Por Nanda Cattani
A Síria, um país marcado por uma década de guerra civil, volta ao centro das tensões globais com uma escalada recente de violência. Os confrontos entre as forças governamentais e grupos alauítase colocam não apenas o futuro da região em jogo, mas também testam a dinâmica de poder entre as grandes potências mundiais.
O embate na Síria nunca foi apenas um conflito interno. Desde o início da guerra civil em 2011, o país se tornou palco de disputas por influência entre os EUA, Rússia, Irã e Turquia. Cada um desses atores desempenha um papel crucial na arena síria, onde alianças se formam e desfazem conforme interesses geopolíticos e econômicos. Com o recente aumento das hostilidades, um novo capítulo parece estar se desenhando: um que poderá redefinir o papel das potências globais no Oriente Médio.
A Rússia, aliada histórica do regime de Bashar al-Assad, reforça sua presença militar na região, consolidando sua influência estratégica e desafiando a hegemonia ocidental. Os EUA, por outro lado, têm enfrentado dilemas sobre o nível de envolvimento na crise. A presença militar americana se concentra no combate ao Estado Islâmico, mas também serve como um contrapeso às ambições russas e iranianas. Enquanto isso, o Irã amplia seu apoio a grupos xiitas na região, o que agrava a rivalidade com Israel. O governo israelense tem realizado ataques estratégicos a alvos iranianos na Síria, tornando a situação ainda mais volátil. A Turquia, por sua vez, continua sua campanha contra as forças curdas, sob o pretexto de segurança nacional.
A ONU condenou o recente massacre e alertou para possíveis crimes de guerra, mas sua atuação na Síria tem sido amplamente criticada como ineficaz. O impasse no Conselho de Segurança, impulsionado por vetos de Rússia e China, tem dificultado a implementação de soluções diplomáticas mais contundentes. Ao mesmo tempo, a Europa se vê diante do fantasma de uma nova crise migratória, com milhares de refugiados sírios buscando abrigo em território europeu.
Em meio a disputas geopolíticas, a população civil síria continua a pagar o preço mais alto. Milhões de pessoas vivem em condições de extrema vulnerabilidade, com acesso precário a alimentos, água e serviços básicos de saúde. A guerra já gerou uma das maiores crises de refugiados do mundo, com mais de 6,8 milhões de deslocados que buscam asilo em diversos países. Organizações humanitárias enfrentam desafios enormes para fornecer ajuda, especialmente devido a bloqueios impostos por diferentes facções. A ONU e ONGs internacionais alertam para uma catástrofe iminente caso não haja uma solução para garantir o acesso seguro a esses territórios. Além disso, a falta de recursos financeiros e o enfraquecimento do compromisso internacional com a causa tornam a situação ainda mais dramática.
Diante desse cenário, o conflito na Síria segue sendo um ponto de inflexão na política global. Ele não apenas evidencia o fracasso de iniciativas diplomáticas, mas também sublinha a emergência de um novo equilíbrio de poder internacional. Se antes os EUA ditavam as regras do jogo no Oriente Médio, hoje o tabuleiro é disputado por múltiplos jogadores, cada um com interesses estratégicos próprios. Os próximos meses serão cruciais para determinar se a Síria permanecerá um campo de batalha para disputas globais ou se haverá um movimento concreto em direção à estabilização. Uma solução duradoura exige mais do que tratados diplomáticos formais: ela requer uma reestruturação sólida que inclua o povo sírio, garanta a reconstrução do país e previna que esse ciclo de violência se perpetue indefinidamente.