Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do Florida Review, enquanto a Ferrari ainda tenta descobrir o que aconteceu em Baku, a Red Bull vai para o Canadá com mais folga na liderança de pilotos e equipes e, agora, com seus dois pilotos, Max Verstappen e Sérgio Perez, na ponta da tabela.
Que fase, a da Ferrari. Depois de pontuar mal em Mônaco, ainda vê a esperança de um bom resultado virar fumaça em Baku para seus dois pilotos. Resultado: uma goleada de 44 a zero, porque a Red Bull conseguiu uma pontuação plena: fez 25 com a vitoria de Verstappen, 18 com o segundo lugar de Perez, e mais o ponto extra da volta mais rápida, que ficou com o mexicano.
É a primeira vez que a equipe fica no zero, mas é a terceira dobradinha da Red Bull no ano.
Agora, a fórmula 1 cruza o Atlântico para desfrutar de um dos gepês mais festivos da temporada.
O Canadá faz parte do mundial desde 1967, mas ficou alguns anos sem o gepê, como aconteceu em 1975 e, mais tarde, em 87 e 2009. Além dos dois últimos anos por conta da pandemia.
Antes de se transferir para Montreal, o gepê foi disputado em dois outros circuitos.
No início a formula 1 conheceu a cidade de Toronto e seu circuito Mosport Park. E, depois, houve um revezamento com Mont Tremblant, aliás recentemente comprado pelo milionário Lawrence Strol.
O circuito da Ilha de Notre-Dame, que foi sede dos jogos olímpicos de 1976 em Montreal, recebeu seu primeiro gepê em 1978 e quem venceu naquela estreia foi o piloto da casa, Gilles Villeneuve e o público canadense foi ao delírio com o piloto da Ferrari.
Dois anos mais tarde, quando o Canadá, a Ferrari e a fórmula 1 perderam o excepcional Gilles Villeneuve, o circuito foi rebatizado com o nome do piloto e até hoje mantém na linha de chegada a inscrição pintada no asfalto – “Salut, Gilles”.
A Ilha de Notre Dame já recebeu 40 edições do gepê, que várias vezes teve resultados surpreendentes. Por isso, se alguém torce para ver um vencedor diferente, ou até mesmo um vencedor inédito, o Canadá é o melhor lugar para isso.
Pode ser coincidência, mas os números são interessantes. Seis pilotos conquistaram ali a sua primeira vitória na fórmula 1 começando pelo próprio Gilles Villeneuve em 78. Foi assim também com Thierry Boutsen em 89, Jean Alesi naquela edição inesquecível de 95 em 必利勁
que ele conquistou sua única vitória na carreira e foi ali que aconteceu em 2007 a primeira das 103 vitórias de Lewis Hamilton. Era a sua sexta corrida na fórmula 1. Outros dois que venceram pela primeira vez em Montreal foram Robert Kubica e Daniel Ricciardo. Do Kubica a gente volta a falar mais adiante.
Pra falar em surpresa, não dá para esquecer aquela corrida de 2011 em que aconteceu de tudo e, em meio a seguidas bandeiras vermelhas, a vitoria acabou nas mãos de Jenson Button, que chegou a ocupar o vigésimo terceiro lugar.
O gepê do Canadá ficou marcado também pelo pavoroso acidente de Robert Kubica em 2007. Ele perdeu o controle do carro, bateu de frente na proteção interna e, já com o carro se desintegrando, capotou várias vezes e, quando parou, só restava a célula de sobrevivencia. Por milagre, Kubica não sofreu mais do que um ferimento no tornozelo tanto que ele queria correr o gepê do domingo seguinte em Indianápolis, mas foi vetado pelos médicos da FIA.
Mas se Montreal marcou esse triste momento para Kubica, no ano seguinte deu a ele a alegria da primeira vitória, que acabou sendo a única dele. Mais triste ainda foi o acidente que matou o italiano Ricardo Paletti em 1982. Está fazendo agora 40 anos. Era o seu segundo gepê. Na largada, a Ferrari do pole position Didier Pironi apagou e os pilotos de trás foram desviando. Paletti não teve tempo. Ele bateu na traseira da Ferrari a 180 km/h. Inconsciente e com ferimentos nas pernas e no tórax, ele era socorrido pelo doutor Sid Watkins e também por Pironi, mas por um vazamento de gasolina do tanque, de repente o carro pegou fogo. Paletti ainda foi levado para o hospital Royal Victoria, mas não resistiu.Ele tinha 24 anos.
Entre os maiores vencedores do gepê do Canadá há um empate: sete vitórias para Michael Schumacher e Lewis Hamilton. Nelson Piquet é o segundo na estatística com três vitórias, inclusive a última dele, em 1991. Essa não deixa de ser também uma surpresa. É que Nigel Mansell já se encaminhava tranquilo para receber a bandeirada em primeiro. Diminuiu tanto a velocidade que até acenava para o público, mas justamente por ter reduzido a velocidade daquela forma, a temperatura caiu muito e o motor da Williams apagou quando ele contornava o cotovelo, faltando um quilometro para a linha de chegada. Essa caiu no colo do Piquet. Jacky Ickx, Jackie Stewart, Alan Jones, Ayrton Senna e Sebastian Vettel venceram duas vezes.
Montreal é a segunda cidade mais populosa do Canadá, com um milhão e oitocentos mil habitantes, atrás apenas de Toronto. Mas é uma cidade vibrante, espetacular, dinâmica, extremamente agradável. Quando me perguntam para qual gepê vale a pena viajar, a resposta vem imediata: Montreal é imperdível.
