Por Dra. Leticia Sangaletti
A pergunta parece simples, mas esconde uma revolução silenciosa acontecendo bem diante dos nossos olhos — e teclados.
Estamos vivendo uma era em que a inteligência artificial não é mais coisa de filme futurista, como 2001: Uma Odisseia no Espaço ou Minority Report. Nem apenas imaginação criativa de livros como Eu, Robô (de Isaac Asimov). Ela já saiu das telas e prateleiras para ganhar vida em aplicativos de celular.
Até mesmo os Jetsons — aquela família dos desenhos animados que vivia em 2062 com robôs-faxineiros e telas falantes — pareceriam pouco impressionados com o que fazemos hoje com uma assistente virtual no bolso.
Mas… será que usar IA nos ajuda mesmo a nos comunicar melhor?
Outro dia, ao escrever um e-mail importante, percebi que estava ali, parada, encarando a tela havia bons minutos. Eu sabia o que queria dizer — mas as palavras, que nunca me faltam, decidiram se esconder.
Pedi socorro ao ChatGPT e digitei: “Me ajuda a escrever uma mensagem profissional, gentil, explicando que preciso remarcar uma reunião.” Em segundos, recebi um texto direto, polido e — surpreendentemente — muito próximo do que eu mesma teria escrito. Fiz ajustes, é claro, tornei o texto mais natural, mas é inegável a ajuda que o aplicativo me deu tão rapidamente. Isso me fez pensar o quanto a inteligência artificial virou nossa parceira de escrita. Não para pensar por nós, mas para pensar com a gente
Durante décadas, a IA foi assunto de livros e filmes futuristas.
Isaac Asimov nos fez imaginar robôs com dilemas éticos. 2001: Uma Odisseia no Espaço nos deixou inquietos com HAL 9000, a voz serena de uma máquina perigosa.
Nos desenhos animados, os Jetsons viviam rodeados por telas que falavam, aspiradores com alma e robôs-faxineiros. Parecia distante. Mas hoje, ela está no nosso bolso. Não em forma de robôs metálicos, mas em apps e plataformas que trabalham com linguagem. Que escrevem, reescrevem, sugerem, traduzem, revisam, organizam ideias.
A IA saiu da ficção científica e entrou silenciosamente no bloco de notas.
E a pergunta agora é prática: “Como eu uso isso a meu favor, sem perder minha essência?”
Primeiro entendendo a IA como como ferramenta (e não atalho). Se você já experimentou um app de IA, sabe que ele pode ser surpreendentemente útil. O segredo está em como você usa — e por quê. Alguns apps que me são muito úteis no dia-a-dia:
- ChatGPT (OpenAI): excelente para brainstorming, rascunhos e revisão de texto.
- Notion AI: organiza ideias, cria listas, estrutura pautas e documentos.
- Grammarly: melhora a gramática e sugere clareza e concisão.
- Copy.ai e Jasper: úteis para criar conteúdos curtos e criativos.
- Otter.ai: transcreve reuniões e áudios com rapidez.
E olha só que interessante: todos têm algo em comum: não vivem por nós. Eles não conhecem nossos silêncios, entrelinhas, contextos.
Mas podem, sim, ajudar a dar forma ao que já sabemos, mas ainda não conseguimos dizer.
A inteligência artificial generativa, como o ChatGPT, Gemini ou Copilot, funciona como uma espécie de assistente criativa. Não é mágica. Não é genialidade. É linguagem estatística, aprendizado de máquina e muitas linhas de código.
Mas para quem cria — seja um e-mail, uma postagem no Instagram, uma apresentação no trabalho ou um bilhete para um filho — ela pode ser libertadora. Ela ajuda a começar quando tudo parece travado. Sugere caminhos quando você se repete. Traduz seu pensamento em rascunho. Reescreve com mais clareza aquilo que você escreveu com pressa. É como ter uma segunda cabeça — uma que não se cansa, não julga, e sempre tem uma sugestão na ponta do cursor.
Mas atenção: ela não sente. Ela não viveu o que vivemos. Ela não conhece sua história. Não lê nuances. Não tem repertório emocional. Por isso, ao usar inteligência artificial, lembre-se de manter ativa a sua inteligência emocional, cultural e ética, e lembre-se também de que a última palavra — literalmente — precisa ser sua. Tenha em mente que a boa comunicação continua sendo humana.
Tem gente que resiste. Que vê a IA como ameaça. E, claro, toda nova tecnologia carrega riscos e exige discernimento. Mas também carrega possibilidades extraordinárias — principalmente pra quem escreve, ensina, cria ou precisa se expressar no dia a dia.
Uma das perguntas que mais me fazem quando abordo esse tema é: A IA vai tirar meu emprego? Eu acredito piamente que vai tirar emprego de pessoas que não sabem usá-la assertivamente. Ela não veio pra roubar nossa voz. Veio pra nos lembrar que podemos afiná-la.
Ora, se a boa comunicação nasce da escuta, da empatia, da intenção clara — e isso ainda não se programa com código, e por enquanto, essas habilidades seguem sendo só nossas, não há o que temer, se você vê e enfrenta a tecnologia como uma aliada.
Sinceramente, espero que assim continue. Cada vez mais falamos em conexões reais, em autenticidade, e deixar nossa comunicação mecânica por meio da IA não vai nos ajudar em nada.
Mas sim: você pode (e deve) usar apps de IA para se comunicar melhor. Porém, use como quem afia o lápis, não como quem entrega a folha em branco pra outro escrever por você.
Use como ferramenta facilitadora e não deixe de perder sua voz.
Leticia Sangaletti
Jornalista e Dra. em Letras
Proprietária da Brevê Comunicação