Por Claudia Zogheib
Dentre as experiências que estamos convivendo a dois anos: de perdas, luto, privações, dores mentais, o que se extrai destes tempos difíceis pode enriquecer nossas vidas se conseguirmos olhar para os limites efetivos de nossas inconstâncias, diante deste efêmero momento.
Desde que nascemos, estamos todos à prova da nossa própria existência, e quando algo modifica os mecanismos a que estávamos habituados, temos que deixar vir à tona outras engrenagens, outras formas de vive犀利士
r diante das dificuldades que vão aparecendo.
Em todos os momentos, nosso corpo e mente clamam por atenção e, neste sentido, não olhar para nossos medos, sobrecarregam nossa existência, fazendo-nos em algum momento ter que conviver com sintomas que resultam de um processo de defesa contra nossas angústias.
Freud, ao assegurar que somos regidos por impulsos inconscientes e não somente por princípios racionais, propõe uma nova ordem para nossa existência: “O ego não é rei em sua própria casa!”
Assim ele nos avisa que somos inconformados com nossas limitações e principalmente com a finitude da vida, e por isto, tentamos negar o tempo todo as dificuldades que vão aparecendo, porque olhar exige um reposicionamento de escolhas, exige entrar em contato com aquilo que não queremos enxergar.
Estabelecer uma relação de silêncio que nos permite olhar para dentro, pode nos conectar aos nossos medos e angústias na busca do que deveria ser fundamental para atravessarmos cada momento difícil de nossa vida. Pode parecer contraditório, mas silenciar a mente pode nos conectar a muitas respostas, aquela que vem de dentro, do apelo interno, do olhar para dentro.
O silêncio em seus múltiplos sentidos pode se fazer vida ou morte, alegria ou tristeza, mas será infinitamente o lugar do mistério da palavra que não se fez disfarce e que, por total falta de tradução, permaneceu aberto a infinitos sentidos. O silêncio clareia aquilo que está obscuro, permite uma pausa para o nosso próprio pensamento, na busca de um sentido fundamental.
E como diz Fernando Pessoa: “É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios! É fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar! É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração!
Em tempo: este texto foi escrito ao som da música “Drão” de Gilberto Gil.
1 comentário
Parabens, belissimo texto desta psicanalista. Estou gostando muito