Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do Florida Review. Até agora houve duas corridas, tem muito chão pela frente, mas já temos a indicação de que Ferrari e Red Bull estarão na luta pelo título e que o duelo do ano deverá ser entre Leclerc e Verstappen, dois rivais ferrenhos desde o tempo de meninos correndo de kart. Vamos para o terceiro gepê do ano.
Neste retorno da Austrália ao calendário depois de dois anos de ausência forçada pela pandemia do Covid-19, vamos falar deste país fantástico, da vibrante cidade de Melbourne e da pista com a alteração feita no traçado, que deve torná-la mais veloz.
De cara a gente já sabe que as novas regras deixaram os carros mais equilibrados. Ferrari e Red Bull saíram na frente, mas equipes como Alpine, Haas e Alfa Romeo vieram fortes para a abertura do mundial.
A Alphatauri poderia estar entre elas se os seus pilotos Gasly e Tsunoda tivessem tido mais sorte. E a Mercedes, apesar de ter conquistado um pódio ocasional no Bahrein, tem um duro desafio pela frente para voltar a ser uma equipe vencedora.
Pela primeira vez vamos falar da Austrália aqui porque o país ficou fora do calendário nos dois últimos anos. Em 2020 seria o primeiro GP da temporada, bem no primeiro estouro de casos de covid-19. E mesmo com pilotos e equipes já no Albert Park, ingressos vendidos e a torcida esperando os carros entrarem na pista para o primeiro treino da sexta-feira, o gp foi cancelado.
Em 2021, os organizadores preferiram não fazer a corrida por sua própria opção. A Austrália foi um dos países mais rígidos no controle da pandemia, ao ponto de muitos australianos que residiam em outros países ficarem vários meses sem poder voltar para ver os familiares. Inclusive Daniel Ricciardo, que várias vezes lamentou isso publicamente. Agora, com a situação mais controlada, enfim foi possível realizar o gp.
O nome Austrália vem do latim australis, por causa de sua localização austral, ou seja, ao sul do globo terrestre.
Descoberta por holandeses em 1606, e reivindicada pelos britânicos em 1770, a Austrália começou a ser colonizada oito anos depois, em 1778, e vejam que curioso: os britânicos usaram o país como uma colônia penal. Os prisioneiros com mais de sete anos de pena, que eram enviados para os Estados Unidos, antes da independência dos norte-americanos, em 4 de julho de 1776, passaram a ser enviados para a Austrália, então considerada um fim de mundo.
A fundação da Austrália como país aconteceu em primeiro de janeiro de 1901 e, diferentemente de outras colônias, teve um desenvolvimento grande e rápido, que lhe permitiu alcançar o status de país de primeiro mundo.
Avançada tecnologicamente, com uma industria forte e uma pluralidade cultural, a Austrália é um país marcado por excelentes indicadores como o oitavo maior índice de desenvolvimento humano no mundo, e expectativa de vida é de 83 anos, enquanto no Brasil esse número é de 75 anos.
Setenta e cinco por cento de sua população de 25 milhões é formada por habitantes com ascendência europeia.
É um país comercialmente muito forte: é o maior produtor de minério de ferro, opala e bauxita, que é o minério do alumínio, no mundo; e o segundo maior produtor de ouro, manganês e chumbo. É também o segundo maior exportador de carvão mineral do planeta. A mineração é uma das
principais fontes do pib australiano.
A capital australiana é Canberra, e não Sidney, como muita gente pensa. A razão é estratégica: por estar localizada longe da costa litorânea, Canberra estaria menos suscetível a bombardeios em períodos de guerra.
Canberra é a oitava c威而鋼
idade mais populosa da Austrália, com apenas 400 mil habitantes; Sidney, por outro lado, é a principal cidade, com quase cinco milhões e meio de habitantes. Não é a capital, como muita gente pensava, mas é, de longe, a mais visitada pelos turistas.
O Grande Prêmio da Austrália é um dos mais tradicionais da fórmula 1. Está na trigésima sexta edição de uma história que oficialmente começou em 1985 em Adelaide, um circuito de rua, e o vencedor foi Keke Rosberg, de Williams, depois de
uma disputa acirrada com Ayrton Senna, que caiu numa armadilha de Keke e perdeu o bico ao tocar na traseira da williams. Bem antes disso, Ayrton já admitia que Rosberg era o seu maior rival, e que não gostava nem um pouco do finlandês.
