Por Claudia Zogheib
A relação entre desejo e medo é um exemplo dos obstáculos sofridos nas experiências emocionais.
O medo parece ser um subproduto do desejo na medida em que passa a ser possível perceber que aquele que não deseja, não teme coisa alguma. Não é um afeto e nem mesmo um sentimento porque ele não estabelece vínculos. Por sentirmos medo, tentamos nos afastar de nossos desejos na tentativa de retomarmos o controle: esbarra o acesso, estabelece uma fronteira.
O desejo é um movimento em direção a vivência de uma satisfação que acalma uma necessidade. Quando desejamos algo, de alguma forma nos conectamos sentimentalmente em busca de satisfação.
Freud dizia que o neurótico não pode perceber as conexões importantes que ele estabelece porque as resistências o enganam pelas forças reprimidas onde o que se revela é o medo, nunca o desejo. Ele dizia que a neurose é a expressão de um conflito entre os desejos do nosso inconsciente. Certos impulsos inconscientes são incompatíveis com a realidade exterior, e a partir daí desenvolve-se um intenso estado de ansiedade, um mal estar geral.
Quando pensamos o desejo e o medo, muitas vezes ficamos entre duas forças que coabitam dentro de nós sem serem estabelecidas como habitantes da mesma existência. Estabelecemos uma fantasia entre o desejo e o medo que nem sempre é real, mas estão ligadas, e isto acontece porque afastamos a angustia.
Muitas vezes ficamos angustiados porque queremos satisfazer um desejo e ficamos com medo: que não se concretize, que passe o tempo. Persistimos identificados com nossos desejos, atribuindo a eles funções sem representatividade psíquica, mas sim, fruto de uma fantasia que mascara uma realidade: sofremos.
Acessar estes núcleos não são tarefas fáceis, mas somente enfrentando é que podemos acessar sua origem e transitar num caminho mais livre de acesso ao real sentido de nossa própria existência: se persiste um desejo, corra atrás de entende-lo. É este incômodo que devemos percorrer se queremos identificar a qualidade de nossos desejos, se devem ser validados, e qual a função atribuída ao medo que estamos sentindo, ou seja, por que ou por causa do que ou de quem estamos sentindo medo. Sem representatividade, permanecemos no plano da fantasia.
A coragem não reside em fazer tudo quem vem à cabeça, mas sim em escutar de onde emergem nossos desejos e medos, o que eles dizem sobre nós, e o real motivo que não alcançamos o que queremos.
Quando o desejo supera o medo, torna-se real: viajar, mudar o estilo de vida, o estado civil, a cor da nossa casa, o caminho de casa, a profissão, o trabalho, etc… mudar…
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “You Are The Sunshine Of My Life”, de Stevie Wonder.
犀利士
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