Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do Florida Review. A gente até imaginava – e torcia – por uma final assim com Verstappen e Hamilton decidindo o título na última prova, mas essa grande final ganhou ainda mais tempero com tudo o que aconteceu nas últimas corridas envolvendo os dois grandes rivais, especialmente no domingo passado na perigosa pista da Arábia Saudita.Que temporada foi essa? Quem diria que, depois de 21 corridas, dois pilotos de equipes rivais chegariam à última etapa do campeonato mais longo da história empatados em número de pontos? 369 pontos e meio para cada um.
Quando a fórmula 1 saiu do México para o Brasil, Max Verstappen tinha uma vantagem de 19 pontos e dos quatro últimos circuitos, pelo menos três deveriam favorecer o carro da Red Bull.
Mas, dali em diante, Hamilton ganhou três seguidas, e em pelo menos duas – Brasil e Arábia Saudita – enfrentando condições bem adversas.
Quem não se lembra de tudo o que aconteceu no Brasil, quando Hamilton foi punido na corrida sprint e na principal, mas, ainda assim, na soma das duas, ele conseguiu ultrapassar todos os pilotos do grid, alguns deles mais de uma vez? E com disputas polêmicas como aquela da primeira tentativa de ganhar a posição de Verstappen, quando os dois acabaram passando fora dos limites da pista. A corrida do Catar foi um pouco mais calma, mas domingo passado, na perigosa e veloz pista de rua de Jedá, aconteceu de tudo e mais um pouco na briga entre eles.
O lance mais polêmico foi aquele em que Verstappen escolheu a reta para devolver a posição a Hamilton, mas já planejando retomar a aceleração em seguida e tomar a posição de novo na próxima zona de abertura de asa. A recomendação que recebeu da equipe no rádio foi clara: “devolva a posição, mas obviamente de forma estratégica”. O holandês entendeu bem o recado, ficou o máximo de tempo possível no meio da pista e, quando saiu para o lado direito, freou bem forte e os dois acabaram se chocando.
Ali poderia ter acabado a corrida de Hamilton, que teve a asa dianteira quebrada, e também a de Verstappen, que correu o risco de ter um pneu furado. Mas o duelo continuou. Hamilton conseguiu recuperar o ritmo, se aproximou rapidamente e passou Verstappen, que tinha um pneu médio mais desgastado.
E o duelo não terminou aí. Depois de um pódio em que os dois não se olharam, e o holandês nem esperou o habitual banho de champanhe, que desta vez era o espumante sem álcool. Começaram as discussões entre as equipes Mercedes, Red Bull e os comissários, que tinham deixado o lance da batida entre eles para ser analisado depois da corrida.
E o resultado foi mais uma punição para Verstappen. Na análise da telemetria, os comissários entenderam que ele havia, num primeiro momento, tirado o pé, em seguida acelerado de novo e, aí, freado mais do que devia, com impacto de 2,6 g. Como os comissários têm evitado interferir numa disputa tão acirrada pelo titulo, a punição escolhida foi de dez segundos, o que não alterava o resultado da corrida.
Até hoje a única vez em que dois pilotos chegaram à decisão do titulo empatados em pontos foi em 1974. Emerson Fittipaldi, pela McLaren, e Clay Regazzoni, da Ferrari, tinham 52 pontos cada um. Emerson não ganhou a corrida, mas levou o título, que foi o segundo do Brasil na fórmula 1. Regazzoni bem que tentou jogar Emerson pra fora da pista, mas se deu mal e acabou tendo a suspensão quebrada.
Na fórmula 1 atual, a pontuação de cada corrida é bem maior, e o número de corridas é quase o dobro. Verstappen e Hamilton têm 369 pontos e meio. O holandês tem nove vitorias contra oito do inglês, mas isso só vale no caso de os dois não terminarem a corrida de domingo. Na pista, quem chegar na frente entre eles será o campeão, não importa em qual posição.
A esperança da Red Bull está no provável favoritismo do seu c威而鋼
arro, mas no papel isso deveria ter acontecido também no Brasil e na Arábia, e não deu certo. Pelo lado da Mercedes há aquela curiosidade que citamos aqui na semana passada: desde 2010 o piloto que foi pole em uma pista nova na temporada acabou como campeão e Hamilton foi pole no Catar e em Jedá. Mas o ponto mais forte mesmo está no heptacampeão, que vem numa arrancada incrível desde o GP de São Paulo. Venceu três seguidas. Agora é a hora do tudo ou nada.
Seja qual for o vencedor do ano, será um resultado justo. Verstappen foi quem liderou mais tempo. Ele tomou a ponta do campeonato na quinta corrida em Mônaco, perdeu a liderança na Hungria, recuperou com uma grande corrida em casa, na Holanda, chegou a perder de novo por apenas uma corrida, na Rússia, onde teve que trocar motor, mas desde a Turquia vem se mantendo na frente já há seis corridas. Em número de voltas que ele liderou, a vantagem é bem maior: 651 voltas, contra 246 de Hamilton.
