Claudia Zogheib
A vida é muito potente no seu mecanismo de existir. Desde o nascimento, durante o nosso desenvolvimento, estamos convivendo com experiências que estabelecemos conosco, e com o mundo ao nosso redor. E é nesta relação que nos constituímos como sujeitos.
A cada fase que vivenciamos trazemos as experiências da fase anterior: as boas… e também as ruins. A ansiedade sobre nossas origens, e as relações estabelecidas desde o nascimento, carregadas de experiências emocionais e intermediadas por onipotência, muitas vezes não nos permitem enxergar o nosso próprio eu: “admitir qualquer realidade nos coloca frágeis”.
No sentido latente e manifesto, este estado de ser, acaba por carregar reminiscências destrutivas que interferem na fase seguinte e na constituição do eu e, assim, acabamos estabelecendo uma relação com nós mesmos, carregada de problematizações.
Melanie Klein acreditava na existência da pulsão da morte, Thanatos, que visa destruir e desintegrar, no sentido em que todos os organismos vivos estariam orientados para o estado inorgânico da morte, que em contato com o instinto da vida, Eros, direcionado para sustentar e unir a vida, nos faria viver numa constante ambivalência.
Cada fase tem um significado específico, amparado também pela cultura, e neste sentido, cabe a nós, enquanto adultos, estabelecer a importância que damos a esta criança que mora dentro de nós, estreitar um diálogo com ela, cuidar dela.
É assustador para nós admitirmos que em muitos momentos somos ou estamos infantilizados: o adulto mora na criança em potencial, mas a criança mora no adulto sempre.
Parece estranho pensarmos assim, entretanto reproduzimos o tempo todo lembranças emocionais que não encontramos ao longo do desenvolvimento espaço para poder existir, ou até que ficaram sem nome em nosso próprio pensamento.
O desamparo inicial está presente desde sempre, e as questões internas sempre aparecerão nas relações que estabelecermos, talvez por isto, as questões psíquicas são buscas eternas dentro de nós.
De todas as fases da vida, a infância é o período mais carregado de experiências dinâmicas e emocionais, e como a criança está em pleno desenvolvimento potencializado, esta fase pode deixar marcas irreparáveis quando não atravessada de forma satisfatória.
Olhemos para as crianças, também para a que vive dentro de nós. Todas elas precisam de cuidados.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Oração ao Tempo”, de Caetano Veloso.