Por Claudia Zogheib
No segundo domingo de agosto celebramos no Brasil o dia dos pais. Uma data com significado que transcende o individual e que nos proporciona pensarmos o que de fato significa a paternidade.
Ter um pai e uma mãe são conquistas e aquisições posteriores ao dia do nascimento podendo ocorrer ou não: nascemos órfãos, e ser sonhado, significa participar da vida mental do outro.
Freud se valeu do conceito da paternidade para descrever não só a constituição do su犀利士
jeito a partir do Édipo, mas além disto, a origem e o destino da própria cultura. Ele dizia que quando um bebê vem ao mundo três pessoas desejam: o pai, a mãe e o bebê. Esta frase é uma tentativa de explicar a força em que está envolvida a concepção e a vida, e a importância de um pai na vida de seu filho.
O exercício da função paterna pressupõe muito mais do que a simples presença masculina, e quando se fala de função, não se trata de um simples agente de paternidade biológica, mas sim de um operador simbólico estruturante, capaz de impactar na construção psíquica e no desenvolvimento de seu filho.
Assim, o distanciamento físico e/ou afetivo de um pai é refletido no filho em sentimentos de desvalorização, abandono, solidão, insegurança, baixa-estima e dificuldade nos relacionamentos que começam a ser percebidos na infância e interferem no seu desenvolvimento até a vida adulta.
É preciso que o pai deseje seus filhos, e na convivência em família a criança seja capaz de internalizar padrões de comportamentos e normas coerentes, valores sociais que sejam capazes, a partir deste modelo de relação, introduzir seu filho no mundo real.
Pais casados, pais solteiros, pais divorciados, pais biológicos, filhos planejados, filhos escapados, reprodução assistida, filhos adotados: estas são algumas das situações em que o indivíduo pode estar enquadrado em sua experiência de nascimento, mas quando falamos em função, o enquadre para os pais é único e intransferível enquanto estamos diante de uma relação de extrema importância para o filho, que necessita de um modelo permanente.
A função paterna se mantém ao longo da vida mudando apenas de intensidade e de importância ao longo do tempo, e deixar de ser fundamental deve ser um objetivo da função paterna, mas para chegar neste ponto, há de se percorrer um trajeto que em hipótese nenhuma deve ser terceirizado: quando se decide ser pai, há de ser pai para sempre.
Um pai introduz seu filho no mundo, e se esta experiência progride, este filho é alguém que divide sua realidade pessoal ao ponto de ser capaz de transformar e ser transformado pelo mundo e pela cultura.
Pais vivos, pais mortos: o importante é que eles tenham conseguido estabelecer uma relação real, participativa, transformadora para ambos.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música “Muito Romântico” versão remasterizada, de Roberto Carlos.
2 Comentários
Parabéns pelo profissionalismo, empatia e sensibilidade!
Belíssimo texto!
Nos dias atuais faz-se necessário destacar o quão importante e pertinente é a figura masculina na vida da criança.
Obrigada!!