Por Claudia Zogheib
E se… é uma palavra que tem o poder de nos assombrar uma vida inteira. Sugere mais de uma possibilidade, que ficamos na dúvida, e se colocadas lado a lado nos indagamos se a escolha feita estava a serviço de quem: convenções sociais, quem nos aconselhou, ou nós mesmos. E se eu tivesse ido lá? E se eu tivesse dito sim? E se minha escolha fosse aquela? Quais foram as fontes de prazer ou realidade que determinaram tal escolha?
Quando ainda pensamos nas escolhas que não fizemos e as mesmas continuam a nos assombrar, talvez seja um indício para repensarmos, e quem sabe, mudarmos a direção. Muitas delas exprimem uma realidade profunda, que determinam resultados em que nos orgulhamos ou nos arrependemos.
Quem nunca escolheu algo pelo qual se arrependeu? Seja uma pessoa, um objeto, um emprego, uma viagem, ou犀利士
um momento da vida? Diante de uma oportunidade, todos nós já nos arrependemos pelas coisas que, deliberadamente ou não, deixamos passar.
Perder é sempre tarefa difícil, e mesmo se julgamos ter a “liberdade” para realizar nossas escolhas, o fato é que grande parte delas são conduzidas por dois grandes impulsos inconscientes: o desejo e o medo.
Para Freud, o desejo é um movimento em direção à marca psíquica deixada pela vivência da satisfação que acalmou uma necessidade. Já o medo, pode ter uma fase de indeterminação que é a angústia.
Anular o medo fingindo que ele não existe, não observando o que nos causa este sentimento, pode nos levar a quadros de depressão, ansiedade entre outros, e em vez de fugir do medo, devemos pensar o medo, para entender o porquê dele, atravessar o medo.
Se a escolha que não fizemos continua a nos atormentar, talvez seja o momento de corrermos atrás do que ficou para trás, e o fato do “e se…” persistir ainda dentro de nós, talvez seja a maior razão para mudarmos a direção: um indício que fizemos escolhas erradas.
E se… sugere algo que ficou para trás, termos ficado na dúvida, e provavelmente que decidimos por imposições sociais, familiares, e nunca por nós mesmos. E se… agora, e se… depois, e se….
Trata-se de uma expressão que quando dita, num primeiro momento soa trivial visto que é pronunciada sem que se atenha a uma análise minuciosa em relação à sua empregabilidade: esta pequena palavra contém uma imensa possibilidade de situações que determinam onde estamos ou onde gostaríamos de estar.
Sugere sobretudo algo que ainda é forte e verdadeiro dentro de nós, afinal, uma escolha parte do ato de aceitar a responsabilidade dos próprios sentimentos, pensamentos e comportamentos, que são individuais, e diante da escolha consciente, precisamos encarar e nos responsabilizar pelas decisões tomadas, por isto, entre o “desejo e o medo” devemos equilibrar estas duas forças dentro de nós, e decidir por nós mesmos.
O desejo e o medo são conduzidos em grande parte pelo princípio do prazer e da realidade, e ambos são a base dos eventos psíquicos, duas formas de funcionamento mental. Portanto, em vez de queixar-se e lamentar-se pelo que não está funcionando, pense no “e se…” e decida por você mesmo.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: Fora da Ordem, de Caetano Veloso.
4 Comentários
Maravilhoso texto! Parabéns a revista por escolher excelente psicanalista.
Obrigada!
Mais um texto maravilhoso!! Obrigada Cláudia!
Eu que agradeço !