Por Claudia Zogheib
A maioria das pessoas não estão habituadas a se dar conta da própria afetividade. No entanto sofrem as consequências em suas relações e no corpo por não acessar.
Afeto significa destinar a energia psíquica do desejo a uma determinada coisa ou pessoa, e não tem a ver somente com algo positivo: é uma representação pulsional que intermedeia o acesso da pulsão à esfera psíquica.
Quando recalcamos nossos afetos, afastamos do consciente, mantendo distância como defesa que o indivíduo usa para salvaguardar aquilo que ele não consegue deixar vir à tona: por medo, dificuldade em entrar em contato, por receio de se sentir vulnerável, etc. É o processo psíquico através do qual o sujeito rejeita determinadas representações, ideias, pensamentos, lembranças ou desejos, submergindo-os na negação inconsciente, no esquecimento, bloqueando assim os conflitos que geram angústia.
O afeto reprimido é uma forma de se defender da representativ必利勁
idade do nosso contato com o outro, situação esta que começa por nos proteger do sofrimento e de sua manifestação, onde a angústia, o pânico, a ansiedade, a fobia social estão conectadas com a nossa incapacidade de nomear e de reconhecer sentimentos, estes que por estarem contidos, tem seu destino como representatividade do que não pôde ser vivido.
O adoecimento orgânico pode ser entendido como expressão corporal de afetos não elaborados psiquicamente, ou seja, como somatização regressiva, que através de lesões orgânicas, instaura uma fronteira tênue entre a vida e a morte, e demonstra o mecanismo de defesa contra ideias que são incompatíveis com o “Eu”.
Segundo Freud, os conteúdos refutados, longe de serem destruídos ou esquecidos definitivamente através da repressão psíquica, ao se ligarem à pulsão, mantêm sua efetividade psíquica sendo reprimido o componente central do inconsciente. O recalcado se sintomatiza pela repressão onde os processos inconscientes só se tornam conscientes através de seus derivados: sonhos ou sintomas neuróticos.
Quando adentramos o que somos capazes de fazer, ficamos diante do quanto é importante manifestar, acessar, olhar, nomear, compreender, transformar tudo o que somos e sentimos em algo mais produtivo para o “Eu”, consequentemente para nossas relações.
Não há escapatória quando se trata da mente, que por reter tudo o que vivemos e guardamos mesmo antes do nascimento, é o grande reservatório de expressão dos nossos afetos: é o “quantum energético” que leva ao movimento, e na inibição afetiva, a dificuldade está em expressar as emoções e os sentimentos, em identificar.
Este texto foi escrito ao som da música “Wave” de João Gilberto.
O psíquico, seja qual for sua natureza, é em si mesmo inconsciente e provavelmente semelhante em espécie a todos os outros processos naturais de que obtivemos conhecimento.
Freud