Por Nanda Cattani
Eu sou uma Millennial. Cresci num mundo que aprendeu a se conectar digitalmente enquanto ainda respirava o ar da era analógica. Minha filha, com sete anos, faz parte da Geração Alfa, os primeiros nativos completamente imersos no universo das inteligências artificiais, assistentes virtuais e educação digital. Mas quem virá depois dela? A resposta está na Geração Beta, os bebês que estão nascendo a partir de 2025 e que, sem exagero, enfrentarão desafios e transformações que sequer conseguimos imaginar.
Essa nova geração será moldada por um mundo onde a realidade é fluida e em constante reconstrução. São filhos da Geração Z e dos Millennials, o que significa que crescerão sob a influência de pais que já experimentaram a transição tecnológica acelerada e a crise climática se agravando. Para eles, a inteligência artificial não será uma ferramenta opcional, mas sim um elemento central em suas vidas, desde a primeira infância até a vida adulta. Esse cenário também levanta questões sérias. A educação personalizada por IA promete otimizar o aprendizado e adaptar conteúdos às necessidades individuais, mas até que ponto isso fortalecerá a autonomia ou criará uma geração dependente de algoritmos para tomar decisões?
Nossos filhos e netos serão criados em uma era de permacrise — um termo que descreve um estado constante de instabilidade e desafios globais sobrepostos. Pandemias, colapsos econômicos, conflitos políticos, aquecimento global: tudo isso será o pano de fundo da infância da Geração Beta. O impacto do clima, em especial, será inescapável. Enquanto a minha geração discutiu os efeitos do aquecimento global, eles terão de viver com suas consequências diretas. Ondas de calor letais, escassez de recursos hídricos, migrações em massa e alterações drásticas no ecossistema serão parte da realidade. Ao mesmo tempo, talvez seja a geração que finalmente encontrará soluções inovadoras para frear a crise ambiental e adotar novas formas de sustentabilidade radical.
A Geração Beta não terá o luxo de tratar a sustentabilidade como um valor opcional. Diferente dos Millennials, que adotaram o consumo consciente como um diferencial, ou da Geração Z, que pressiona empresas por responsabilidade ambiental, os Betas precisarão viver em um mundo onde a sustentabilidade será questão de sobrevivência. Há uma esperança: são crianças que crescerão em um ambiente onde a adoção de energias renováveis, a economia circular e a redução do desperdício serão naturais. Seus brinquedos podem ser feitos de materiais biodegradáveis, sua alimentação poderá vir de agricultura regenerativa e, quem sabe, suas roupas serão produzidas a partir de impressão 3D com biomateriais.
A Geração Beta carregará o peso da transição de uma era de caos para uma nova forma de existência. Poderão ser os arquitetos de um mundo mais equitativo, ou simplesmente a primeira geração a lidar com as conseqüências irreversíveis das nossas escolhas. Tudo depende do que fizermos agora. Como mãe, penso sobre o que minha filha contará aos filhos dela, os primeiros Betas. Terão eles esperança? Olharão para trás e verão que aprendemos com nossos erros? Ou nos julgarão por termos visto os sinais e não termos feito o suficiente? Ainda temos tempo para mudar essa narrativa. Mas ele está se esgotando.