Por Gabriela Streb
Depois que passei dos cinquenta anos e perdi meus pais, sendo apenas eu e meu irmão ando pensando na velhice com mais afinco. As vezes tenho uma ponta de ciúme de amigas quando falam no grupo de WhatsApp dos irmãos. Meu grupo seria apenas de duas pessoas, eu e meu irmão nada tumultuado.
Mais cedo ou mais tarde todos nós iremos experimentar o território desconcertante da inutilidade. Só não irá passar por isso quem morrer cedo, antes de ficar velho.
É o movimento natural da vida. Acabamos abandonando afazeres que outrora eram muito importantes, o trabalho, a correria desenfreada para ganhar dinheiro e ter alguma futura segurança na velhice e tantos outros projetos que são colocados na lista: quando eu tiver tempo vou fazer. Então, não realizamos nossos planos e nossa lista de desejos tacitamente são abortados.
Perder a juventude acaba sendo a perda da própria utilidade que é uma consequência da idade que se chega.
Não entendo que isso seja um problema pois restará o significado como pessoa e esse, acredito, seja o maior desafio de quem está a seu lado.
Permanecerá sua história e legado que deverá ser suficiente para aqueles que lhe rodeiam.
Espero que isso seja o bastante para manter pessoas que me amem suportarem minha própria inutilidade sem que isso seja um fardo.
Tomara que durante a minha velhice eu tenha alguém para me colocar ao sol e principalmente para me tirar do sol, sem que eu seja esquecida na rua.
Penso que só o amor dará condições de me cuidarem até o fim.
Tomara que eu tenha aquele que me diga: “você não serve para nada, mas eu não sei viver sem você!”