Por Reginaldo Leme
Olá, amigo da Florida Review.
A fórmula um não para!
Vem aí o terceiro fim de semana seguido de corridas, desta vez na tradicional pista de Monza, na Itália, a casa da Ferrari.
Conhecida como “templo da velocidade”, Monza também está marcada para sempre na história do nosso automobilismo.
Foi lá que Emerson Fittipaldi se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial da categoria. Há exatos 50 anos.
Eu pude acompanhar essa conquista bem de perto já que era a minha primeira cobertura oficial de uma corrida de fórmula um e quero relembrar alguns desses momentos com vocês.
Depois do excelente início de temporada, com duas vitórias e outros três pódios de Charles Leclerc, abrindo uma vantagem de 46 pontos para Max Verstappen, quem diria que a Ferrari chegaria ao gepê da Itália tão em baixa. A corrida mais importante do ano para eles. Mas é esse o cenário atual, depois de tantos erros da equipe, algumas quebras e erros também dos pilotos.
Neste momento, a fórmula 1 vem de quatro vitórias consecutivas de Max Verstappen, a última delas correndo em casa, no gp da Holanda. Como não há nenhum indício de que esse domínio será interrompido nas grandes retas de Monza, resta para os ferraristas a esperança de que a pista italiana confirme sua vocação para alguns resultados inesperados.
No gepê da Itália, nada é garantido até a bandeirada. Quem não se lembra da imbatível McLaren de 1988, que venceu todas as corridas da temporada, exceto em Monza?
Naquela prova, Alain prost. quebrou e Ayrton Senna liderava com folga até bater com o retardatário Jean-Louis Schlesser. O resultado foi uma dobradinha da Ferrari com Gerhard Berger e Michele Alboreto, dias depois da morte do comendador Enzo Ferrari.
Teve também o choro do Mika Hakkinen escondido no meio da floresta depois de rodar sozinho e abandonar a corrida de 1999.
E o que dizer da primeira vitória da carreira do Sebastian Vettel, fazendo a pole e ganhando debaixo de chuva com o carro da Toro Rosso em 2008? Na época, ele se tornou o mais jovem vencedor de todos os tempos, com 21 anos.
Um recorde que só foi superado em 2016 por Max Verstappen.
Ainda falando de zebras, os últimos dois anos contribuíram bastante para esse histórico. Primeiro, com a vitória do Pierre Gasly em 2020, que rendeu aquela imagem emocionante dele chorando no pódio lembrando de tudo o que havia enfrentado na carreira, do rebaixamento para a Toro Rosso e da morte do amigo Anthoine Hubert na fórmula dois.
No ano passado, Monza reservava mais uma das suas. Uma conquista inesperada da McLaren, que não vencia desde 2012.
Inesperada, sim. Mas também merecida e muito.
Daniel Ricciardo largou em segundo lugar, tomou a liderança do Max Verstappen já na primeira curva e liderou quase a corrida inteira.
Só perdeu o primeiro lugar durante a janela de pit stops. Um desempenho digno de seus melhores tempos na Red Bull e muito, muito acima do que teve durante essas duas temporadas na McLaren, o que o fez perder o lugar para o australiano Oscar Piastri no ano que vem.
Aquela vitória de Monza, além de ser a primeira desde o gepê do brasil de 2012, foi ainda a primeira dobradinha desde 2010. Lando Norris chegou em segundo, e reclamando da equipe, que não permitiu que ele atacasse o Ricciardo.
Mas uma das cenas mais importantes da historia do gepê da Itália, você com certeza se lembra bem. Foi ali em Monza que a disputa entre Hamilton e Verstappen viveu um de seus capítulos mais intensos.
Na vigésima quarta volta, Hamilton saiu dos boxes disputando posição com Verstappen na freada do final da reta principal. Os dois contornaram a primeira perna da chicane lado a lado e, na segunda, acabaram se chocando. Verstappen decolou sobre o carro do Hamilton, atingiu o halo da Mercedes e chegou a tocar no capacete dele. Pelas fotos, dá pra dizer tranquilamente que o halo salvou a vida do Hamilton. O acidente o deixou com dores cervicais por algumas semanas e um sentimento de rivalidade que só cresceria no restante da temporada.
Inaugurada em três de setembro de 1922, Monza acaba de completar um século de história. Foi a terceira pista do mundo construída especialmente para competição, depois de Brooklands na Inglaterra, em 1907 e Indianápolis, nos Estados Unidos, em 1909.
E esse ano a gente tem um motivo a mais pra celebrar a chegada da fórmula um a Monza.
No sábado, dia 10 de setembro, Emerson Fittipaldi comemora os 50 anos do primeiro título na fórmula um. Uma conquista que abriu o caminho de vitórias e de muito sucesso para os brasileiros no exterior.
Eu estava lá como repórter do Estadão, na minha primeira cobertura de uma corrida oficial de fórmula um.
