Por Claudia Zogheib
Segundo os dados da Associação de Dermatologia, o vitiligo acomete em média 1% da população mundial. Trata-se de uma doença sistêmica crônica, adquirida, de evolução clinica imprevisível, caracterizada pelo surgimento de manchas em áreas da pele. Sua causa e mecanismo bioquímico de ação são desconhecidos.
A pele é um órgão de percepção, expressão e comunicação, sendo o primeiro meio de contato com o mundo, e tendo importância primordial na constituição psíquica, onde o indivíduo expõe nela sua exaustão. Ela tem função única como órgão, e se relaciona com o meio externo e interno, formando a fronteira, expressando as reações dos níveis inconscientes do ser, e ligando-se aos grandes sistemas de regulação do corpo e da mente. De íntima ligação com o sistema nervoso, a pele é altamente sensível às emoções, estando em contato estreito com medos, necessidades, e desejos mais profundos, e os problemas da pele, independente da causa, tem impacto emocional.
Na psicanálise, a histeria com os embaraços provocados no corpo, permitiu que Freud desenvolvesse fundamentos, ao observar que as conversões cediam à medida que suas pacientes falavam sobre o que lhes causava sofrimento.
Lacan dizia que o homem, por ser atravessado pela linguagem, estava condenado a um padecimento que repercutia num mal-estar na relação com seu corpo. A entrada na linguagem produz um trauma que deixa marcas, cabendo a cada um encontrar uma solução singular, sendo o sintoma uma das saídas possíveis. Algumas formas de sofrimento no corpo estão aquém ao sintoma, não se ofertam à interpretação, face à impossibilidade de articulação do sofrimento em palavras: são pessoas que frente ao encontro com um evento traumático, produzem respostas mudas no corpo. Em lugar da fala, o silêncio!
Os fenômenos psicossomáticos se apresentam em corpos que se calam, e agitam-se com a presença de algo específico, e não犀利士
cedem facilmente a palavra. Trata-se de uma forma de sofrimento no corpo que aponta para os limites da incorporação da linguagem: falar pelo corpo, com o corpo.
O vitiligo parece exercer uma função protetora, afastando as pessoas e os conflitos gerados pelas relações, levando a consciência a ampliar-se por meio do sofrimento, tendo então, uma função conscientizadora.
As evidências nos dizem que as doenças na pele criam ansiedade, preocupação, medo, vergonha, sentimento de rejeição e muitas emoções ainda desconhecidas e sem nome. Isso não é de se estranhar, quando lembramos que a pele e o sistema nervoso têm uma ligação direta de origem. E quando a mente sofre de exaustão, o corpo dá os seus sinais.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música “Eu amo você”, de Cassiano, cantada por Tim Maia.
4 Comentários
Texto muito esclarecedor, gosto muito desta psicanalista e dos textos dela. Parabens revista pela escolha da colunista.
Nos é que agradecemos a você por ser nosso leitor e a Dra. Claudia por seus excelentes textos
Obrigado Vitor!!
Obrigado!!!!