Por Gabriela Streb
Havia uma época que em cada esquina de Porto Alegre tinha um garoto vendendo dúzias de rosas. De todas as cores, embaladas em jornal, um buquê muito simples, sem qualquer glamour.
Recém-formada, trabalhava num escritório de advocacia bem no centro da cidade e andar pela Rua da Praia até a esquina do Jornal do Comércio quase casa do Poeta Mário Quintana, era roteiro diário no horário do almoço.
Numa dessas caminhadas, ao atravessar a rua em direção a casa do Poeta um menino que vendia flores saiu gritando: moça, moça, espera! Eu respondi que não queria comprar as rosas ao que ele disse. Essas flores são para você. O Senhor daquele carro (apontou um veículo) comprou e disse para entregar para ti.
Nunca soube quem era o sujeito e ele certamente não fazia ideia de quem eu era. O menino apenas disse que insistiu na venda, o sujeito argumentou que não tinha a quem dar e ele sugeriu, “entrega para aquela moça”. Neste caso: eu.
Foi isso que aconteceu. Minha caminhada foi interrompida pelas flores levadas até o escritório que embelezaram minha sala. Até hoje lembro que de longe agradeci com a cabeça e segui meu rumo e o carro o seu.
Essa foi uma ação desinteressada. Aquela que se pratica sem interesse na resposta, sem qualquer contrapartida, que libera ocitocina.
Ocitocina é um hormônio produzido pelo cérebro que facilita o parto e a amamentação. Na hora agá é liberado e faz com que a mulher, apesar de toda a dor, transforme tudo isso em amor fazendo acontecer uma paixão instantânea pelo bebê.
Sabe-se que nas ações desinteressadas quem pratica e quem recebe acabam liberando este hormônio. Nesta hora há uma descarga de adrenalina e quem assiste também tem esta mesma sensação.
Assim, todas as pessoas que estão envolvidas de uma forma direta ou indireta acabam tendo este bem-estar.
Tem pessoas que traduzem isso em “fazer o bem sem olhar a quem”, realmente é uma excelente definição de tanta gente que樂威壯
pratica ações e prefere ficar anônima, curtindo sua ocitocina.