Mesmo com tudo isso, é impossível apostar em um ou em outro. Tudo o que o torcedor não quer ver é o campeonato terminando em uma batida entre eles dois, como aconteceu em 1989 e 90 no duelo entre Senna e Prost. O francês jogou o carro pra cima do Senna em 89, e Senna devolveu a batida no ano seguinte. Foi assim também na decisão de 1994 quando Michael Schumacher jogou o carro pra cima de Damon Hill, e se repetiu em 97, com o mesmo Schumacher tentando deter Jacques Villeneuve no seu estilo, só que desta vez não deu certo: mesmo ficando com as marcas da roda de Schumacher na lateral da sua Williams, Villeneuve conseguiu se manter na pista e foi campeão.
O que todo fã de fórmula 1 quer ver, ao final de um campeonato como este, é uma disputa limpa. Mesmo que, nas últimas etapas, a disputa tenha se tornado uma guerra. A conta é muito simples: entre os dois, o campeão será aquele que terminar na frente do outro, nenhum deles precisa vencer.
O ideal é que uma decisão como esta acontecesse numa pista com muitos pontos de ultrapassagem, mas não é o caso de Abu Dhabi, uma pista moderna, bonita, muito segura, mas extremamente travada. Parece até que estavam adivinhando que Abu Dhabi seria o local dessa decisão. Desde o começo do ano os organizadores tomaram para a frente um projeto de mudar algumas das curvas mais lentas do circuito. Por exemplo, a chicane que formava as curvas 5 e 6 – agora foi transformada em uma reta que leva ao grampo da nova curva cinco, também um pouco mais aberta.
Na sequência, no lugar de um cotovelo bem lento, a pista foi alargada para aumentar a velocidade na reta que vem a seguir. O complexo das curvas 11, 12 e 13 deu lugar a apenas uma curva longa e ligeiramente inclinada. E também as quatro curvas que circundam o hotel Yas Marina foram ligeiramente mais abertas.
Com todas essas novidades, o número de curvas diminuiu de 21 para 16 e o circuito foi encurtado em 273 metros. A distância de 5.554 metros desde a inauguração em 2009, agora passar a ser de 5.281 metros. Com a pista mais curta, o número de voltas da corrida aumenta de 55 para 58 e estima-se que o tempo de volta diminua em até 14 segundos. É uma diferença muito grande, tornando a pista bem mais rápida do que na antiga configuração.
O complexo modernista que abriga o circuito, o hotel e o Ferrari World é de uma beleza extraordinária. Cercado por uma marina, o local é luxuoso, imponente e extremamente agradável. A ideia, doze anos atrás, foi mesmo criar no Oriente Médio um grande prêmio que rivalizasse com o de Mônaco.
O espetáculo de luzes é deslumbrante. A largada acontece pouco antes do pôr do sol e, quando anoitece, o show de luzes enriquece o GP de encerramento.
Abu Dhabi foi fundada em 1761 por líderes de uma tribo da região. A principal atividade econômica da ilha era o comércio de pérolas coletadas por pescadores e mergulhadores da região do Golfo Pérsico.
O ponto de virada foi a descoberta do petróleo no final dos anos 1950. Abu Dhabi se desenvolveu, os Emirados Árabes Unidos tornaram-se independentes da Grã-Bretanha em 1971, ganhando cada vez mais importância no século 21.
Hoje, o país é o sétimo maior produtor mundial de petróleo e a capital uma das cidades mais ricas do mundo, com cerca de um milhão e meio de habitantes, 80% deles estrangeiros ou expatriados.
Campeonato de Pilotos
A guerra aberta no GP da Arábia Saudita confirmou a boa fase de Hamilton. Houve um momento, antes da metade do campeonato, em que a vantagem de Verstappen chegou a ser de 32 pontos. Três corridas atrás, terminada a classificação sprint do sábado em Interlagos, era de 21. Agora está zerada e qualquer um dos dois pode ser o campeão.
Campeonato de Construtores
Entre os construtores, a Mercedes AMG Petronas respirou um pouco com seus dois pilotos no pódio. A vantagem para a Red Bull foi a 28 pontos e ela está com a mão na taça pela oitava vez consecutiva.
A briga entre Ferrari e McLaren pelo terceiro lugar já era. Com 38 pontos e meio de vantagem, a Ferrari não perde mais a posição.
A Alpine também se consolidou na quinta posição, com 29 pontos à frente da Alpha Tauri. A Aston Martin também tem garantido o sétimo lugar com 77. A Williams tem 23 pontos, a Alfa Romeo agora tem 13, e a Haas, que viu seus dois pilotos envolvidos em acidentes na Arábia, deve mesmo fechar o ano zerada.
Aviso para os madrugadores: os horários matinais estão de volta. Confira todos os horários do final de semana no meu Instagram, @regileme, sempre lembrando que nos EUA corrida e treinos de Abu Dhabi poderão ser acompanhados ao vivo pelo app F1 TV, com áudio em português comigo e companheiros da Band.
Mais uma vez obrigado pela companhia e não se esqueça de se inscrever no meu canal AutoMotor com Reginaldo Leme no YouTube, para acompanhar, inclusive, o Batendo Roda com Rubinho Barrichello e uma novidade que vem chamando a atenção, que é o Lendas da Fórmula 1, já com dois episódios no ar: um sobre José Carlos Pace e outro sobre Gilles Villeneuve.
E vamos à grande decisão, do jeito que o torcedor queria. Cada um por si, resolvendo a parada na pista. Seja qual for o seu preferido, desejo a todos uma corrida espetacular.
Grande abraço a todos!