Por Nanda Cattani
A pecuária bovina sempre me fascinou. Além de crescer no meio do agro e tive a oportunidade de acompanhar de perto esse setor quando trabalhei na assessoria de agricultura no Brasil e vi de primeira mão os desafios e avanços desse mercado. Uma questão que sempre surge é: como os Estados Unidos conseguem produzir 20% a mais de carne bovina com um rebanho que representa apenas metade do brasileiro? A resposta está em três pilares essenciais: genética avançada, nutrição intensificada e gestão orientada para resultados.
1. Genética Avançada: O Impacto da Seleção e Melhoramento
Durante minha experiência, percebi como a genética faz toda a diferença na produtividade. Nos EUA, a seleção genética é levada a outro nível. Os pecuaristas investem fortemente em inseminação artificial e melhoramento genético, garantindo animais com crescimento acelerado, melhor conversão alimentar e maior rendimento de carcaça.
Além disso, a padronização das raças utilizadas, como Angus e Hereford, é um fator determinante. No Brasil, o Nelore domina a pecuária, sendo extremamente resistente e adaptado ao pasto, mas com rendimento de carne menor quando comparado às raças criadas nos EUA.
2. Nutrição Intensificada: A Estratégia do Confinamento
No Brasil, a cultura de criação a pasto ainda predomina, o que traz benefícios ambientais e sustentáveis, mas também limita o ganho de peso dos animais. Nos EUA, a realidade é outra: os bovinos passam cerca de 180 dias em confinamento, alimentando-se de dietas ricas em grãos, como milho e soja, otimizando a conversão alimentar e acelerando o ganho de peso. O resultado? Animais que chegam ao abate com mais de 600 kg, enquanto no Brasil, essa média gira em torno de 450 kg.
Lembro de ouvir produtores brasileiros discutindo os desafios de implementar a nutrição intensificada no Brasil, especialmente devido ao custo da ração e à necessidade de adaptação das propriedades rurais. Felizmente, essa mudança já está acontecendo em muitas regiões.
3. Gestão Orientada para Resultados: O Papel da Tecnologia
Se tem algo que aprendi no setor agrícola é que gestão eficiente faz toda a diferença. Nos Estados Unidos, os pecuaristas utilizam dados e tecnologia de ponta para monitorar o desempenho de cada animal, garantindo que a alimentação, o manejo e até o momento do abate sejam otimizados ao máximo.
Por exemplo, os feedlots americanos operam com precisão, usando sensores e sistemas de rastreamento para medir ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar. No Brasil, essa mentalidade está crescendo, e grandes pecuaristas já começaram a adotar ferramentas tecnológicas para melhorar seus resultados.
E No Brasil? O Cenário Está em Transformação
O Brasil possui 234 milhões de cabeças de gado, um dos maiores rebanhos do mundo. Porém, nossa produção anual de carne ainda está abaixo dos EUA, que conseguem produzir 12 milhões de toneladas anuais, enquanto nós ficamos em 10 milhões de toneladas.
No entanto, o setor está mudando rapidamente. Conheço pecuaristas que já adotaram tecnologias de intensificação, como a recria a pasto eficiente, melhoramento genético e integração lavoura-pecuária, reduzindo custos e aumentando a produtividade.
– Recria a pasto mais eficiente: otimiza o ganho de peso antes do confinamento.
– Genética superior: mais fazendas estão investindo em inseminação artificial e cruzamentos direcionados.
– Confinamento crescente: produtores enxergam no confinamento um caminho para encurtar o ciclo de engorda.
O que vejo no Brasil hoje me anima. O potencial de crescimento da nossa pecuária é gigantesco, e se há algo que aprendi na assessoria de agricultura, é que os pecuaristas brasileiros são resilientes e inovadores. Com mais investimentos em tecnologia, nutrição e gestão eficiente, temos tudo para não só competir, mas até superar a eficiência americana.
O Futuro da Pecuária Brasileira
Com um mercado global exigente e consumidor cada vez mais atento à sustentabilidade, a pecuária brasileira precisa encontrar um equilíbrio entre produção em larga escala e preservação ambiental. E, felizmente, isso já está em curso. A adoção de práticas modernas pode transformar o Brasil na maior potência da pecuária mundial.
A experiência de acompanhar o setor agrícola de perto me mostrou que os Estados Unidos produzem mais carne com menos bois porque seu modelo é altamente intensivo e tecnológico. Mas a boa notícia é que o Brasil já está trilhando esse caminho, e temos uma vantagem: nosso território extenso e clima favorável.
Se continuarmos investindo em inovação, manejo inteligente e nutrição de precisão, a pecuária brasileira tem tudo para se tornar ainda mais competitiva no cenário global.
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