Por Claudia Zogheib
A forma como interagimos com as datas retratam nossas experiências com o mundo externo e mostram o quanto elas são necessárias para criarmos sentido diante de nossas próprias vivências.
Quando muda o ano, milhares de expectativas e intenções colocamos em nossos desejos, incluindo aqueles que não realizamos durante o ano que está terminando.
Mesmo sabendo que as mudanças não vêm como um passe de mágica e não tendo garantia que iremos conquistar tudo o que pedimos, o ato de desejar nos coloca diante de uma escuta individual significativa, e nos sintoniza com o que queremos para nossas vidas, quais são nossos desejos e como alcança-los.
Podemos dizer que o ser humano se caracteriza pela capacidade de criar uma rede de símbolos que retratam suas experiências ao longo de sua vida, e constituem o que chamamos de psiquismo, e se não produzíssemos tais símbolos, não existiria a subjetividade humana, processo único e intransferível, que nos torna seres individuais, e estabelecem uma comunicação entre nosso mundo interno e externo.
Planejar para o ano que se inicia fazer aquela aula de pintura, viajar para aquele lugar, entrar na ginástica, ter um filho, casar, mudar de emprego, aposentar, etc. são situações que nos tiram da página em branco e nos colocam em contato com nossos desejos, que mesmo sendo coisas simples, merecem ser ouvidos, precisamos dar-lhes voz.
Ao contrário, estaríamos falando de alguém que perdeu o desejo e a capacidade de sonhar.
Ritualizar é, antes de tudo, estabelecer uma relação consigo mesmo e com o tempo, e ao fazer uma pausa, podemos pensar como foi, como está sendo e o que pretendemos mudar. Momentaneamente fazemos um intervalo na angústia diante dos fracassos, frustrações e naquilo que não conseguimos realizar.
Para Freud, a noção de representação do objeto concebida em complexas associações é formada por uma grande variedade de representações.
A grande maneira de saber sobre nossos desejos é aprender a se escutar, este que talvez seja o único caminho que temos para acessarmos e entender o que eles querem nos comunicar, se são desejos possíveis, construtivos ou destrutivos.
Às vezes, as engrenagens que estão nos fazendo pensar sobre nossos desejos são alimentadas por situações sociais, coisas superficiais ou de outras pessoas que estão perto de nós. Algumas vezes embarcamos nos desejos dos outros, e se tem u必利勁
m sentido importante que move estarmos nesta posição, certamente ele nos trará realizações.
Para que possamos saber onde moram nossos desejos e quais não vamos abrir mão, precisamos aprender a nos escutar.
Para quem segue o calendário cristão, dia 31 de dezembro é um momento de pausa para agradecer e fazer pedidos para o ano que se inicia, um momento de reconexão. E para quem não festeja, é uma grande oportunidade de celebrar a paz e suas intenções com os amigos ou familiares.
Quem iremos ser, quais as nossas metas só se concretizarão à medida que nos perguntarmos sobre nossos desejos. O tempo passa todos os dias de acordo com aquilo que desenhamos para nós, mesmo quando escolhemos não pensar sobre.
Neste sentido, o calendário e as celebrações nos ajudam a planejar, a desabrochar desejos reprimidos, nos dando a chance de entrarmos em contato com a nossa subjetividade, estabelecendo uma relação de como estamos e onde queremos chegar.
Este texto foi escrito ao som da música, “Leaving Home” de Daniel Purk, Fanny Gunnarsson.
2 Comentários
Claúdia, gratidão pelos seus textos.
Realmente, tem me feito refletir.
Uma grande contribuição na transmissão da psicanálise.
Levar às pessoas ao encontro consigo.
Continue nos brindando com seus textos maravilhosos.
Ab
Obrigada Aparecida. Fico feliz que esteja gostando. Abç