Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do esporte a motor. A fórmula 1 segue para as cinco corridas finais, com as duas primeiras ainda no continente americano. Agora é a vez do GP do México. A quem essa pista favorece? É disso que vamos falar.
Pela 21ª vez na história, o México recebe uma prova do campeonato mundial de fórmula 1. No ano passado a corrida não aconteceu. Mas nos anos anteriores as corridas no autódromo Hermanos Rodríguez sempre trouxeram um ingrediente importantíssimo: a imprevisibilidade.
É o tipo de pista com uma parte cheia de curvas que atravessa um antigo estádio de basebol, com arquibancadas que dão ao torcedor a oportunidade de participar ativamente da corrida.
E há um ingrediente extra que provoca fortes emoções e uma gritaria intensa, que é a presença de Sérgio Pérez.
Já no GP dos Estados Unidos, duas semanas atrás, Pérez foi o piloto mais aplaudido pelo público. Entre as 400 mil pessoas presentes no circuito de Austin nos três dias de atividades, havia uma grande parte de imigrantes e descendentes de mexicanos. E o terceiro lugar de Pérez, ali no pódio junto de Hamilton e Verstappen, foi muito festejado.
De Austin à Cidade do México a fórmula 1 viajou apenas 1.450 quilômetros. Menos do que isso, só quando ela vai da Bélgica para a Holanda em 300 quilometros. De Barcelona para Mônaco são 700. De Zandvoort, na Holanda, a Monza, na Itália, são 1.100. E do Algarve, em Portugal, a Barcelona, são 1.260 quilometros.
O fato é que o pódio do mexicano “Checo” deixa a torcida sonhando com uma vitoria em casa, mas sabendo que isso só será possível se as circunstâncias da corrida não obrigarem a equipe Red Bull a fazer um jogo de equipe que favoreça Verstappen na luta direta pelo título.
O México só teve seis pilotos na fórmula 1. E quatro vitórias: duas de Pedro Rodríguez lá no final dos anos 60 e as duas recentes de Pérez. 50 anos separam essas duas gerações.
Mas na Cidade do México o melhor resultado de um piloto da casa foi o quarto lugar de Pedro em 1968, correndo pela BRM. Em 2019 Pérez foi sétimo ainda pela Racing Point. Hoje, com a Red Bull, as chances são melhores.
O GP do México sempre aconteceu no mesmo lugar. O circuito foi construído em 1959 em apenas um ano e, inicialmente, recebeu o nome do parque onde está localizado: Magdalena Mixiuhca.
Em 1962 aconteceu o primeiro GP, com vitória de Jim Clark, que começava a despontar como futuro campeão. Mas ficou marcado por uma grande tragédia – a morte do mexicano Ricardo Rodríguez, em quem a formula um também apostava muito. Ricardo era o irmão mais novo de Pedro, e considerado o mais talentoso deles, além de ter apenas 20 anos de idade. O país ficou em luto por vários dias. O detalhe é que o conselheiro do presidente da republica, que havia sugerido a construção da pista, era o pai dos irmãos Ricardo e Pedro Rodríguez.
A aposta em Ricardo era muito grande. Quando tinha 19 anos, ele se tornou o mais jovem piloto a marcar pontos na fórmula 1. Cinco anos depois, o irmão Pedro realizou parte dos sonhos dos mexicanos: conquistou duas vitórias na fórmula 1, e uma nas 24 horas de Le Mans. Mas Pedro também morreu, em 1971, numa corrida de esporte-protótipos no circuito de Norisring, na Alemanha. Ele tinha 31 anos.
Só no ano passado, no GP de Sakhir, o México voltou a vencer na formula 1.
A história do GP do México é dividida em três fases. Passou a fazer parte oficialmente do mundial em 1963 e recebeu corridas até 1970. Neste primeiro momento, Jim Clark foi quem mais venceu: em 63 e 67, além daquela de 62, quando a prova ainda não contava pontos para o campeonato.
