Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do Florida Review.
Chegou a hora, a abertura do mundial de 2022, tão esperada desde aquele conturbado final do ano passado, acontece neste fim de semana na pista do Bahrein.
Com carros novos, engenheiros partindo do zero e um limite de gastos de 140 milhões de dólares, cinco a menos que o do ano passado, a temporada promete um equilíbrio que há tanto tempo vem sendo buscado.
Vamos apostar em uma fórmula 1 bem equilibrada, e que a temporada traga emoções fortes como as que vivemos no ano passado.
Estamos retomando a temporada de nossos pré-gepês e ficaremos juntos aqui até novembro, falando de cada um dos 23 grandes prêmios que fazem deste o campeonato mais longo da história.
Fazia parte dessa conta o grande prêmio da Rússia, que foi cancelado, mas, com tantos países se candidatando, é provável que a Liberty Media encontre um substituto. A fila é grande.
Há uma grande expectativa em torno dessa nova fórmula 1. Em alguns momentos durante os testes de pré-temporada a gente viu sinais positivos de que o equilíbrio entre as equipes havia sido alcançado. Em outros, menos.
Para seguir as mudanças radicais das regras técnicas, os projetistas tiveram que partir do zero. A missão maior era acabar com a turbulência causada principalmente pelas asas traseiras para um carro que viesse atrás, o chamado ar sujo que impedia as ultrapassagens.
Daqui por diante, toda a aerodinâmica dos carros está baseada no ar que passa por baixo dele. Isso traz de volta o efeito solo, que tinha sido banido da fórmula 1 há quarenta anos, porque a velocidade que os carros atingiam nas curvas era incompatível com a segurança proporcionada pelos circuitos da época.
Hoje, a tecnologia é outra. Os circuitos são mais seguros e os carros ganharam, com o tempo, itens de segurança de comprovada eficiência como a célula de sobrevivência e, mais recentemente, o halo. Ambos já salvaram muitas vidas.
O novo regulamento foi criado pelo grupo técnico comandado por Ross Brawn, que tinha Pat Symonds, Nikolas Tombazis e Steve Nielsen, todos engenheiros com grande experiência.
O visual do carro é completamente diferente do que estávamos acostumados a ver e isso representou um enorme desafio de engenharia.
Os carros são menores e têm linhas mais harmônicas. As asas dianteiras foram simplificadas ao máximo. O bico, bem mais baixo.
O assoalho, completamente redesenhado para gerar o chamado efeito solo e ser a peça responsável por garantir a maior parte do downforce dos carros novos.
Tudo isso visa diminuir a turbulência e permitir ao carro de trás andar mais perto, especialmente nas curvas. Até o ano passado um carro que se aproximasse para tentar uma ultrapassagem, sofria uma perda de pressão de até 45 por cento em curvas de alta velocidade. Pelos cálculos do time de Ross Brawn a perda aerodinâmica entre os novos carros será de apenas 14 por cento.
Os engenheiros partiram do zero em seus projetos, e os primeiros três dias de testes na pista de Barcelona mostraram que eles usaram soluções diferentes em seus desenhos.
Câmbios e unidades de potência ganharam uma última atualização para este ano. A partir de agora, o desenvolvimento destas partes está congelado até 2026, quando também os motores terão que seguir uma nova regra.
Outra mudança importante é a do visual dos carros com a nova dimensão das rodas. Saem as tradicionais rodas de 13 polegadas, e entram as modernas rodas de aro 18. Com isso, o diâmetro dos pneus aumenta de 660 milímetros para 720, e o peso do conjunto das quatro rodas aumenta em 17 quilos.
Além das medidas dos pneus, outros itens dos novos carros também foram aumentados: os discos de freio tiveram q犀利士
ue ser redimensionados. No total, o peso mínimo dos carros subiu de 752 inicialmente para 795 quilos. Mas durante a pré-temporada as equipes acabaram conseguindo mais 3 quilos. Peso mínimo total, 798 quilos.
E até a quantidade de etanol misturado à gasolina subiu de 5,75% para 10%. Isso causa uma perda de potência estimada em até 18 cavalos.
O regulamento esportivo também traz novidades. E todas as mudanças são consequência da confusão ocorrida na decisão do título do ano passado. A começar pela comunicação entre equipes e o diretor de prova. Isso agora está proibido, e ele terá tranquilidade para tomar decisões.
Também em função do que aconteceu em Abu Dhabi, houve mudança importante na regra do safety car. Agora, ele só deve voltar para os boxes quando terminar a volta em que “todos” os retardatários tiverem recebido permissão para um realinhamento.
O treino de classificação também tem mudança. Os pilotos que passarem ao Q3 não mais serão obrigados a largar na corrida com os pneus usados no Q2. A escolha, agora, será livre.
Pensando também na renovação entre pilotos, cada equipe passa a ter obrigação de escalar jovens pilotos para participar de, pelo menos, duas sessões de treinos livres durante o ano.
Visando a transparência e criando dificuldade para que as equipes encontrem soluções que desequilibrem as forças, todas elas serão obrigadas a mostrar qualquer componente que passar por atualização em seus carros e deverá apresentar uma descrição do que foi alterado. E os carros terão que, obrigatoriamente, ficar expostos na frente dos boxes. Oficialmente essa medida foi apresentada como chance para os jornalistas conhecerem as novidades dos carros em cada corrida., mas, na verdade mesmo, a gente sabe que isso é para ser visto e analisado pelas equipes rivais.
