Por Nanda Cattani
Se eu tivesse que escolher uma habilidade que define minha trajetória, seria a capacidade de me comunicar com diferentes culturas. Falar vários idiomas me permitiu não apenas interagir com pessoas ao redor do mundo, mas também compreender como a comunicação evoluiu ao longo do tempo. Como jornalista e comunicadora, sempre me fascinou a maneira como as tecnologias moldam a nossa forma de nos conectarmos. Hoje, a Apple nos apresenta um novo marco nessa jornada: a possibilidade de enviar mensagens sem Wi-Fi ou sinal de celular, utilizando satélites.
A necessidade de comunicação em locais remotos não é nova. Durante séculos, viajantes, marinheiros e exploradores dependiam de métodos rudimentares para enviar notícias de suas jornadas. No século XX, os rádios de ondas curtas possibilitaram um salto significativo na comunicação global, sendo fundamentais durante guerras e missões de resgate. No entanto, foi apenas com o advento dos satélites de comunicação, na década de 1960, que as transmissões intercontinentais se tornaram rápidas e confiáveis.
A chegada da telefonia móvel na década de 1990 mudou radicalmente nossa relação com a comunicação, tornando o contato instantâneo e acessível. Mas, apesar do avanço, ainda existiam barreiras: áreas remotas, desastres naturais e falhas nas infraestruturas de telecomunicações muitas vezes deixavam as pessoas incomunicáveis.
Com o lançamento do iPhone 14, a Apple introduziu um recurso inédito: o envio de mensagens via satélite. Antes restrito ao uso emergencial (SOS via Satélite), agora essa tecnologia está em vias de ser expandida no iOS 18 para permitir o envio de mensagens comuns mesmo quando não há Wi-Fi ou cobertura de rede móvel. Essa inovação representa um salto na maneira como interagimos e reforça a busca incessante por uma conectividade ininterrupta. Contudo, ainda não está claro se essa funcionalidade será disponibilizada de imediato ou se está em fase de testes.
Além disso, há indícios de uma possível colaboração entre a Apple, a SpaceX e a T-Mobile para expandir o acesso à conectividade via satélite nos iPhones. De acordo com informações recentes divulgadas por Mark Gurman, da Bloomberg, a última atualização do iOS 18.3 incluiu discretamente suporte ao serviço Direct to Cell, permitindo que dispositivos da Apple possam, no futuro, conectar-se diretamente aos satélites da Starlink em regiões sem cobertura móvel. Esse desenvolvimento pode representar uma alternativa à atual parceria da Apple com a Globalstar, ampliando as possibilidades de comunicação sem redes terrestres tradicionais.
O funcionamento do sistema é relativamente simples, mas extremamente poderoso. Quando um usuário se encontra sem sinal, o iPhone detecta automaticamente a necessidade de conexão via satélite e o guia para apontar o dispositivo na direção correta. A mensagem é então enviada utilizando satélites de baixa órbita, sem necessidade de torres de celular. A comunicação acontece de forma eficiente, apesar de algumas limitações, como a impossibilidade de enviar imagens ou vídeos.
Impacto e Possibilidades: O Futuro da Conectividade Global
A introdução desse recurso não é apenas uma comodidade para quem faz trilhas em áreas isoladas ou se aventura em alto-mar. Ele pode se tornar uma ferramenta essencial para populações em regiões remotas, áreas afetadas por desastres naturais e até mesmo para jornalistas e ativistas em zonas de conflito, onde o acesso à internet pode ser restringido por governos autoritários.
O que hoje é um recurso inovador da Apple pode, em breve, se tornar um padrão para toda a indústria de tecnologia. Outras empresas já estão explorando formas de democratizar a comunicação via satélite, com o potencial de oferecer internet global acessível a todos. Elon Musk, com a Starlink, e outras gigantes da tecnologia trabalham para eliminar as fronteiras digitais e criar um mundo onde ninguém mais ficará offline involuntariamente.
Além da Tecnologia: Uma Nova Era de Comunicação
A evolução da comunicação sempre acompanhou os avanços da sociedade. O que antes era um privilégio de poucos, com o tempo se tornou uma necessidade básica. Se antes as cartas levavam semanas para cruzar oceanos, hoje mensagens podem ser enviadas para qualquer lugar do mundo instantaneamente – e agora, até mesmo sem redes convencionais.
Como jornalista e comunicadora, vejo essa inovação como um reflexo do desejo humano por conexão e pertencimento. A história nos mostra que, sempre que surgem novas tecnologias de comunicação, elas não apenas encurtam distâncias, mas também redefinem como nos relacionamos com o mundo e uns com os outros.
Estamos testemunhando o nascimento de uma nova era da comunicação, onde a conectividade será cada vez mais descentralizada e acessível. No futuro, estar “fora da rede” pode ser uma escolha, e não uma limitação. O avanço das mensagens via satélite da Apple é apenas o começo de uma revolução que nos lembra que, independentemente das barreiras geográficas, a humanidade sempre encontrará um caminho para se conectar.