mãe, Fernanda Montenegro, havia sido indicada à mesma premiação por Central do Brasil, há exatos 25 anos. Ambas as obras, dirigidas por Walter Salles, agora estão marcadas na história do cinema brasileiro e internacional.
No filme, Fernanda interpreta Eunice Paiva, uma mulher determinada a enfrentar as consequências da ditadura militar no Brasil enquanto busca respostas sobre o desaparecimento de seu marido. Ainda Estou Aqui é uma história de resiliência e justiça, que destaca a força de indivíduos comuns em momentos de opressão. É o tipo de papel que ressoa, não apenas pela história que conta, mas pelo impacto que causa.
Como alguém que ama cinema e entende seu poder transformador, essa vitória vai além de números e títulos. Ela simboliza o reconhecimento de uma narrativa brasileira em um espaço que, por muito tempo, foi inacessível para nossa cultura. Fernanda Torres não apenas brilhou como artista; ela abriu portas para que mais vozes brasileiras sejam ouvidas.
Um discurso que tocou a todos
Ao receber a estatueta, Fernanda Torres compartilhou um momento de pura emoção. Seu discurso foi direto ao coração, conectando sua conquista ao legado de sua mãe:
“Este prêmio é para minha mãe, que me ensinou a arte e a resistência. Há 25 anos, ela esteve aqui, e hoje, juntas, mostramos que a arte brasileira tem força e voz. Obrigada por acreditarem em nossas histórias.”
Com essas palavras, Fernanda não apenas dedicou sua vitória à mãe, mas reafirmou a força de um legado artístico que atravessa gerações. Sua menção ao marco histórico de Fernanda Montenegro em Central do Brasil emocionou a plateia, enquanto sua vitória reforçou a relevância do cinema brasileiro. A plateia, em pé, aplaudiu de maneira calorosa, reconhecendo o impacto de sua conquista. No Brasil, o momento foi celebrado como um marco, especialmente por aqueles que acreditam no poder do cinema para transformar e representar nossa identidade.
Uma vitória em meio a gigantes
O prêmio de Fernanda Torres não veio fácil. Ela concorreu com nomes de peso, incluindo:
• Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl), Tilda Swinton (O Quarto ao Lado), Pamela Anderson (The Last Showgirl) e Kate Winslet (Lee).
Todas as indicadas entregaram performances extraordinárias, mas a força de Ainda Estou Aqui e a sensibilidade da interpretação de Fernanda destacaram-se entre as demais.
O Globo de Ouro é muitas vezes chamado de termômetro para o Oscar, mas, para mim, ele é mais do que isso. Ele é uma chance de ver histórias e vozes diferentes brilharem, mesmo que por um breve momento. Ver Fernanda Torres nesse palco me faz questionar: será que o Oscar terá coragem de reconhecê-la também? As indicações serão anunciadas no dia 17 de janeiro, e, como muitos brasileiros, estarei na expectativa. Já sabemos que a cerimônia acontecerá no dia 2 de março de 2025, mas até lá, fica a dúvida: veremos Fernanda Torres representar o Brasil no maior palco do cinema mundial?
Todos os vencedores do Globo de Ouro 2025
Cinema
• Melhor Filme – Drama: The Brutalist
• Melhor Filme – Comédia ou Musical: Emilia Pérez
• Melhor Diretor: Brady Corbet (The Brutalist)
• Melhor Ator em Filme de Drama: Adrien Brody (The Brutalist)
• Melhor Atriz em Filme de Drama: Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui)
• Melhor Ator em Filme de Comédia ou Musical: Sebastian Stan (Um Homem Diferente)
• Melhor Atriz em Filme de Comédia ou Musical: Demi Moore (A Substância)
• Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Verdadeira Dor)
• Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emilia Pérez)
• Melhor Filme em Língua Não Inglesa: Emilia Pérez
• Melhor Animação: Elementos do Futuro
• Melhor Roteiro: Jacques Audiard (Emilia Pérez)
Televisão
• Melhor Série – Drama: Shōgun
• Melhor Série – Comédia ou Musical: The Bear
• Melhor Minissérie ou Filme para TV: Mi Reno de Peluche
• Melhor Ator em Série de Drama: Hiroyuki Sanada (Shōgun)
• Melhor Atriz em Série de Drama: Anna Sawai (Shōgun)
• Melhor Ator em Série de Comédia ou Musical: Jeremy Allen White (The Bear)
• Melhor Atriz em Série de Comédia ou Musical: Quinta Brunson (Abbott Elementary)
• Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV: Sebastian Stan (Mi Reno de Peluche)
• Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV: Anya Taylor-Joy (The Queen’s Strategy)
O que essa vitória significa para o Brasil? Mais do que um prêmio, ela é um lembrete de que nossas histórias podem e devem ocupar os grandes palcos internacionais. Fernanda Torres nos mostrou que, mesmo em uma indústria dominada por narrativas de outros países, há espaço para nossa voz.
O cinema é, antes de tudo, uma ferramenta de empatia e conexão. Hoje, graças à vitória de Fernanda, o Brasil foi ouvido. E enquanto aguardamos as indicações ao Oscar, celebramos essa conquista como o marco que ela é: um passo adiante para todos os que acreditam no poder das histórias brasileiras.