Até então, o caráter do gepê da austrália era mais festivo por ser a etapa final da temporada, na maioria das vezes o título já estava definido quando os pilotos chegavam ao país. Mas a segunda edição, em 1986, foi uma disputa de título das mais apertadas e surpreendentes de todos os tempos. Era o auge da guerra interna da Williams, que tinha o melhor carro, mas deixou o duelo entre Nelson Piquet e Nigel Mansell correr solto. Um estouro espetacular do pneu de Mansell em plena reta levou a equipe a chamar Piquet, que era líder, para uma troca de pneu, temendo que acontecesse o mesmo no carro do brasileiro. Resultado: o título acabou caindo no colo de Alain Prost, que venceu a corrida com 4 segundos de vantagem para Piquet. O que aconteceria com o pneu do carro do Piquet se ele não tivesse parado ninguém vai saber jamais mas ele me contou que foi a Goodyear que recomendou para a Williams a troca dos pneus.
Em 1994 Adelaide também assistiu a uma decisão histórica. A disputa era entre Michael Schumacher e Damon Hill. Quem chegasse na frente seria o campeão. Ambos buscavam seu primeiro título e o alemão tinha um ponto à frente do inglês. Quase no final da corrida, Schumacher cometeu um erro, bateu de leve no guard-rail, mas quando viu que o inglês vinha logo atrás para tomar a liderança, voltou para o meio da pista e jogou sua Benetton para cima da Williams de Hill. Schumacher ficou na barreira de pneus, e Hill, com a suspensão avariada, foi para o box. Bastou uma olhada rápida dos mecânicos para perceber que o carro não tinha condições de continuar.
Schumacher ficou sabendo através de um fiscal que o avisou, e começou a comemorar. Foi o primeiro – e mais controverso – dos sete títulos do alemão.
Adelaide recebeu a fórmula um pela última vez em 1995, e quase foi o palco de uma tragédia. Mika Hakkinen bateu muito forte com a Mclaren no treino da sexta-feira após um estouro de pneu. No impacto contra a barreira de pneus, o finlandês bateu a cabeça, o que causou fratura de crânio, hemorragia interna e bloqueio das vias aéreas. O rápido socorro pela equipe do doutor Sid Watkins salvou a vida de Hakkinen, que ficou em coma induzido inicialmente e passou dois meses no hospital. Depois disso, Hakkinen foi bicampeão em 98 e 99.
Depois de onze edições, a partir de 96 o gepê trocou as ruas de Adelaide por uma pista construida dentro do Albert Park, e usando algumas poucas ruas da redondeza. A cidade de Melbourne, maior e bem mais bonita, fica a 700 quilometros de adelaide. Era a estreia do canadense Jacques Villeneuve, como companheiro de Hill na Williams, e ele fez a pole position logo de cara. Era o primeiro caso de uma pole na corrida de estreia desde o argentino Carlos Reutemann em 1972, e apenas o sexto na história. E o último até hoje.
Na corrida aconteceu o violento acidente de Martin Brundle logo na primeira volta. O carro, Jordan, se partiu ao meio e Brundle saiu ileso.
De lá para cá, foram 24 edições do gepê australiano em Melbourne e o maior vencedor ainda é Michael Schumacher com quatro vitórias.
David Coulthard, Sebastian Vettel e Jenson Button venceram três vezes. Lewis Hamilton e Nico Rosberg, duas vezes cada.
Melbourne é uma cidade espetacular. É a segunda mais populosa da Austrália e importante centro cultural, esportivo e econômico do país. O local é um paraíso para os amantes dos esportes. É a sede do Australian Open, o torneio de Grand Slam que abre a temporada internacional de tênis. Tem jogos de críquete, rugby e as corridas de cavalos. Entre 2010 e 2017, foi sucessivamente eleita como a melhor cidade do mundo para se viver.
Melbourne tem o maior sistema de bondes do mundo fora da Europa, com linhas que somam mais de 250 quilômetros.
O Albert Park, onde anualmente é montada a pista para o gepê da Austrália, tem 3,2 quilômetros quadrados – o dobro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Até 2019 o traçado tinha 5.279 metros. E desde o ano passado a organização do gepê trabalhou em grandes obras de melhorias do circuito, com algumas mudanças no layout da pista. A mais importante delas foi no “ésse” que formava as curvas 9 e 10. Antes uma sequência de baixa velocidade, agora virou trecho de aceleração plena, devendo alcançar 330 quilômetros por hora.