Foi lá que a Honda venceu pela primeira vez, em 1965, com o norte-americano Richie Ginther. Na época o Japão tentava conquistar espaço na formula 1, e a Honda tinha sua própria equipe, com carro e motor da marca. Venceu também em 1967 em Monza, com John Surtees e quase quarenta anos depois, numa nova tentativa de equipe própria, conquistou uma vitória isolada na Hungria com Jenson Button.
Como fornecedora de motores, a historia de sucesso é bem mais significativa. Passando pelos títulos mundiais de Nelson Piquet, Ayrton Senna e Alain Prost. E em 2019 voltou a ser uma marca vencedora com a Red Bull.
De 1971 a 1985 não houve GP do México. Antes de voltar, em 1986, a pista foi reformada e recebeu o novo nome que dura até hoje: autódromo Hermanos Rodríguez, em homenagem aos irmãos pilotos Ricardo e Pedro Rodríguez.
A primeira corrida dessa nova fase do GP do México marcou a primeira vitória da carreira de Gerhard Berger, e a primeira da equipe Benetton, que corria com motor BMW.
Mas os maiores vencedores dessas sete edições, de 86 a 92, são Nigel Mansell e Alain Prost. Cada um com duas vitórias. Ayrton Senna venceu em 1989 e Riccardo Patrese em 1991, ano em que Senna deu um susto na torcida brasileira ao bater e capotar sua McLaren na curva Peraltada, até então uma das mais rápidas do calendário contornada a cerca de 260 quilômetros por hora. Ele foi parar no hospital do próprio autódromo, mas nada sofreu. O último GP desse períod犀利士
o, o de 92, também deixou uma marca histórica. O primeiro dos 155 pódios que Michael Schumacher conquistou na fórmula 1.
Entre 1993 e 2014, nada de GP do México. Foi aí que Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo, empresário de telecomunicação, anunciou planos para trazer de volta a fórmula 1 ao país. Slim é dono da Claro, marca que sempre apoiou a carreira de Sérgio Perez.
O autódromo passou, então, por nova reforma, aproveitando uma boa parte de seu traçado original, menos a temida curva Peraltada, que deu lugar a uma série de chicanes dentro de uma área cercada por arquibancadas. Pra quem vê pela televisão, fica a impressão de que os pilotos estão correndo dentro de um estádio. E já foi mesmo: é nessa área que ficava o estádio de beisebol.
O retorno veio com uma vitória da Mercedes AMG Petronas, pelas mãos de Nico Rosberg. Neste novo traçado, a briga entre as duas maiores equipes da formula 1 atual é bem equilibrada. São três vitórias da Mercedes e duas da Red Bull. Entre os pilotos, duas de Hamilton e duas de Verstappen. Mas Hamilton tem ainda a conquista de um titulo, o quinto de sua carreira, que veio no México em 2018, numa corrida vencida por Verstappen.
O circuito de 4.304 metros e 17 curvas traz um desafio especial para equipes e pilotos, que é a altitude. A Cidade do México está localizada 2.250 metros acima do nível do mar. Isso significa menor concentração de oxigênio no ar, com consequências para carros, motores e até para os pilotos. O ar rarefeito diminui o nível de oxigênio no sangue, e os músculos têm menos energia.
Com 25% menos densidade do ar, as equipes têm de apelar para uma configuração de alta pressão aerodinâmica. Isso quer dizer que os carros correm com a mesma configuração de asas e aerofólios usada, por mais incrível que pareça, no GP de Mônaco, mesmo com o circuito tendo uma reta de 1.314 metros, a segunda maior do campeonato. Só a reta de Baku é maior, com seus 2.100 metros.
Ainda assim, vejam só que curioso: mesmo usando as inclinações de asa de Mônaco, os níveis de pressão aerodinâmica no traçado mexicano acabam sendo menores que os de Monza, a pista mais rápida do calendário e, portanto, com os carros usando inclinação mínima de asas. Isso explica a velocidade final de reta ser tão alta como a de Monza, próxima dos 360 quilômetros por hora, mesmo com a mesma inclinação de asa de Mônaco.
