Por Nanda Cattani
Na noite de 2 de março de 2025, diretamente do icônico Dolby Theatre, em Los Angeles, o Brasil viveu um momento inesquecível. O filme Ainda Estou Aqui, dirigido pelo renomado Walter Salles, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, tornando-se a primeira produção brasileira a alcançar essa honraria. Era Carnaval no Brasil, e a celebração tomou proporções épicas. Das ruas do Rio de Janeiro às pequenas cidades do interior, o país vibrou com essa vitória como se fosse a final de uma Copa do Mundo. Era mais do que um prêmio; era o reconhecimento da riqueza e profundidade do cinema brasileiro.
Baseado na história real de Eunice Paiva, interpretada magistralmente por Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em diferentes fases da vida, o filme narra a luta incansável de uma mulher em busca de respostas sobre o desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar brasileira. A profundidade emocional e a resiliência de Eunice tocaram audiências ao redor do mundo, refletindo a força e a coragem presentes na história do Brasil. A cada cena, uma ferida reaberta, uma memória resgatada, uma voz ecoando através do tempo.
A vitória de Ainda Estou Aqui não é apenas um triunfo cinematográfico. É uma reafirmação da necessidade de contar nossas histórias, de dar voz a personagens reais que enfrentaram o silêncio da opressão. Ao receber a estatueta, Walter Salles dedicou o prêmio a Eunice Paiva e às atrizes que deram vida à sua jornada, lembrando ao mundo que o cinema não é apenas entretenimento, mas também memória, justiça e resistência.
Fernanda Torres, que já havia sido aclamada internacionalmente por sua atuação, concorria ao prêmio de Melhor Atriz. Embora não tenha levado a estatueta, sua performance foi descrita como arrebatadora, uma entrega total ao papel que emocionou plateias ao redor do mundo. O reconhecimento de seu talento, consolidado nesta indicação, reafirma sua posição como uma das maiores atrizes brasileiras de sua geração.
A edição de 2025 do Oscar foi marcada por momentos emocionantes e reviravoltas inesperadas. O grande vencedor da noite foi Anora, dirigido por Sean Baker, que levou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção. A produção independente capturou o coração da Academia com sua abordagem autêntica e visceral da vida de uma jovem tentando sobreviver em meio a desafios sociais e econômicos. Uma obra crua e realista, que destacou a força dos filmes independentes em um cenário dominado por grandes estúdios.
Na categoria de atuação, Mikey Madison brilhou ao levar o prêmio de Melhor Atriz por seu papel em Anora, entregando uma performance intensa e profundamente humana. Adrien Brody, por sua vez, levou o prêmio de Melhor Ator por sua atuação em The Brutalist, provando mais uma vez sua capacidade de se transformar completamente para dar vida a personagens complexos e multifacetados.
Entre as categorias técnicas, Duna: Parte Dois dominou com sua excelência visual e sonora, conquistando prêmios como Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais. Já Emilia Pérez surpreendeu ao levar a estatueta de Melhor Canção Original com El Mal, enquanto Zoe Saldaña brilhou como Melhor Atriz Coadjuvante e Kieran Culkin emocionou ao vencer Melhor Ator Coadjuvante por sua performance em A Real Pain.
Confira a Lista Completa dos Vencedores do Oscar 2025:
- Melhor Filme: Anora
- Melhor Direção: Sean Baker (Anora)
- Melhor Atriz: Mikey Madison (Anora)
- Melhor Ator: Adrien Brody (The Brutalist)
- Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña (Emilia Pérez)
- Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin (A Real Pain)
- Melhor Roteiro Original: Anora
- Melhor Roteiro Adaptado: Cónclave
- Melhor Filme Internacional: Ainda Estou Aqui (Brasil)
- Melhor Filme de Animação: Flow
- Melhor Fotografia: The Brutalist
- Melhor Design de Produção: Wicked
- Melhor Figurino: Wicked
- Melhor Maquiagem e Penteado: La Sustancia
- Melhor Edição: Anora
- Melhor Trilha Sonora Original: The Brutalist
- Melhor Canção Original: El Mal (Emilia Pérez)
- Melhor Som: Duna: Parte Dois
- Melhores Efeitos Visuais: Duna: Parte Dois
- Melhor Documentário: No Other Land
- Melhor Curta-Metragem de Animação: In the Shadow of the Cypress
- Melhor Curta-Metragem Documental: The Only Girl in the Orchestra
- Melhor Curta-Metragem de Ficção: I’m Not a Robot
A Importância da Vitória Brasileira
O cinema brasileiro sempre teve uma presença marcante em festivais internacionais, mas a conquista de um Oscar representa um novo patamar. Não se trata apenas de uma vitória para a equipe de Ainda Estou Aqui, mas para toda a indústria cinematográfica do Brasil. É o reconhecimento de décadas de trabalho árduo, de histórias contadas com paixão, de um povo que nunca desistiu de sua arte.
Para a comunidade brasileira na Flórida, essa vitória ressoa como um abraço coletivo. Em um momento de exaltação cultural, brasileiros em Miami, Orlando e em diversas partes dos Estados Unidos vibraram juntos, reafirmando sua identidade e conexão com a terra natal. A noite de festa em Hollywood foi acompanhada por uma celebração calorosa entre os brasileiros no exterior, que sentiram cada segundo dessa vitória como se estivessem em casa.
O Brasil fez história. E que essa conquista sirva como combustível para novas gerações de cineastas, roteiristas e artistas brasileiros. Que possamos continuar contando nossas histórias, levando nossa cultura para o mundo e, acima de tudo, emocionando corações. Porque o cinema, como bem mostrou Ainda Estou Aqui, é memória, é resistência, é identidade. E o Brasil mostrou que ainda está – e sempre estará – aqui.