A curva seis também ficou mais rápida. O contorno à direita ficou sete metros e meio mais largo. Os pilotos deverão fazer essa curva 70 km/h mais rápido do que na versão anterior.
Outras curvas que ficaram mais largas foram a primeira do circuito, que ganhou dois metros e meio para a tangência à direita, a curva três, quatro metros e tambem as curvas 11 e 13. São mudanças para criar mais oportunidades de ultrapassagens.
O traçado agora tem 5.303 metros. Aumentou apenas 24 metros, mas se tornou bem mais rápido.
Até o pit lane também está dois metros mais largo.
E mais uma novidade: o gepê da Austrália terá quatro zonas de ativação da asa móvel, um recorde. Estes trechos são a reta dos boxes, entre as curvas dois e três, entre as curvas oito e nove e entre a 10 e a 11.
A opção da Pirelli para Melbourne difere das duas etapas anteriores não só nos compostos, mas também na ordem de escolha. Normalmente os três tipos seguem uma sequência. Foi assim no Bahrein com os pneus c1, c2 e c3, os três tipos mais duros. E na Arábia Saudita com o c2, c3 e c4, um grau mais macio.
Para o gepê da Austrália a Pirelli inovou, embora já tenha feito isso em algumas poucas corridas nos últimos dois anos. Os pilotos terão os compostos c2, c3 e c5… Do c3 pula para o c5, que é o mais macio de todos. Em 2019, a prova foi disputada com os c3, c4 e c5. E para a de 2020, que não aconteceu, os pneus esclhidos eram c2, c3 e c4.
Campeonato de Pilotos
Com o segundo lugar na Arábia, Charles Leclerc aumentou de oito para 12 pontos sua vantagem na liderança sobre o companheiro Carlos Sainz, que ainda é vice-lider. São 45 pontos de Leclerc contra
33 do espanhol. Mesmo com a vitória em Jeddah, Max Verstappen, que tinha zerado no Bahrein, está em terceiro com 25 pontos, oito atrás de Sainz. O pontinho conquistado por Hamilton com o décimo lugar na Arábia o jogou do terceiro para o quinto lugar na tabela, com 16 pontos. O heptacampeão agora está seis pontos atrás do novo companheiro de equipe George Russell e apenas dois à frente de Esteban Ocon.
Pole position e quarto colocado na Arábia, Sérgio Perez agora surge entre os dez primeiros. É o sétimo com 12 pontos, mesmo número de Kevin Magnussen, a grande surpresa do campeonato.
Valtteri Bottas, com oito e Lando Norris, com seis, fecham os dez primeiros.
Campeonato Construtores
Como era de se esperar, a ordem da tabela de construtores também mudou bastante do Bahrein para a Arábia Saudita. Até a liderança da Ferrari mudou: de 17 pontos de vantagem sobre a Mercedes-AMG- Petronas, os italianos agora estão 40 pontos à frente – 78 a 38. A recuperação da Red Bull já põe em risco a vice-liderança da Mercedes, oito vezes campeã. A diferença agora é de apenas um ponto. Enquanto isso a Alpine se consolida em quarto com 16 pontos. A Haas cai de terceiro para quinto com 12 pontos, a Alfa Romeo vai de quarto a sexto com nove, a Alpha Tauri soma oito. A Mclaren, que apesar de estar longe do que era no ano passado, pontuou pela primeira vez com Lando Norris: é a oitava colocada, com seis pontos. Aston Martin e Williams seguem sem marcar.
Sebastian Vettel, enfim, vai fazer sua estreia na temporada 2022. Depois de passar as duas primeiras etapas cumprindo quarentena por ter sido infectado com o covid-19, o tetracampeão retorna ao cockpit da Aston Martin. Quem correu no carro nas duas primeiras provas foi o também alemão Nico Hulkenberg.
A corrida será na madrugada para quem mora nos EUA e você pode checar os horários no meu Instagram @regileme.
Para acompanhar, ao vivo com opção de áudio em português com a equipe da Band, é pelo app F1 TV Pro, disponível para ios e android.
E para ver a análise pós-corrida não perca já na segunda-feira o “Batendo Roda com Rubinho Barrichello”, no meu Instagram ou pelo canal AutoMotor com Reginaldo Leme, no YouTube.
Um forte abraço e até a próxima.