Claudia Zogheib
A série lançamento da Netflix, “Quem é Erin Carter” retrata a história de uma mulher que diante de um assalto revela um passado nada parecido com sua atual rotina pacata.
Sua reação à abordagem do assaltante faz com que seu disfarce caia por terra, mostrando um misterioso e violento passado que compromete além de si mesma, sua vida familiar e sobretudo de sua filha Harper que cresce num ambiente caótico e sem condições mínimas de sustentação emocional.
Embora Erin a tenha salvado e se esforce para dar o melhor para Harper, o que demonstra que ela tem ideia do que seria bom para a menina, suas atitudes desconexas não sustentam a percepção de sua própria função enquanto cuidadora.
No decorrer da trama ela dá sinais o tempo todo do desamparo que ela vivencia, sendo visível em seus desenhos e na maneira de se portar todo o medo, insegurança e desejo de tranquilidade, rotina e acolhimento, sentida como falta desde muito pequena, que mesmo tendo uma vida de família, tem a percepção do quanto sua mãe deixa para depois tudo o que diz respeito ao ambiente familiar.
Desde muito pequena Harper está exposta à insalubridade mental sendo salva por seu padrasto, e sua percepção diante da incumbência que assumiu deu a esta criança uma presença que foi sentida como experiência de amor, um rastro de luz que talvez ela nunca tenha sentido com clareza e coerência.
Em meio a tanta confusão e uma vida cheia de segredos, a falta de transparência delinquente é demonstrada na quantidade de situações que sua esposa esconde, onde muitos segredos foram construídos em colusão com a pequena Harper. Um prenúncio que tudo anda mal na vida de todos os envolvidos, mas sobretudo na irresponsabilidade da mãe enquanto coloca sua filha diante de vivências sem condições mínimas de saúde mental.
No final da primeira temporada algo acontece que coloca em xeque o quanto de amor por esta filha é realidade, mas o fato é que ninguém cresce bem num ambiente cheio de circunstâncias ambivalentes do ponto de vista das relações, com tantas transgressões e falta de rotina e verdade. O padrasto resgatou a menina dos escombros dando a ela um suave período brando, uma condição primordial de afeto e sustentação que toda criança necessita para crescer de maneira adequada e com saúde emocional.
O ambiente seguro é condição primordial que sustenta um bom desenvolvimento infantil, e no caso desta família, quem assegurou um ambiente minimamente desejável foi o padrasto.
Trata-se de uma série sujeita a muitas discussões e reflexões que nos mostra o quanto a violência pode afetar o desenvolvimento infantil, impactante quando estabelecemos relação diante das situações que assistimos diariamente em nossa sociedade: guerras, violência nas cidades, falta de modelos seguros para uma criança crescer em paz e com saúde mental.
A série ainda não tem confirmação se terá segunda temporada, mas do ponto de vista do desenvolvimento infantil, na primeira temporada tem muito material para discutir o tema.
Música, “Go Baby Go” com Nina Lee.
Foto, Netflix.