Por Claudia Zogheib
O mês de setembro é dedicado a prevenção do suicídio num olhar ampliado para a saúde mental, onde observamos que indivíduos com vários tipos de doenças psíquicas e comportamentos relacionados a autodestruição já pensaram em tirar sua própria vida.
No estado mental do suicida existe um conflito existencial entre a vontade de matar seu corpo e a vontade de sobreviver, existindo nele a esperança de estar num estado de não sofrimento, quando na realidade, tirando a própria vida não existirá nada além de um corpo sem vida.
Para Freud, a pulsão de morte é entendida como uma tendência que leva à eliminação da estimulação do organismo, tendo como objetivo a descarga, a falta de vida.
A existência congênita da morte ligada à vida condiciona uma suposta tendência a autodestruição, tendo a morte como um estado de repouso primitivo da matéria inorgânica. No instinto de morte, quanto mais o sujeito controla sua agressividade para o mundo exterior, mais severo e agressivo se torna o seu ideal do ego. É como se toda a carga de agressividade e destrutividade estivesse contida nele… para ele mesmo, o que faz parecer insuportável estar diante de tanta exigência interna, descontrolada e sem elaboração. Neste estado mental ele não está sob o domínio da lógica do senso comum, e estar engajado neste tipo de sentimento faz todo o sentido pensar em tirar a sua vida.
Cada indivíduo comete suicídio num contexto individual, e a raiva, a culpa, a falta de esperança, a vergonha, a humilhação, a autopunição, estar num ambiente que o inferioriza, são estados mentais frequentemente narrados por pessoas com ideias suicidas, sendo o suicídio uma tentativa de buscar um significado latente na maneira pela qual ele escolhe aniquilar sua própria vida.
Viver implica ter divergências, sentir dor, tristeza, prazer, desprazer, e no suicídio ele está num sono sem sonhos no qual acordar não é uma possibilidade atingível: quem tira sua vida não quer morrer, na verdade ele não suporta mais sofrer.
A cada 40 segundos no mundo uma pessoa tira a sua vida, e numa sociedade que normatiza o consumo do ter que ser feliz, bonito, capaz, ter o corpo perfeito, ser popular, engajado, ter a vida perfeita, o vazio existencial causado pelas exigências diante do que não se consegue atingir, não abre espaço para ser… simplesmente ser, sem a pretensão de seguir algum estereótipo.
Os transtornos que estão ligados ao suicídio necessitam serem acompanhados de perto, e o nosso olhar deve ser incondicional, sem desejo de interpretação, sem julgamentos, sem denominar o seu vazio. Não nos cabe julgar: ele sofre.
Em tempo, este texto foi escrito a必利勁
o som da música “Universo ao Meu Redor”, de Tribalistas.