Por Claudia Zogheib
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade se tornou uma epidemia global tendo nos últimos anos um crescimento assustador, já ultrapas犀利士
sando outros problemas existentes no planeta.
Pode ser definida de forma resumida como o grau de armazenamento de gordura no organismo, associado a riscos para a saúde devido a sua relação com várias complicações metabólicas. Em relação à estética, a valorização está na silhueta esbelta, jovem e saudável, enquanto a obesidade é estigmatizada.
O corpo do obeso frequentemente está ligado a falta de saúde, estigmatizado pelo excesso, necessitando de cuidados multidisciplinares para seu tratamento, e muitas vezes o indivíduo é surpreendido por recaídas, inclusive nos pacientes submetidos às cirurgias de redução de estômago.
Freud (1912-1913) em Totem e Tabu nos fala do nascimento da cultura, que para o homem é a expressão de como ele cria um conjunto de meios, mecanismos e estratégias para lidar com a natureza, desde um ponto de vista amplo como o meio ambiente, até a sua dimensão mais individual, fisiológica e biológica.
O sentimento de culpa é sempre entendido por Freud como decorrente da renúncia à satisfação pulsional. Essa renúncia teria origem no medo da perda do amor do outro, de quem o sujeito é dependente. Ele denominou de superego a instância que exige renúncia, e no sentimento de culpa que o obeso sente quando come, ocorre também uma identificação com a pulsão de morte através da construção das normas que ele mesmo não consegue manter, e ao estabelecer freio ao prazer em benefício da realidade, o conflito é estabelecido.
As condições que a compulsão impõe ao indivíduo, que o faz comer sem experenciar o alimento, acaba se estabelecendo numa relação de repetição, e a partir desta tentativa de satisfação, o fracasso é estabelecido, e ele volta a buscar prazer imediato em comer, sem um sentido existencial e de pouca satisfação, ou seja, ele come para amenizar sua angústia, come porque momentaneamente, enquanto ingere o alimento sente prazer, e não tem que lidar com seus sentimentos.
Todos nós fazemos isto em algum momento da vida: comemos para mascarar sentimentos, e não na medida da nossa fome. Sendo assim, é muito importante que o obeso procure ajuda que o ajude a estabelecer uma relação consigo mesmo, que abra espaço para ele entrar em contato com o verdadeiro motivo que o leva a comer compulsivamente.
Se ele não estabelecer uma relação com estes motivos, ele provavelmente depois de emagrecer ou fazer cirurgia para redução do estômago, partirá a procura de outra fonte de satisfação oral para sustentar suas angústias, seus medos, etc… e voltará a comer, ou a beber, ou a fumar, etc.
Por isto, precisamos de uma sociedade inclusiva, que abra espaço para os diálogos e sobretudo, que abra espaço para que cada vez mais o indivíduo possa se olhar com profundidade para ele mesmo numa boa psicoterapia.
E como aponta Freud (1930), é no seio da sociedade que as possibilidades de felicidade e de sofrimento se concretizam.
Não se trata de estabelecer uma relação com o corpo e com a alimentação ligada somente à saúde e à aparência, mas sim de investigar qual é a relação que está sendo mantida, para que o obeso continue a comer sem pensar nas consequências de suas escolhas: estabelecer diálogo dele… com ele mesmo.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Gostava tanto de você” de Tim Maia.
2 Comentários
Já entendi isso e detectei porque fumo há algum tempo atrás. O cigarro me dá prazer, se não tenho qualquer outro meio de tê-lo.
Obrigada Ana Maria!