Por Claudia Zogheib
O ciúme é um sentimento conhecido por todos que em algum momento já tiveram a oportunidade de observar: em pessoas, na poesia, nas novelas, nos filmes, nos romances. Descrito aos quatro ventos e mais do que isto, em maior ou menor grau, todos já sentimos ciúmes. Ele contém um elemento de dependência e medo de abandono onde o sujeito obtém alívio da pressão e absolvição da consciência projetando seus próprios impulsos no outro, e desta maneira, sentimentos ambivalentes que convivem lado a lado amparam sua vivência mesmo que de forma inconsciente.
Ciúmes é um sentimento desconfortável que surge ao ter que repartir o amor da pessoa amada com mais pessoas, que ao entrar em contato com tal sentimento, tem-se o impulso imediato de eliminar o rival.
Baseado na inveja, envolve uma relação com pelo menos duas pessoas, tendo sempre que lidar com um concorrente, e diz respeito ao amor que o indivíduo sente como lhe sendo devido e que lhe foi roubado, ou que se acha em perigo ao sentir tal sentimento por seu rival.
Quando o sentimento de ciúme é consciente, seus efeitos conseguem ser mais controlados e ajustados à situação, contido pela pessoa enciumada. Quando o ciúme é inconsciente, ou seja, o indivíduo nega que sente, sentimentos de amor e ódio ficam distanciados de sua percepção, facilitando atitudes hostis não reconhecidos pelo próprio enciumado: ter a percepção do sentimento ajuda a pensar, a manusear, a transformar o próprio sentimento em algo mais colaborativo.
Freud dizia que é fácil perceber como essencialmente se compõe de pesar o sofrimento causado pelo pensamento de perder o objeto amado e sua ferida narcísica. Sentimentos de inimizade contra o rival bem-sucedido, de maior ou menor quantidade de autocrítica, procuram responsabilizar o ego do sujeito por sua perda.
Este pensamento tem um impacto gigantesco sobre o ciúme e o cimento, à medida que o mesmo tem que lidar permanentemente com sentimentos bons e maus, de amor e ódio. O que amamos queremos somente para nós, e ao mesmo tempo, enquanto amamos, temos 樂威壯
que deixar livre para continuar sendo amor e amado: como equilibrar?
Freud observava que no trabalho analítico o foco não deve ser o suposto ciúmes, mas sim as fantasias de infidelidade do próprio indivíduo, que enquanto sente ciúmes, está numa posição de se esvair de seus próprios desejos, estes que aparecem toda vez que tem a necessidade de reprimir seus impulsos, que coincidem com a característica intolerância da perda do amor.
Existem aqueles que reconhecem e aqueles que não reconhecem este sentimento. O que temos em comum é que todos já entramos em contato com o ciúme. A diferença reside no fato de pensar no que vamos fazer com este sentimento, e se alguém pensa não o possuir, justifica-se a inferência de que ele experimentou severa repressão.
Se você ama alguma coisa, deixe-a livre.
Se ela retornar, então era para acontecer.
Se ela não retornar a você,
Persiga-a e mate-a.
Pittman
Do normal ao patológico!!!
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música “Desculpe o Auê”, Rita Lee e Paula Toller.
3 Comentários
Parabéns pelo belissimo texto, com música, eu não perco os textos desta psicanalista, ela sempre coloca música, acompanho ela no jornal da minha cidade, ela tem uma coluna. Parabéns Florida Review, QUE TIME, parabéns a todos desta revista!
Em nome de toda a equipe da Florida Review agradeço a você, Vera.
Abraços,
Ialdo Belo
Obrigada Vera! Fico feliz que acompanhe!