Tudo isso afeta diretamente os motores, as unidades de potência que precisam de ar na mistura com combustível. Nos motores aspirados comuns, a perda de potência é grande. Com as atuais unidades de potência, não é tanto, mas o turbo precisa trabalhar de 10 a 15% mais para gerar a pressão de ar necessária.
Os itens de resfriamento do carro também exigem atenção especial. Os dutos de freio e também as entradas de ar para os radiadores devem ser aumentadas para receber o máximo possível de ventilação.
Se o México tem a pista de maior altitude de toda a temporada, Interlagos, em São Paulo, é a segunda: 800 metros acima do nível do mar. No México a densidade do ar é 25% menor do que o normal. Em São Paulo, 10% menor.
Aliás, a Cidade do México lembra muito a de São Paulo. Com nove milhões de habitantes, ela é a cidade de maior população de toda a América do Norte. Antes de ser a capital do México, a cidade era a capital do império asteca e se chamava Tenochtitlán, que foi destruída pelos colonos espanhóis em 1524 e reconstruída nas décadas seguintes seguindo os padrões de colonização do império espanhol.
A capital mexicana reúne todos os ingredientes de uma grande metrópole. Grande número de museus, atrações turísticas, ruínas astecas, palácios do século 17, enormes parques … e um trânsito pra lá de caótico. Pelo que eu conheço, um dos piores do mundo. Todos os dias, três milhões e meio de veículos invadem as ruas da cidade.
Entre os locais mais conhecidos pelos turistas estão a Plaza de la Constitución, a Catedral Metropolitana, o Palácio Alameda Park, o Templo Mayor, um dos principais templos astecas, e a Plaza Garibaldi, conhecida como a casa dos mariachis. Você para o carro numa esquina qualquer da praça, e os mariachis o cercam com sua musica alegre. Pedindo uma gorjetinha, é claro. O que os próprios mexicanos chamam de propina, mas de um jeito bem mais inocente do que o que conhecemos hoje no Brasil.
Campeonato de Pilotos
Com 287 pontos e meio contra 275 e meio de Hamilton, Verstappen está numa importante posição na luta pelo seu primeiro titulo mundial.
Campeonato de Construtores
Entre as equipes, a Red Bull diminuiu em dez pontos a diferença para a Mercedes AMG Petronas, mas ainda não chega a ser uma ameaça. a não ser que Pérez conquiste mais pódios e Bottas continue devendo. A vantagem da Mercedes AMG Petronas é de 23 pontos e há muito ponto em jogo ainda nas cinco corridas finais. 220 pra ser exato, incluindo o bônus da melhor volta em cada etapa.
Horários
Neste fim de semana, o GP do México tem praticamente os mesmos horários de duas semanas atrás, ou seja, ninguém precisa madrugar.
Na sexta-feira o primeiro treino livre começa às 14h30 e o segundo às 18 horas. Sempre pelo horário de Brasília. Lembrando que entramos no ar 15 minutos antes com a transmissão pelo Bandsports. O terceiro treino livre, no sábado, acontece às 14 horas e a classificação, que define um grid tão importante, você acompanha tanto no Bandsports como na tela da Band, às cinco da tarde.
No domingo a gente começa a falar de fórmula 1 às três e meia, e a largada do GP do México acontece às quatro da tarde.
Um lembrete: para quem está nos EUA ou em outros países, a transmissão é pelo app F1 TV, com a opção de áudio em português comigo e a equipe da Band.
Claro que eu conto com a sua companhia em todo o final de semana, e também na segunda-feira com o Batendo Roda. Fique de olho no meu Instagram @regileme pra saber se será às seis ou às cinco da tarde. Nós estamos justamente querendo saber de vocês qual é o horário preferido para esse bate-papo com Rubinho Barrichello.
Amigos, um grande abraço a todos. Agradeço a atenção e o carinho de vocês.
E temos campeonato ainda pela frente!