Por Claudia Zogheib
O Saint Valentine’s Day nasceu na Idade Média e sempre coincidiu com o primeiro dia de acasalamento dos pássarosonde os namorados usavam esta ocasião para deixar mensagens de amor na soleira da porta do ou da amada.
O amor está constantemente atualizando uma realidade contemporânea num mundo que ao mesmo tempo que é romântico e deseja viver uma grande história de amor, não estende este querer considerando a subjetividade e o desejo do outro.
Se por um lado as pessoas querem ter alguém para compartilhar a vida, ao se encontrarem e passado o momento de encantamento, uma realidade desconhecidatoma conta ao não reconhecer no outro aquilo que gostaria que ele fosse.
Uma das obras nas quais Freud mais discorre sobre o amor e sua relação com o que chamamos de objeto é “Narcisismo uma Introdução” onde ele diz que o amor é um estado que o sujeito atinge quando se sente igual a outra pessoa por quem se apaixonou, ou seja, ao amar passa a escolher um ideal que nunca conseguirá ter, e o que a pessoa faz é substituir o objeto idealizado da infância pelo novo, e por isto, quando está apaixonado, o outro parece perfeito e sem defeitos.
Na verdade, o que acontece é que ele nunca foi assim, apenas está super investido pela libido de quem está amando.
Para que uma relação amorosa seja capaz de atravessar o estágio de encantamento e se torne algo profundo é necessário que aja disposição interna para passar de um estágio para outro tendo presente que precisam se escolher diariamente nas individualidades de cada um, lembrando que quando se conheceram tinham ocupações individuais que precisam ser mantidas para não depositar no outro as próprias frustrações numa relação mimetizada.
Não se pode ter um relacionamento saudável sem ter em mente a realidade do outro e sobretudo sem investir tempo na relação para que se construam laços de qualidade e que sobrevivam ao tempo e aos momentos conturbados que sempre virão.
Cada vez mais lidamos com questões subjetivas que colocam a concretização no fracasso a mercê do próprio egoísmo, e o que se nota é que nem sempre queriam de fato as mesmas coisas dificultando manter o que foi combinado.
Por isto, para ter um relacionamento de qualidade é necessário que ambos tenham desejos claros e objetivos e respeitem os combinados não perdendo de vista que depois do enamorar-se vem uma fase de parceria que deve se basear no respeito, e quando o casal pretende ter filhos, precisam ter claro que eles percebem o entorno e se baseiam também nisto para constituir sua própria subjetividade.
Enamorar deve ser antes de tudo algo que tenha presente que uma relação não se sustenta somente pelo princípio do prazer mas pelo princípio da realidade ecoando todas vivências acumuladas pela vida e que ao se escolherem, decidem construir a vida juntos enquanto conseguirem se escolher diariamente.
Música “Corazón de cristal” com Jorge Drexler.