Por Claudia Zogheib
Os rituais estão quase sempre associados à religião ou misticismo, prática criada em torno da ideia de se estabelecer uma relação entre os seres humanos e a divindade, que indicam a passagem de um estado para outro. O caráter expressivo dos rituais, possibilitam descrever o que não se consegue expressar em palavras, estimulam o trabalho do luto, e desempenham importante papel diante da perda.
Sendo tão importante quanto necessário, fazem parte das inúmeras manifestações religiosas ou atos de finalização e passagem que tem por objetivo buscar uma interação dinâmica, facilitando nossa compreensão do processo, abrindo espaço para pensar a mudança.
Convivemos com os rituais desde o nascimento: aniversários, batizados, formaturas, casamentos, mortes, e em muitas tribos, os rituais da primeira menarca estabelece a passagem de uma fase para outra, atribuindo às mulheres virtudes ou poderes inerentes a maneira de agir: aos gestos, as fórmulas, aos símbolos.
Elisabeth Kübler Ross foi uma importante psiquiatra Suíça e em seu livro “Sobre a morte e o morrer” ela descreve as fases do luto que representam reações psíquicas de quem está vivenciando o luto ou de quem está enfrentando a morte, ferramentas que ajudam a lidar com a perspectiva da perda/morte. São elas: negação, isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na perda de um ente querido, o ritual fúnebre nos ajuda a processar a falta numa elaboração que se estabelece com o tempo e suas fases.
Vivenciar as fases do luto são ferramentas importantes no processo de desapego e ressignificação: o ritual nos permite a sobrevida do passado e a consolidação do futuro.
Desde a semana passada, todos os jornais, revistas e tvs do mundo noticiam a morte da rainha Elizabeth II. Milhares de pessoas acompanharam seu funeral, gesto que não só indica o quanto as pessoas gostam e se sentem tocadas pela simbologia que está presente na “cultura da realeza”, mas o quanto os rituais são ferramentas importantes de compreensão da passagem, da cultura e do tempo.
Na morte nos encontramos de alguma forma, exatamente por termos vivenciado ao longo de nossas vidas experiências de perdas, sem ter experenciado a morte: enquanto assistimos um ritual fúnebre, lembramos daqueles que se foram e atualizamos em nós o sentido de elaboração da perda.
Pensar a morte deveria ser uma construção do processo da vida que não deveríamos deixar de lidar. Se abrimos espaço para pensar a vida, de certa forma também nos preparamos para a morte, seja no dia em que ela resolver chegar.
Freud dizia: “Se quiseres suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte”.
Este texto foi escrito ao som da música “Woman” de John Lennon.
必利勁
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3 Comentários
Acabei de ficar sabendo que não vai ter mais esta maravilhosa revista, os textos desta psicanalista excepcional! Um talento desperdiçado. Muito triste!
Voltou de vez! 😊
Estamos aqui! Obrigada pelo carinho Marcela!