por Dra. Leticia Sangaletti
Uma pergunta que sempre recebo é: “Como você consegue se comunicar tão bem em situações de pressão?”. E responder essa pergunta até parece fácil. Ontem publiquei um vídeo falando sobre algo simples, mas que muda tudo no processo comunicativo. Algo que aprendi ainda na faculdade de Jornalismo, quando um professor disse: “Quem aqui se considera um bom comunicador?”
Quase todas as mãos se ergueram.
Ele então devolveu:
— “E quem aqui se considera um bom ouvinte?”
O silêncio, dessa vez, foi mais eloquente do que qualquer resposta. Poucas mãos se levantaram. E um burburinho tomou conta da sala — como se, naquele momento, muita gente percebesse que fala muito… mas escuta pouco.
A verdade é que somos treinados para argumentar, apresentar, convencer. Desde cedo, aprendemos a ter opinião, a “nos posicionar”. Mas quase ninguém nos ensina a escutar — e, por isso mesmo, talvez ainda associemos “comunicar” apenas ao ato de falar, escrever, publicar. Só que há uma dimensão mais sutil — e ainda mais poderosa — que sustenta qualquer diálogo verdadeiro: a escuta.
Essa habilidade é fundamental não só na vida pessoal, mas na vida profissional. Foi no jornalismo que aprendi a escutar as pessoas, para reportar e contar histórias. Um bom repórter escuta mais do que pergunta. Um bom comunicador sabe onde e quando calar, e uma boa referência é o jornalista e comunicador Luciano Potter, que tem falado em suas palestras sobre escuta e explorado em seus podcasts a “escuta ativa”. Ele mostra na prática que escutar salva relações e que a escuta é uma ferramenta transformadora — na comunicação, nos negócios, na vida. (Aliás, escutem o episódio do Potter no Concha Acústica Podcast, e apreciem suas entrevistas no Potter Entrevista).
Vivemos numa era de falas apressadas, áudios acelerados em 2x e respostas automáticas. Enquanto o outro fala, já pensamos no que vamos dizer a seguir. E assim, trocamos o diálogo por sobreposição de monólogos. A escuta, que exige pausa, presença e entrega, virou quase um luxo. Como disse bell hooks: “Ouvir é uma das formas mais importantes de mostrar amor.” Mas escutar, de verdade, é raro. Porque escutar exige coragem:
– De não ocupar todos os espaços.
– De ser atravessada por ideias que talvez desafiem as suas.
– De sustentar o silêncio, quando ele é mais necessário que qualquer palavra.
Em tempos digitais, escutar se torna ainda mais desafiador. As redes sociais são projetadas para reações instantâneas, não para reflexões lentas e profundas, e muitas vezes respondemos antes de sentir. É claro que há muito conteúdo de profundidade sendo compartilhado e ganhando espaço, mas dentro de nichos específicos.
A raposa, em O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, nos ensina: “É preciso ter paciência. É preciso sentar-se à certa distância e esperar.” É isso: escutar também é esperar. E esperar é uma forma de amar. Essa é a essência da escuta: esperar. E esperar, hoje, é quase um ato subversivo.
Escutar não é apenas ouvir o som da voz do outro. Escutar é uma forma de ler. Fazer leituras do que escutamos e vemos. É perceber os silêncios entre as frases. É notar o corpo, o olhar, a hesitação. É acolher a dúvida no lugar de oferecer respostas prontas. E mais do que isso: Escutar o outro é um caminho para escutar a si mesma. A escuta começa dentro, e só depois se estende para fora.
Por isso, em vez de perguntar “o que vou dizer agora?”, talvez a pergunta mais honesta seja: “O que ainda não ouvi — em mim, e no outro?” Se hoje nos faltam palavras com profundidade, talvez seja porque estamos nos faltando escuta. E sem escuta, não há comunicação — há apenas ruído. Então que possamos reaprender a ouvir. Porque escutar é reconhecer a humanidade do outro. E, sobretudo, a nossa própria.
E isso não se aplica apenas a vida pessoal, mas a profissional também. Aprenda escutar seus clientes, alunos, pacientes. Escutar é diferente de ouvir. Escutando, a compreensão chega a outro nível, e a sua comunicação, também.
E para finalizar. Aqui vão:
5 práticas para desenvolver uma escuta mais profunda
- Faça pausas conscientes: Nem tudo precisa de resposta imediata. Às vezes, o maior presente que você pode oferecer a alguém é um silêncio acolhedor.
- Escute com o corpo inteiro: Desligue as notificações. Feche abas. Olhe nos olhos (mesmo pela tela). Escutar com atenção plena é um ato de presença radical.
- Escute além das palavras: Repare no tom de voz, nas pausas, no que foi evitado. Às vezes, o que alguém não diz revela mais do que o discurso inteiro.
- Pergunte antes de opinar: Troque o impulso de responder pelo gesto de aprofundar. Uma pergunta bem colocada pode abrir mundos.
- Escute a si mesma todos os dias: Separe um tempo — nem que sejam 5 minutos — para se perguntar: “Como estou me sentindo de verdade?” A escuta interior é o ensaio da escuta do mundo.
E não esqueça, se tu queres te comunicar melhor, diminuir conflitos e ampliar teu repertório: APRENDA A ESCUTAR.
E fica a dica, acessem o Concha Acústica Podcast no Spotify ou Youtube, e escutem várias conversas enriquecedoras, inclusive com o Potter!
📢 E tu? Estás na escuta?
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