Tudo bem que eu conheço a cidade sempre no verão, mas a vida por lá segue normal também no restante do ano, apesar das temperaturas bem baixas. No rigoroso inverno canadense elas atingem 20 graus negativos, mas há registros, de 1957, mostrando 37,9 graus negativos. É frio demais.
A cidade está plenamente preparada para viver a vida normalmente, mas no seu sub-solo. É isso mesmo. Existe uma cidade ao ar livre e outra subterrânea. Todas as estações de metrô têm suas áreas de lazer, com lojas, bares, restaurantes. As principais são rodeadas por shopping centers. Tudo é interligado por 32 quilômetros de túneis do metrô, inclusive escolas, academias, universidades e as próprias empresas têm ligação com o subterrâneo. Isso permite que a cidade não pare durante o inverno.
No verão, as temperaturas sobem, mas quando está muito quente para o padrão canadense, faz 26, 27 graus. É muito raro chegar a 30 graus. Esta é a época em que Montreal se transforma em uma verdadeira festa a céu aberto. A cidade ganha vida. Bares e restaurantes lotados, muita gente pelas ruas a pé e de bicicleta.A cidade tem 800 quilômetros de ciclovias. Querem outro número impressionante? Montreal é a cidade que tem o maior número de restaurantes per capita do Canadá e é a segunda de toda a América do Norte, só perdendo para Nova Iorque.
Os restaurantes preferidos dos pilotos são as cantinas italianas e isso não falta por lá. Já fui várias vezes com Nelson Piquet e Ayrton Senna – ou um, ou outro, nunca os dois juntos, claro…
Há os restaurantes mais sofisticados: o Blumenthal e a Maison Boulud, de cozinha contemporânea. Eu tenho meus preferidos: o Gibbys é uma brasserie imperdível, carnes e frutos do mar. É grande, com tres salões distintos. Maravilhoso. O mais espetacular é o da Emma. Vale a visita, não só pela cozinha, mas pelo ambiente. Imagine um restaurante em uma construção toda de pedra que no passado abrigou uma prisão feminina.
Hotéis .. São centenas. A formula1 costuma usar os de uma área hoteleira, ao mesmo tempo próxima do centro e da chamada Velha Montreal. Esta é, de longe, a parte mais interessante. Repleta de pequenos restaurantes, cafés, bares com música ao vivo. E o melhor é que se chega a pé na agradável Praça Saint François Xavier, ou a deslumbrante basilica de Notre-Dame.
É um lugar que recebe muito bem a fórmula 1 e sempre com atividades especiais para pilotos e mecânicos das equipes. A competição na raia com barcos construidos pelos mecânicos é tradicional. Tanto quanto foi uma partida de futebol que hoje não acontece mais. Era sempre um time de jornalistas contra o de pilotos.
O francês é a língua oficial da província de Quebec, da qual Montreal é a maior cidade. No entanto, dois em cada três habitantes falam também o inglês.
Montreal foi sede dos jogos olímpicos de verão de 1976, que foram um marco para o esporte. Pela primeira vez, uma ginasta fez uma apresentação perfeita. A romena Nadia Comaneci, então com 14 anos, espantou o mundo ao conquistar pela primeira vez na história uma nota dez.
Até então, a maior nota já registrada havia sido 9,95 e nem o placar eletrônico estava preparado para mostrar mais de três dígitos… A nota de comaneci apareceu como 1.00, mas foi o primeiro dez da história.
Foi também em Montreal, no Hotel Queen Elizabeth, durante o período de bed-in, no qual John Lennon escreveu a música Give peace a chance, em 1969, para protestar contra a guerra do Vietnã.
No campeonato, mais líder do que nunca, Max Verstappen soma agora 150 pontos e tem 21 de vantagem sobre o companheiro de equipe Sergio Perez, que soma 129. Perez superou Charles Leclerc na tabela por 13 pontos e a Ferrari vai ter que trabalhar muito para recuperar terreno.
A Ferrari zerou no Azerbaijão e a Red Bull somou todos os 44 pontos possíveis com a vitória de Verstappen, e o segundo lugar e a volta mais rápida de Perez. Com isso, abriu 80 pontos e disparou na frente.
Pela terceira corrida consecutiva, a Pirelli fornece os pneus da gama mais macia: como em Mônaco e Baku, os escolhidos são o c3, c4 e c5.
Será que a ferrari recupera terreno? Ou Max Verstappen abre ainda mais vantagem na ponta? Um novo vencedor, talvez, como é costume no Canadá?
Teremos essas respostas depois de 70 voltas de uma corrida sempre cheia de surpresas e vamos discutir tudo na segunda-feira a partir das 18 horas de Brasília no “Batendo roda com Rubinho Barrichello, mas fiquem de olho no meu instagram @regileme, em caso de qualquer mudança no horario, porque o Rubinho vai a Zandvoort assitir à corrida do filho Dudu, eu aviso.
É isso, meus amigos. Não aconteceu muita coisa na corrida de Baku, mas podem esperar de tudo do gepê do Canadá.
Quero deixar a todos o sentimento de gratidão. Nosso canal AutoMotor por Reginaldo Leme continua crescendo em audiência no YouTube e isso é o que nos dá força pra continuar nessa balada.
Um grande abraço a todos!