Por Claudia Zogheib
A privacidade é um direito fundamental e irrenunciável da pessoa, reforçada por direito e respeito a imagem e privacidade.
Expor bebês, crianças e adolescentes sem que elas tenham acesso às próprias decisões e sentimentos, e possam dizer se autorizam seus pais a expô-las, antecipam situações que deveriam estar no âmbito de escolha dos próprios filhos e na noção de que a decisão dos pais implica respeitar seus filhos tendo em questão seus direitos.
Com o advento das redes sociais os pais esquecem que o excesso de exposição expressa não só uma necessidade interna deles, sobretudo uma falta enquanto deveriam se abster do desejo de exposição controlando seus impulsos.
Os filhos não são um bem adquirido que dá direito de decisão incondicional sobre eles, e suas escolhas deveriam estar embasada no prejuízo que esta atitude traz a saúde mental e construção da identidade deles.
É preciso estar atentos e sobretudo pensar que todo excesso esconde uma falta que fala do que se está querendo mostrar e para quem, pois na verdade, o excesso de exposição nunca fala do que está na foto, mas sim do que revela enquanto falta.
A linha tênue da saúde mental quando se expõe a intimidade enquanto necessidade de aparição numa inversão de valores deveria considerar os gatilhos que estão mantendo este comportamento, sobretudo quando consideramos a importância de dar exemplos de qualidade para os filhos e que se agravam quando o excesso vem de pais que necessitam provar a própria existência já que só existir não é suficiente …, e acabam por transbordar vazios que são deles.
No narcisismo patológico o comportamento compulsivo de postar constantemente fotos, atualizar status, localização, rotina, o que come e o que faz, acaba denunciando uma forma de ruptura de si próprio, uma fantasia de existir para os outros enquanto posta, compartilha … porque vive um vazio.
Geralmente essa ruptura se instala na infância em sua relação com os adultos significativos, e diante do desamparo vivido, quando não se sentiu amado, o faz recorrer ao excesso de exposição como forma de buscar esse olhar do passado.
Captar seguidores e o olhar do público por meio dos filhos é uma atitude a se pensar considerando que a individualidade e intimidade deles devem ser preservadas até que possam escolher por eles mesmos e de preferência sem excesso e com maturidade.
Música “Na carreira” com Edu Lobo e Chico Buarque.
Foto do Acervo @auguri_humanamente