Por Gabriela Streb
Quando se fala em prisão, nosso pensamento voa até aquele indivíduo criminoso contumaz. Aquele pertencente a uma facção ou reincidente no crime. Não se pensa no indivíduo que tem seu emprego, filhos, vizinhos que tem uma vida regrada.
O caso da Boate Kiss é exemplo disso. Não condenando ou absolvendo qualquer um do犀利士
s réus, houve o enfrentamento dessas pessoas pelo rigoroso Júri Popular. Imaginem-se ficar naquele banco.
Anos atrás – permito-me contar este fato porque meu pai é falecido – seu chefe pediu que ele fosse até sua casa buscar algumas chaves esquecidas. Meu pai atravessou a cidade e na volta, dirigindo o carro do chefe, foi parado numa blitz da Brigada Militar.
Mostrou os documentos, pediram para abrir o porta-luvas e lá havia uma pistola de uso exclusivo do exército. Em regra, crime inafiançável e prisão em flagrante. Mesmo que dissesse várias vezes que o carro era emprestado e a arma não era sua, foi preso e conduzido ao IGP para o exame corpo delito.
A perita pediu para ele se despir e lhe informou que o exame era para conduzi-lo ao Presídio Central. Finalmente entendeu a gravidade da situação.
Não chegou a ser levado ao presídio porque a viatura já havia saído para levar outros presos. Iria no outro dia. Meu pai tinha diabetes e um inspetor na delegacia, compadecido com seu pranto, comprou-lhe um lanche porque estava passando mal. Na madrugada teve sua prisão relaxada por ordem judicial e respondeu a este processo por anos até ser absolvido.
Quem de nós nunca pegou um carro emprestado? Quantas vezes no Aliança houve festas com fogos? Às vezes não são só os maus que são presos. Ficou a lição para mim e ao meu pai, a vergonha.