Por Vivi Helney
Hoje conversando com um amigo, ele falou que andava assistindo de vez em quando a novela Pantanal, mas não entendia mais o português. Aí eu falei que é a linguagem de lá, e é quase como um dialeto. Bateu uma saudade! Saudade das porteiras intermináveis, do pé descalço e da botina pra montar a cavalo. Sim, meu pai não deixava ir com o pé descalça. Das pescarias na baía, e depois passar um tempo tirando os sanguessugas, correr atrás dos porquinhos, fazer armadilhas…. tenho pena dos bichos da casa, como eu e minhas irmãs atormentávamos as criaturas! Café da manhã ou almocinho como eles chamam lá, sempre tinha um arroz carreteiro, ovo frito, mate queimado (feito na chocolateira), bolo, pãozinho pantaneiro. E o barulho da bicharada anunciando a chegada do sol.
Na frente da casa principal tem uma baía e no ângulo direito tem uma ilha, onde era um viveiro natural. Que imagem! Era de tirar o fôlego! De manhã a passarada ia embora, tinha de tudo, n犀利士
uvens de colhereiros, araras, tuiuiú, um monte de pássaros, mas sou péssima pra falar quais eram as espécies… Gostava da música que produziam, mas nunca me interessei muito pelo nome. Aquele ar limpo, aquele lugar isolado, e que não tem esquina pra você ir, as coisas são distantes, o céu passa a ser o seu limite. A comida espetacular, quebra torto (uma espécie de café da manhã mais reforçado, que você sabe a hora que sai, mas não sabe a hora que volta). No almoço caribeu (carne seca com mandioca) macarrão de comitiva. O queijo nicola, os doces… adoro furrundu (doce de mamão verde) a conversa em volta da mesa, e o jeito simples e brincalhão das pessoas dali.
Me lembro uma vez que fomos buscar o gado mais distante, e tinha um peão mais velho, de nome Domingos, sempre quieto, mas o peguei fazendo de tudo para não rir. Porque voltando com o gado a noite, o gado estava meio quente eu sentia que ia estourar (é quando o gado sai correndo para todos os lados) e a peãozada sai atrás. E o que eu sentia se realizou o gado estourou e foi peão pra tudo quanto é lado. Aí eu fui também, corri atrás de uma mancha branca, como uma louca, e pensava vou recuperar ao menos essa vaca…. resumo da historia: depois de alguns minutos eu só escuto “Oh Dona Viviani, sou Domingos!”, ele me deixou correndo e tocando por uns minutos o cavalo dele. Virei motivo de riso por um bom tempo.
E tem muita história ali, umas divertidas e outras tristes.
Hoje vou colocar uma receita do meu amigo e querido Chef Paulo Machado, que como filho de pantaneiro, é um grande pesquisador, junto com outros chefes, inclusive meu irmão Gustavo, levam a cozinha de Mato Grosso do sul e nossa cultura pra esse mundão de meu Deus.
Caribeú
400 g de carne seca
400 g de mandioca descascada e em cubinhos
2 cebolas picadas
2 tomates sem pele e sem sementes picado
1 pimentão vermelho picado
½ maço de salsinha picado
½ maço de coentro picado
Azeite de oliva a gosto, água quente
Sal e pimenta do reino moída a gosto.
Numa panela, refogue as cebolas no azeite e acrescente a carne lampinada. Doure bem. Junte a mandioca, também lampinada e o pimentão, refogue mais um pouco e cubra com água. Quando a mandioca estiver quase macia, acrescente os tomates, a salsinha e o coentro. Cozinhe até a mandioca ficar macia ao toque do garfo e o molho estiver mais espesso. Tempere com sal e pimenta e sirva o caribéu com arroz branco.
Receita tirada do livro “Cozinha Pantaneira” comitiva de sabores de Paulo Machado textos Cristina Couto e fotografia Luna Garcia
Nota do Editor: o tal amigo se chama Ialdo Belo que, depois de tantos anos fora, não entende mais o que falam na TV brasileira, principalmente na terra da Juma.
5 Comentários
Adorei seu texto Vivi,sem dúvida o Pantanal é um lugar mágico!!!
Oi Vivi, querida, parabéns, você me fez entrar no Pantanal com a alma, suas palavras me fizeram viajar, e sabes que estou muito longe do nosso Brasil, amei❣️😘😍💖👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
❤️❤️❤️❤️❤️😘
Amo, amo sua história sobre o Pantanal! Meu lugar favorito. Não sabia que o caribeu é tão bom para você. Temos o mesmo gosto pela cozinha Pantaneira comitiva.
Eta história Boa.Vivi fiquei imaginando você correndo sobre olombo de um cavalo. !
Querida .
Eu amo pantanal !