Mas uma história de bastidores que pouca gente sabe é do meu esforço para estar lá. Prevendo que o Emerson poderia ser campeão e tendo ciência da dificuldade que era conseguir as informações aqui do Brasil na época, eu preparei um projeto para que pudesse acompanhar as corridas na Europa e coletar um material mais extenso, de acordo com a importância daquele momento.
Ficar indo e voltando estava fora de cogitação pelos valores de transporte aéreo. Então o meu plano era me basear na Inglaterra, de onde poderia viajar a um custo mais acessível.
Na época, eu comprei um livro de bolso que se chamava “Viaje a Europa com dez dólares por dia”. Usei aquelas dicas para propor ao jornal separar esta verba para a minha cobertura e mostrei que seria o suficiente para eu e minha mulher vivermos aquela temporada fora do Brasil.
Mas a verdade é que nem eu tinha certeza de que seria o suficiente. Imagine pagar aluguel, alimentação, alugar carro nas viagens, tudo para duas pessoas com apenas dez dólares por dia, o equivalente hoje a dez vezes mais do que isso, mas, ainda assim, muito pouco. Só que a vontade de viver o mundo da formula 1 não tinha limite e eu sabia que era isso, ou nada. O jornal, sim, tinha limite.
A proposta foi apresentada no primeiro semestre de 1972. Passei bastante tempo sem ter resposta. Em agosto, já com as coisas bem mais claras a favor da ideia em que meu plano se baseava, o Estadão aprovou a minha ida, mas aí era só para o gepê da Itália e uma corrida extracampeonato que aconteceria duas semanas antes na Inglaterra. A ideia de viver na Europa com dez dólares ao dia ficaria para o ano seguinte se Emerson, de fato, ganhasse o titulo mundial.
Aproveitei as duas semanas que tinha antes da corrida de Monza para fazer uma cobertura bastante extensa, mostrando como foi cada passo do Emerson na Europa até ali. Pra começar, ele ganhou a corrida extracampeonato em Brands Hatch e, depois de ouvir o meu plano de mostrar todos os lugares por onde passou para construir a carreira, topou na boa.
Passamos três dias juntos viajando pelos arredores de Londres.
Começando pelo autódromo de Silverstone, onde ficava a sede da Jim Russell Racing School, que lhe garantiu uma formação para correr na fórmula-ford.
Depois passamos por algumas casas onde ele se hospedou nas corridas pelo interior da Inglaterra.
E fomos até o local que, para mim, havia sido o mais importante na preparação da sua carreira. A pequena oficina do Dennis Rowland, em Wimbledon, perto de uma pensão onde Emerson morou por quatro meses.
O simpático Rowland me mostrou as coroas de louros das vitórias de Emerson que acabaram fazendo com que Jim Russell o levasse a correr na formula três pela Lotus. Tudo isso com imagens registradas ali na minha câmera fotográfica. E ali começara, de fato, a sua carreira, conquistando o titulo da fórmula 3 mesmo correndo apenas metade do campeonato.
Seguimos juntos até a Itália, onde conheci o autódromo de Monza e aquele curto período de duas semanas terminou assim no gepê da Itália, com a conquista que mudou a vida dele, o destino do brasil na fórmula um e, com certeza, a minha carreira também.
Coincidentemente, este próximo fim de semana em Monza pode ser novamente de realização para o automobilismo brasileiro. É que Felipe Drugovich está bem perto de conquistar o título da fórmula dois. Ele só precisa marcar dez pontos, o equivalente a um quinto lugar na prova principal, para ser campeão. Isso se o adversário Théo Pouchaire marcar todos os pontos disponíveis no fim de semana, o que é bastante improvável.
No domingo passado, em Zandvoort, o Drugovich ganhou pela quinta vez no ano e oitava na carreira, tornando-se o maior vencedor da história da fórmula dois ao lado do russo Artem Markelov e do holandês Nick de Vries.
Se a conquista se confirmar, Drugovich será o primeiro brasileiro a vencer na fórmula dois, que de 2015 a 2017 se chamava gp2, e antes disso, fórmula-3000. Nessa época da fórmula-3000, o Brasil teve quatro campeões – Roberto Moreno em 1988, Christian Fittipaldi em 91, Ricardo Zonta, 97 e Bruno Junqueira, em 2000.
De 2020 para cá, falamos bastante sobre a itália em nossos pré-gepê no YouTube.
Não é à toa: a corrida deste fim de semana será a sétima da fórmula 1 no país em apenas três temporadas.
Só em 2020, foram três: o gepê da Itália, em Monza, o gepê da Toscana, na espetacular pista de Mugello, e a etapa da Emilia Romanha em Ímola.
Falamos dos costumes, das belíssimas regiões da Itália, mas o que mais nos vêm à lembrança, de imediato é a culinária.
Aquela macarronada que aprendemos a comer ainda na infância é parte da herança da imigração italiana ao brasil, iniciada na segunda década do século 20 e intensificada no período da segunda guerra mundial.
