Por Claudia Zogheib
As consequências da guerra na Ucrânia já são significativas: milhares de mortos, um número incalculável de vítimas, mais de 1 milhão de refugiados. Os destroços estão por todos os lados. Seres humanos que sofrem numa situação que se deteriora e se agrava a cada dia que passa, com impactos que começam a ser sentidos em todo o nosso planeta, traumas para “vidas inteiras”.
Diante da compulsão em repetir a guerra, procuramos entender o porquê desta destrutividade. Existe um certo tipo de confiança ingênua que sempre alimentamos, na esperança de um homem que não se percebe dentro de seu próprio contexto. Em nossa essência existe um vazio, um desejo de domínio que extravasa a própria razão, numa agressão que sucumbe a questão em si, diante de um homem desejante do outro e de si mesmo: um sadismo e crueldade que vão além de seus próprios interesses.
A satisfação que a pulsão de morte gera para a destruição encontra o intolerável, e a hostilidade威而鋼
sendo um comportamento recorrente em nossa rotina, nos faz, quando não enxergamos nossas próprias misérias, desejar a destruição sem que possamos perceber.
Quase sempre, quando temos a oportunidade de pensar sobre o outro o julgamos, e isto acontece por se tratar de uma experiência de satisfação que só conseguimos modificar se pudermos olhar para o nosso próprio comportamento, se pudermos nos admitir como seres egoístas, e diante desta constatação … se fizermos algo para mudar esta engrenagem!
Freud em sua troca de correspondência com Einstein dizia ser muito pouco provável conseguirmos eliminar a guerra, exatamente por ela estar intrinsicamente ligada a violência que reside no próprio ser humano. Os escritos de Freud de 1917, diziam que as psicopatologias do futuro não seriam mais as neuroses e sim as organizações narcísicas num ego que necessita de próteses psíquicas: álcool, drogas, dinheiro, fúria, poder!
A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de “civilização”, e por esse motivo, não podemos evitar de nos rebelar contra ela. Trata-se de uma das piores versões do uso de poder, feita somente para afastar homens, a serviço de interesses destrutivos.
Nós nos achamos muito mais do que somos, nos intitulamos humanos, e nos rebaixamos quando destruímos o outro: onde será que nos encontramos? Nosso agudo realismo: o homem sendo lobo do próprio homem!
Existem muitas guerras … e o homem no centro de tudo!
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Alô, alô marciano” de Rita Lee, cantada por Elis Regina.
2 Comentários
Lindo texto , citando a nossa triste e realidade, guerra e egocêntrismo do homem querendo acabar com o homem . Triste porém muito real . Parabéns pelo texto Cláudia
Concordo com o sentido do texto de modo geral ” o homem é o lobo do homem”, mas no caso da guerra atual, o combustível é o poder, o egoísmo da criança que quer o brinquedo do outro, expandir território, conquista, narcisismo. Quem é mãe, já viu isso, em menores proporções, a disputa entre os filhos por um brinquedo ganho por um deles. Guardando as devidas proporções, é a mesma atitude do Putim. “Prefere ver o brinquedo destruído, de que na mão do outro” Aí o grande trabalho da mãe. “Torcer o pepino enquanto pequeno”