Outra mudança importante é o sistema de pontuação para as corridas que forem encurtadas, seja por chuvas fortes, bandeiras vermelhas muito longas ou qualquer outra razão que cause interrupção da prova. Isso provocou uma mexida importante em uma regra bem antiga.
Quando uma corrida era encerrada com menos de 75% de sua distância original, os pilotos recebiam metade dos pontos normais. Foi o que aconteceu no GP da Bélgica no ano passado, ou melhor, no GP que não existiu. Com muita chuva, os carros deram só três voltas atrás do safety car, não houve nenhuma volta em bandeira verde e o resultado da classificação de sábado valeu para a corrida. Verstappen em primeiro, com George Russell em segundo e Hamilton em terceiro. E cada um recebeu metade dos pontos.
Agora, a FIA trouxe uma fórmula mais justa.
Se a corrida for encerrada com menos de 25% da distância original, só os cinco primeiros pontuarão. O vencedor soma seis pontos, o segundo, quatro e vai diminuindo de um em um até o quinto colocado. Se a distância percorrida for entre 25 e 50% do total, os nove primeiros pontuam e o vencedor leva 13 pontos. Na sequência, a pontuação é dez, oito, seis e vai caindo de um em um até o nono colocado. Por último, se a corrida tiver de ser encerrada com um número de voltas entre 50 e 75%, os dez primeiros somam pontos. 19 para o vencedor e, na sequencia, quatorze, doze, nove, oito, seis e assim por diante até o décimo. É uma pontuação muito mais justa, que valoriza a vitória, mesmo que a corrida não tenha chegado ao fim.
A polêmica de Abu Dhabi provocou mudanças também na direção de prova. As decisões não mais serão tomadas por uma única pessoa. Haverá um revezamento entre dois profissionais experientes, e sob a supervisão de um velho conhecido, Herbie Blash, que era braço direito e parceiro inseparável de Charlie Whitting, a pessoa que instituiu e ocupou esse cargo de diretor de prova durante muitos anos, e faleceu em 2019. Depois disso, Herbie, que é um velho amigo desde os tempos em que trabalhava como mecânico de Nelson Piquet na Brabham, havia se aposentado, e agora foi chamado de volta.
Michael Masi deixa o cargo de diretor de prova, mas terá outra função na FIA. Para se revezarem no cargo, foram designados o português Eduardo Freitas, que tem experiência nas corridas de endurance e trabalhou em mais de 20 edições das 24 horas de Le Mans, e o alemão Niels Wittich, que vinha exercendo esta função na fórmula 2.
Uma novidade no calendário de corridas é o GP de Miami marcado para 8 de maio. Será a primeira vez em 38 anos que os Estados Unidos recebem duas corridas numa mesma temporada. A última vez foi em 1984 com os gepês de Detroit e Dallas.
O campeonato terá de volta os gepês da Austrália, Cingapura e Japão, que não aconteceram nas duas últimas temporadas por causa da pandemia do coronavírus.
O Bahrein ganhou seu grande prêmio em 2004, e em 2006 foi palco da abertura do campeonato. Depois disso, a Austrália conquistou o direito de abrir o mundial e foi assim até o ano passado, quando a pandemia cancelou o gp australiano. Por causa disso o GP do Bahrein voltou a ser o primeiro do ano.
Na sua primeira corrida com os pneus de 18 polegadas, a Pirelli não arriscou. Escolheu os três modelos mais duros. Mas isso tem uma explicação também no tipo de pista, que é uma das mais abrasivas de todo o campeonato, graças a uma alta porcentagem de granito no asfalto, o que gera altos niveis de desgaste e degradação de borracha.
E há ainda a preocupação com a areia no asfalto. Que o vento traz do deserto, o autódromo fica no meio do deserto e apesar de um intenso trabalho de limpeza da pista todos os dias, sempre existem trechos com areia em treinos e corrida, o que prejudica a aderência.
A escolha da Pirelli foi difícil porque os novos pneus de 18 polegadas têm compostos de borracha completamente diferentes daqueles de 13 polegadas dos anos anteriores.
A corrida do Bahrein começa logo após o pôr do sol, com temperaturas de pista bem diferentes em comparação com dois dos treinos livres do fim de semana. Por isso as equipes terão que se concentrar mais no treino livre dois, que é o segundo da sexta-feira, realizado no mesmo horário da corrida de domingo.
Também é normal que durante a corrida as temperaturas caiam bastante no decorrer das 57 voltas. Isso costuma desempenhar um papel importante no resultado final. Até mesmo na previsão do número de pit stops as equipes só poderão ter uma ideia melhor depois de todos os treinos. Normalmente o GP do Bahrein tem mais de uma parada de box, mas pouco se conhece desses novos pneus maiores e mais pesados.
Fica aqui o meu muito obrigado a todos que me acompanham. Um grande abraço e até sexta-feira, 9 da manhã com o primeiro treino livre. No sábado, tem mais treino também às nove e no domingo a corrida começa ao meio dia.
Vale lembrar que os horários são de Brasília e quem está nos EUA acompanha através do app F1 TV, com a opção de áudio em português comigo e toda a equipe da Band.
Um grande abraço a todos! Agradeço muito por me acompanharem, e vamos juntos durante o ano todo, combinado?