Por Claudia Zogheib
Estamos vivendo cada vez mais tempos rápidos. As coisas estão sempre mudando e em muitos momentos temos a sensação de não conseguirmos internalizar nossas vivências, e quem dirá elaborar os acontecimentos da nossa vida cotidiana.
Muitas vezes o mundo nos pede rapidez, agilidade, numa velocidade que não condiz com as expectativas naturais de sobrevivência, além de não nos permitir desfrutar das próprias conquistas.
Muito se corre, muito se trabalha, e pouco se desfruta. E enquanto engordamos o nosso baú vivemos menos, ficamos mais doentes, temos menos contato com a natureza, mais pílulas tomamos, amortecemos nossa capacidade de sentir. Trabalhamos para pagar a própria doença, e num piscar de olhos… o tempo passou.
O corpo a corpo, falha犀利士
r, se constranger, se deixar emocionar, ser visto por quem te emociona, por quem te enaltece, por quem se importa com as fragilidades, por quem te olha, te considera, enfim, todas estas coisas estão cada vez mais sendo terceirizadas pela permanência do ter que ser feliz, ter que conquistar, ter que agradar, ter que cumprir: o que e para quem?
Se a intenção for dar conta da experiência de vida apoiada na capacidade de atribuir-lhe sentido, talvez seja hora de diminuir a marcha, se permitir ser vulnerável, seja na idade que for, e aproveitar cada conquista a ponto de experenciar aquilo que é importante com a condição de nos levarmos a sério.
Se o mundo nos pede gestos, e se inicialmente foi pensado num sentido maior de existência, cuidar e ser cuidado deveria ser a palavra mágica do mundo civilizado.
O outro existe na medida em que nos olhamos, existimos à medida que olhamos o outro, e é nesta dinâmica que existe uma permanência de respeito em qualquer tipo de relação. Enquanto isto não acontece, padecemos da falta de contato com nós mesmos, do exagero de atribuições que nos impomos sem nos darmos conta de nós, e consequentemente do outro.
Precisamos ajustar o relógio para conseguirmos desfrutar do tempo, do que é simples, do que traz saúde mental.
Este texto foi escrito ao som da música “To the Mountains” de Lizzy McAlpine.
6 Comentários
Belíssima reflexão. O texto sobre o suicídio também foi excelente! Obrigado
Obrigada!!
Eu fico mal o dia que não caminho. É a maneira que eu encontro para incorporar o tempo. A escrita também me ajuda nessa espécie de ‘incorporação’.
Que bom! É muito bom encontrar nossos recursos internos para lidar com as demandas da vida né? Obrigado pelo seu comentário
Linda reflexão…as vezes é preciso para um pouco com está correria da vida…e olhar um pouco mas para nós…
Obrigada!