Quem foi Bernard Mandeville?
Bernard Mandeville foi um filósofo e escritor anglo-holandês nascido em 1670 em Roterdã, Países Baixos. Ele é mais conhecido por sua obra “A Fábula das Abelhas: Vícios Privados, Benefícios Públicos”, publicada inicialmente em 1714. Mandeville estudou medicina e filosofia na Universidade de Leiden antes de se mudar para Londres, onde passou a maior parte de sua vida adulta.
Mandeville é uma figura controversa na história da filosofia e da economia por suas ideias provocantes sobre a moralidade, a sociedade e a natureza humana. Ele desafiou as noções convencionais de virtude e vício, argumentando que os vícios individuais poderiam, paradoxalmente, contribuir para a prosperidade pública. Essa teoria contradizia os ensinamentos éticos tradicionais, que enfatizavam a virtude como o alicerce de uma sociedade saudável.
Em “A Fábula das Abelhas”, Mandeville usa a alegoria de uma colmeia para explorar essa ideia. A colmeia serve como uma metáfora para a sociedade humana, mostrando como a corrupção e o egoísmo individual podem, em certas circunstâncias, conduzir a um bem maior e mais complexo na escala social. A obra teve uma influência significativa em pensadores posteriores, incluindo Adam Smith, um dos fundadores da economia moderna.
Embora suas ideias fossem polêmicas, a contribuição de Mandeville para a filosofia moral e econômica é inegável. Ele abriu o caminho para uma série de debates sobre a relação entre ética e economia, que continuam relevantes até hoje.
A Fábula das Abelhas de Bernard Mandeville:Prosperidade, Virtude e o Delicado Equilíbrio da Vida
Uma colmeia espaçosa bem abastecida com abelhas,
Que viviam em luxo e facilidade;
E ainda tão famosas por leis e armas,
Quanto por gerar grandes e precoces enxames;
Era considerada o grande berço
Das ciências e da indústria.
Nenhuma abelha tinha melhor governo,
Mais inconstância ou menos contentamento.
Elas não eram escravas da tirania,
Nem governadas pela selvagem democracia;
Mas reis, que não poderiam errar, porque
Seu poder era limitado por leis.
A “colmeia” é corrupta, mas próspera, ainda assim ela reclama da falta de virtude. Um poder superior decide dar-lhes o que pedem:
Mas Júpiter, movido com indignação,
Finalmente, com raiva, jurou que se livraria
Da colmeia barulhenta de fraude, e o fez.
No momento em que parte,
E a honestidade preenche todos os seus corações;
Isso resulta em uma rápida perda de prosperidade, embora a colmeia recém-virtuosa não se importe:
Pois muitas milhares de abelhas foram perdidas.
Endurecidas com trabalhos e exercícios,
Elas consideravam a própria facilidade um vício;
O que tanto melhorou sua temperança;
Que, para evitar a extravagância,
Elas voaram para uma árvore oca,
Abençoadas com contentamento e honestidade.
O poema termina com uma frase famosa:
A pura virtude sozinha não pode fazer as nações viverem
Em esplendor; aqueles que gostariam de reviver
Uma Idade de Ouro, devem ser tão livres,
Para bolotas, quanto para honestidade.
O Enigma da Colmeia: Prosperidade, Corrupção e a Busca pelo Equilíbrio
“A Fábula das Abelhas” de Bernard Mandeville não é apenas um conto sobre um grupo de insetos laboriosos; é uma lente através da qual podemos observar as complexidades da sociedade humana. A colmeia retratada inicialmente é próspera, mas também altamente corrupta.
A Prosperidade Envenenada: O Lado Obscuro da Colmeia
Ao olhar mais de perto essa prosperidade, percebemos que ela é manchada pela corrupção. As abelhas estão envolvidas em atividades enganosas e egoístas para acumular mais recursos para si mesmas. Pode-se fazer uma analogia com sociedades humanas onde a corrupção é endêmica; locais onde o suborno, a evasão fiscal e outros atos corruptos tornam-se normas sociais.
A prosperidade desta colmeia é semelhante à de um país rico em recursos naturais, mas atolado em corrupção, onde o bem-estar da população é sacrificado para o enriquecimento de uma pequena elite. Esta prosperidade, portanto, é uma espécie de ilusão, uma máscara que esconde uma série de problemas éticos e sociais.
A Virtude na Pobreza: O Renascimento da Colmeia
Depois da intervenção divina do deus Jove, a colmeia passa por uma transformação drástica. As abelhas corruptas são substituídas por abelhas virtuosas, e uma nova ordem social emerge. Essa nova colmeia, embora mais pobre em termos materiais, é rica em virtudes como honestidade, altruísmo e justiça.
Imagine uma comunidade onde cada pessoa age para o benefício coletivo, mesmo que isso signifique sacrificar o ganho pessoal. Tal sociedade pode não ser próspera materialmente, mas é próspera em termos de valores morais e éticos.
O Equilíbrio entre Virtude e Prosperidade
Mandeville nos mostra que nem a prosperidade material nem uma moralidade rígida são suficientes para criar uma sociedade saudável. Em vez disso, ele argumenta pela importância do equilíbrio, uma mistura de prosperidade e virtude que pode sustentar uma comunidade de forma equitativa.
Conclusão: A Sabedoria do Meio-Termo
O conto de Mandeville nos leva a refletir sobre a importância do equilíbrio na construção de uma sociedade melhor. Nem a prosperidade a qualquer custo nem a virtude isolada são soluções. O “meio-termo áureo”, um conceito já bem conhecido na filosofia, nos oferece uma terceira via, uma que equilibra os imperativos materiais e éticos para criar uma sociedade verdadeiramente próspera e justa.