Por Claudia Zogheib
Com quem comparamos nossos pais quando justificamos nossas frustrações diante dos “erros” que eles cometeram conosco? Talvez com os pais dos nossos amigos e primos, ou talvez com os nossos próprios pais… da nossa infância idealizada.
Eles quase nunca estiveram presentes na medida das nossas expectativas, e o intervalo entre o que eles nos deram e nossos desejos, é o espaço que usamos para justificar a melancolia pelo que acreditamos que poderia ter sido…, mas não foi.
Comparamos o tempo todo, e muitas vezes isto se faz necessário para a entrada na realidade que convivemos, e estando diante de nossas frustrações, almejamos construir algo mais parecido com as nossas necessidades reais, sem as ide犀利士
alizações da infância, sem a destrutividade daquilo que sentimos como nossas perdas.
É surpreendente como a perda previsível e necessária dos nossos pais é a derrota psíquica para muitos adultos, mesmo eles já sendo pais, ou tendo idade para serem pais. E pensando no tempo, no que se esvai, nos medos, angustias, nos enfrentamentos, ficamos diante daquilo que conseguimos subtrair da nossa onipotência enquanto éramos crianças.
O processo de luto está inevitavelmente presente na dinâmica entre os dois polos de nossa existência: vida e morte. Trata-se de um processo doloroso que não se limita apenas à morte, mas ao enfrentamento das sucessivas perdas reais e simbólicas durante a nossa existência.
Enquanto adultos, conseguir olhar aquilo que foi, o que poderia ter sido, revitaliza um caminho possível diante do nosso narcisismo, e nos encontramos na difícil tarefa humana, possível de erros e acertos, como os nossos pais.
Melanie Klein dizia que o mundo interno que vinha sendo construído desde o início da vida, e que foi destruído quando ocorreu a perda real, só se concretiza num luto bem sucedido, quando conseguimos conviver com a queda de nossa onipotência.
Às vezes não nos dá tempo de perceber que a cada momento tudo vai embora até desaparecer definitivamente: só ficam as lembranças. E diante das perdas inevitáveis, temos que nos reinventar.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: o Bêbado e o Equilibrista de Aldir Blanc.