Por Claudia Zogheib
A forma como lidamos com a nossa vida demonstra muito qual a relação que estabelecemos com nossas questões internas. Mudar de vida, de cidade, de emprego, de carreira, de estado civil, são situações que muitos enfrentam inevitavelmente, e nessas mudanças estão impressas todas as vivências que acumulamos ao longo do tempo.
Cindir com o passado, com as dores, alegrias é no mínimo uma forma equivocada de não nos conectarmos com nós mesmos, e se não atualizamos nossas vivência樂威壯
s, é quase certo que cometeremos os mesmos erros, mesmo estando vivenciando novas situações.
Muitas vezes, estimulados pelas demandas do presente, cindimos com uma parte importante de quem somos. Assim, atribuímos culpas socialmente aceitas, e passamos a editar crenças e valores que sejam válidos ao mundo presente, isto é, deixamos uma parte importante de quem somos guardadas no enorme baú do nosso mundo mental, estimulados muitas vezes por um presente de frugalidades, novidades, pelo apelo do novo.
Por cisão, termo que foi também utilizado por Freud para designar um fenômeno mental com fins defensivos que ocorre no Ego, ocorre a coexistência de duas atitudes mentais em relação a um aspecto da realidade interior ou exterior, que justifica cindir com a realidade passada, para viver a realidade que desejamos no presente.
O conflito está no fato de que não existe realidade presente que não traga na memória inconsciente resquícios do passado, e neste ponto, negar o passado é negar o presente e nós mesmos.
A forma mais coerente de nos conectarmos com nosso mundo interno exige que possamos viver de forma aceitável às exigências do ego, com atitudes que nos correlacionem ao passado, e que no presente sejam manifestações de transformação e contato que adquirimos ao longo do tempo: o presente transforma aquilo que não aceitamos e que não foi bom no passado. Não é uma cisão, e sim uma transformação.
Ao contrário, estaríamos repetindo atitudes do passado, e o pior, muitas vezes sem nos darmos conta disto.
É comum observarmos atitudes assim, e constantemente nos deparamos com situações e vivências contraditórias. E diante de situações assim a pergunta que fica é: por que ajo desta forma? qual a função?
Ao final, acabamos por perceber que a cisão só nos cria problemas futuros. Senão em nós, com certeza em nossa convivência presente.
O problema não é mudar, viver, e sim como iremos mudar, de que forma iremos viver! Afinal, somos uma matéria prima intangível…
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Wave”, de A. Carlos Jobim, cantada por Renato Russo.