Por Maria Emilia Voss,
Uma grande manifestação popular ocorreu em 26 de novembro na tradicional Avenida Paulista, em São Paulo, Capital. Esse evento marcou o retorno das pessoas às ruas após a trágica e covarde prisão de quase 2000 manifestantes. Esses manifestantes permaneceram pacificamente por 70 dias, expressando sua indignação com o resultado das eleições de 2022.
As prisões de 8 de janeiro deste ano seguiram a orientação de Nicolau Maquiavel: ‘o mal de uma vez, o bem aos poucos’. Assim, de forma assustadora e única na história, calaram cidadãos tachados como ‘terroristas’: idosos, mulheres, jovens e pessoas comuns. Desses presos, muitos com doenças graves ou em tratamento médico, um deles, Cleriston Pereira da Cunha, de 46 anos, tinha um pedido de revogação de sua prisão desde 11 de janeiro e compareceu 36 vezes ao serviço de atendimento médico do presídio Papuda. Apesar de ter solicitado atendimento de urgência por não se sentir bem durante a madrugada que antecedeu seu óbito, e com pedido de soltura já homologado pela PGR há mais de 3 meses, sofreu um mal súbito decorrente de sua doença, que ceifou sua vida enquanto estava sob custódia do Estado.
Muitos se levantaram, apontando os responsáveis pela morte do preso político. Sabe-se que está nas mãos do presidente do Senado a decisão de pedir à PGR o afastamento daqueles que foram lenientes em não atender com a urgência devida o pedido da defesa desse preso político.
Então, o que aconteceu? Alguns parlamentares brasileiros, representantes dignos de seus eleitores, viajaram para longe a fim de fazer queixas a organismos internacionais como a ONU, conhecida por ser partidária da extrema progressista. A ONU nunca fez nada pelos venezuelanos e, ao que tudo indica, nada fará pelos brasileiros.
Esses mesmos parlamentares esqueceram, ou ainda não perceberam, que estamos em uma guerra cruel. Enquanto estavam em um palanque de carro de som na Avenida Paulista, a esquerda articulava estratégias para desviar o foco dos graves problemas relacionados a toda essa situação.
O governo atual anunciou pela mídia a indicação de Flávio Dino, atual ministro da Justiça, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Ele é um político que ignorou convocações da CPMI, não entregou material gravado pelas câmeras de segurança de seu ministério para perícia, visitou comunidades controladas pelo tráfico no Rio de Janeiro, e debochou dos cidadãos mais de uma vez, um verdadeiro escárnio. Parece ser uma manobra para desviar a atenção do caso Cleriston.
Hoje, só se fala nisso. Todas as mídias estão repletas de pedidos de assinaturas, protestos, debates, discursos e mais discursos. E Cleriston? Esquecido.
A esquerda, que manteve viva a memória de Marielle Franco, agora destaca Flávio Dino, enquanto Cleriston será esquecido no berço esplêndido.
Rodrigo Pacheco, presidente do Parlamento, viajou para Dubai na comitiva presidencial. Será que ele realmente pautará algo contra os responsáveis? Ele, que tem as mãos sujas por não ter feito nada antes para impedir que as atrocidades continuassem em outro poder?
O dia seguinte, ‘The Day After’, trouxe um gosto de ressaca, a sensação de ter feito tudo errado, como quando se bebe demais e fica um vazio na memória.
O povo acordou na segunda-feira com um Dino confortavelmente deitado em sua cama, sem se lembrar como ele foi parar ali. Sim, enquanto nossos parlamentares discursavam para milhares de pessoas, o governo nos fez de idiotas, e os que podem fazer algo foram se divertir em Dubai com tudo pago por nós.
Gostaria muito que, durante a ausência deles, aqueles que os substituem usem a prer
rogativa de seus cargos (que ocupam provisoriamente) para agir. Quem os pressionará?
Nossa direita é imatura, manipulável e cheia de infiltrados que nos desviam do que deveríamos fazer. Se nada for feito para honrar a memória de Cleriston, a esquerda e seus aliados sairão fortalecidos.
Nem a dignidade nos restará, pois a cada dia, desmotivados e empobrecidos, nos acostumaremos com a própria vergonha.