Por Nanda C.
Em 9 de dezembro de 2024, Luigi Mangione, um jovem engenheiro de computação de 26 anos, foi preso em Altoona, Pensilvânia, acusado do assassinato de Brian Thompson, CEO da UnitedHealthcare. O crime, ocorrido em Nova York no início do mês, chocou o país. Mais do que pela brutalidade do ato, o manifesto encontrado com Mangione trouxe à tona uma discussão há muito necessária: a relação do sistema de saúde americano com a saúde física e mental de seus cidadãos.
Luigi Mangione não era apenas um jovem promissor, mas também uma vítima de um sistema de saúde que ele considerava negligente e desumano. Diagnosticado com espondilolistese, uma condição que causa dor crônica debilitante, Mangione se submeteu a uma cirurgia em 2023. No entanto, em vez de aliviar seu sofrimento, o procedimento trouxe mais frustrações, agravando sua saúde física e mental. Ele enfrentava não apenas as dores constantes, mas também o peso dos custos médicos exorbitantes e a sensação de abandono. Seu manifesto acusava empresas como a UnitedHealthcare de priorizarem lucros acima das necessidades humanas. “Esses parasitas mereciam isso”, escreveu Mangione, expressando um descontentamento que reflete um grito coletivo por mudanças em um sistema amplamente criticado.
O Sistema de Saúde em Perspectiva
O sistema de saúde dos Estados Unidos é amplamente reconhecido como um dos mais caros do mundo, enfrentando críticas não apenas pelo custo exorbitante, mas também pelos resultados desiguais que oferece. Em 2023, os gastos com saúde no país representaram cerca de 17% do PIB, mais do que países como França (11,1%), Alemanha (11,7%) e Canadá (10,8%), que oferecem cobertura universal. Apesar desse alto custo, os EUA apresentam resultados medianos em indicadores-chave como expectativa de vida e mortalidade infantil, expondo as falhas de um modelo centrado no lucro.
Os custos exorbitantes impactam diretamente a população. Uma ressonância magnética nos EUA custa em média US$ 1.119, enquanto na Suíça, conhecida por seus altos custos, o mesmo exame sai por cerca de US$ 503. Um parto pode ultrapassar US$ 10.000 em hospitais americanos, enquanto na Austrália, com seu sistema híbrido de saúde, custa aproximadamente metade disso para pacientes sem seguro. Esses valores não refletem necessariamente cuidados superiores, mas sim uma falta de regulação e controle sobre preços.
Em contraste, países como Reino Unido, Alemanha e Canadá apresentam abordagens mais equilibradas. No Reino Unido, o Sistema Nacional de Saúde (NHS) é financiado por impostos e oferece atendimento gratuito no ponto de uso, garantindo acesso universal. A Alemanha combina seguros sociais obrigatórios com concorrência entre “fundos de saúde” para oferecer cobertura ampla. No Canadá, o sistema universal protege contra custos catastróficos, embora enfrente desafios como tempos de espera. Singapura, com um modelo inovador, combina subsídios governamentais e contas individuais de saúde, promovendo eficiência e acessibilidade.
Nos EUA, a desigualdade é evidente. Cerca de 40% dos cidadãos relatam evitar ou adiar tratamentos por custos, e a dívida médica continua sendo a principal causa de falências pessoais. Comunidades de baixa renda enfrentam os maiores impactos, com regiões onde a expectativa de vida é até 20 anos menor em comparação com áreas mais ricas. Apesar de possuir recursos financeiros e tecnológicos, o peso dos interesses corporativos limita a capacidade de avançar para um sistema mais equitativo. O exemplo de outros países demonstra que é possível equilibrar custos e acesso, mas isso requer um comprometimento com a saúde coletiva acima dos lucros corporativos.
Reflexão e Caminhos Possíveis
O caso de Luigi Mangione deve servir como um alerta. Embora seu ato seja um crime hediondo que deve ser punido, ele também é um reflexo de um sistema que falha em atender às necessidades básicas de seus cidadãos. Sua dor física e mental, ignorada ou tratada de forma inadequada, é uma realidade compartilhada por milhões de americanos.
A reforma do sistema de saúde nos EUA é urgente. O acesso universal e a redução dos custos devem ser prioridades em um país que se orgulha de sua inovação e progresso. Mais do que nunca, é necessário tratar a saúde como um direito humano e não como um negócio.
Os exemplos globais demonstram que sistemas mais justos não são apenas possíveis, mas essenciais para o progresso coletivo. Países que priorizam o acesso universal e a regulação eficaz mostram que é viável alinhar eficiência com humanidade. O caso de Luigi Mangione deve ser mais do que um alerta; deve ser um marco para iniciar mudanças profundas, transformando o sistema de saúde americano em um modelo de equidade e dignidade. Afinal, nenhuma sociedade pode prosperar enquanto seus cidadãos sofrem em silêncio e desamparo.