A Itália também é a segunda maior produtora de vinho do mundo, atrás apenas da França. A história da produção no país tem mais de quatro mil anos e é uma das mais diversas do mundo. Todas as 20 regiões italianas produzem vinho, e as mais conhecidas são a Toscana, Vêneto, Apúlia e Piemonte.
Em 2008, durante um festival de uva na cidade Marino, houve até quem pensasse na repetição do milagre de transformar água em vinho. Começou a sair vinho pelas torneiras das casas dos habitantes e, claro, muita gente tratou de abastecer os estoques em casa até que a falha técnica fosse descoberta. Mas existe, sim, uma fonte de vinho tinto na Itália que func犀利士
iona 24 horas por dia. É no caminho de São Tomé, em Abruzzo. É só chegar e encher a taça – com moderação!
Outras invenções italianas também foram o café, a torta de frutas e o sorvete. A história diz que Marco Polo retornou do Oriente com uma receita muito parecida com a do sorvete como conhecemos hoje.
Na época, já era uma evolução em relação ao que Alexandre, o grande, fazia por volta de 330 antes de cristo: misturar neve com mel e néctar; e também Cesar, durante o Império Romano, que pedia a seus servos para trazerem neve das montanhas para misturá-la a frutas e sucos.
E tem os queijos: parmesão, gorgonzola, muçarela, provolone, ricota, e vários outros tipos. Também foram inventados na Itália para depois ganharem o mundo.
Agora… A pizza, ninguém sabe ao certo quando exatamente foi criada. Sabe-se apenas que foi em Nápoles que ela se popularizou. A pizza margherita, por exemplo, é uma representação da bandeira italiana: o manjericão verde, o molho de tomate, vermelho, e a mussarela de búfala, que é branca.
Claro que em tantos anos de viagens à Itália a gente sempre aproveitou as noites em Milão, que fica a meia hora de Monza, para experimentar todos esses sabores. Nunca poderemos esquecer essas noites de boas conversas entre nosso grupo de jornalistas brasileiros .
O nosso restaurante favorito era o Bagutta, inaugurado em 1924 numa rua que tem o mesmo nome. Ele ficava próximo ao famoso quadrilatero della moda, onde estão a galeria Vittorio Emanuele e algumas das lojas mais sofisticadas de Milão. O Bagutta era famoso por receber a entrega de prêmios literários, mas nem ele resistiu à crise e acabou fechando as portas depois de quase cem anos.
A galeria Vittorio Emanuele é um marco da arquitetura italiana. Construida entre os anos 1865 e 1877, ela é formada por dois arcos perpendiculares cobertos por uma abóboda de vidro e ferro. A galeria, que tem lojas e alguns restaurantes famosos, está localizada entre dois dos principais monumentos da cidade: o teatro Scala e a Catedral de Milão, que começou a ser construída no século 14 e só terminou 500 anos depois. É considerada o verdadeiro centro de Milão, a Piazza del Duomo.
Ali está outro restaurante imperdível, o Giacomo Arengari, com um terraço de cara para a catedral e do outro lado tem um restaurante da turma que ama o futebol, e pertence ao Milan. Chama-se L´assassino. O nome não é para assustar, mas, ainda assim, é melhor que os torcedores da rival Inter não se atrevam a entrar.
Com tudo isso, o difícil é sair do gepê da Itália sem ganhar uns quilinhos a mais.
Campeonato de pilotos
Quem tem gordura de sobra pra queimar, mas na pontuação, é o Max Verstappen. Com a vitória de domingo passado na Holanda, ele chegou a 310 pontos.
Os vice-líderes Charles Leclerc e Sérgio Pérez estão empatados em 201.
Portanto, são 109 pontos de vantagem para Verstappen que nesse ritmo pode ser campeão bem mais cedo do que se imaginava no início do ano, quando a Ferrari saiu dominando.
Leclerc é, de fato, o vice-lider porque tem três vitórias contra uma de Pérez. Russell é o quarto colocado, com 188 pontos; Carlos Sainz, o quinto, com 175; e Lewis Hamilton, o sexto, com 158. Lando Norris, Esteban Ocon, Fernando Alonso e Valtteri Bottas completam os dez primeiros.
Campeonato de construtores
No mundial de construtores, está cada vez mais claro que a briga da Ferrari é com a Mercedes e não mais com a Red Bull.
Veja que a Red Bull chegou aos 511 pontos, enquanto a Ferrari tem apenas 376, ficando seriamente ameaçada pela Mercedes, com 346.
A briga pelo quarto lugar segue bem interessante, com a Alpine marcando 125 pontos e a McLaren, que tem sofrido com o mau desempenho do Daniel Ricciardo, chegando aos 101.
Eu vou ficando por aqui. Mas encontro vocês nas transmissões do gp da Itália no app da F1TV, para quem está nos EUA, durante todo o fim de semana. E também na segunda-feira 18 horas com o Batendo Roda com Rubinho Barrichello, no meu Instagram @regileme.
Um grande abraço a todos e até a próxima!