Por Claudia Zogheib
Sabemos o quanto as redes sociais são amplificadores para denunciar os sentimentos existentes dentro de nós, e o quanto isto pode ser danoso para quem sofre de solidão, depressão, ansiedade entre outros transtornos.
Quando o assunto é saúde mental, o mal uso das redes sociais aumenta os riscos de agravamento das doenças ligadas à imagem e baixa-estima, e pode se tornar uma guerra secreta ligada à quantas curtidas recebemos, quem seguimos ou quem deixamos de seguir, e quais são os reais motivos que sustentam estas decisões.
Para quem vive uma vida baseada neste tipo de superficialidade, este vício torna-se uma denúncia de quem se é, e o meio que se utiliza para manter esta dinâmica, mostra o sentido que utilizamos para crescermos como indivíduos… vazios!
Não é difícil notar quem usa suas redes sociais para manter seu “status quo”, quem usa como forma de engajamento profissional, como união familiar e com os amigos, que de forma estampada e coerentemente vibra pelas conquistas dos outros numa relação de mão dupla.
Uma vida criada para interesses simplórios nas redes sociais acaba afetando a vida pessoal off-line, e o inverso é igualmente real: deixa de ser autêntico e acaba por denunciar as escolhas que sustentam nosso mundo interno.
Quanto mais utilizamos as redes sociais para este fim menos prestamos atenção às experiências offline, menos engajados estamos nas experiências reais, chegando ao cúmulo de não entrarmos em contato com a forma como nos comportamos, que acabam por denunciar uma vida vazia no sentido existencial.
O que realmente acontece nunca é o que se posta, e no excesso de uma vida perfeita, o verdadeiro sentido pode estar atrelado a uma vida vazia e sem sentido… ou será que estamos mostrando o tremendo vazio que vivemos? Onde estamos?
O excesso e o mal uso cobram um preço alto ligado à negligência da vida real. Vida perfeita não existe: o que existe para alguns é a criação de uma rede perfeita, construída para mascarar ou dissimular quem de fato se é, cheia de interesses vazios: fulano é popular, preciso ser amigo dele, vai me convidar para aquela festa … ou … deixo de curtir aquela pessoa porque não quero que ela me visite, ou porque para ser amigo daquela outra pessoa preciso descurtir aquela, ou porque não quero que ela participe, enfim, mudei de interesses, descarto aquele amigo, aquele parente, ele não se encaixa mais nos meus int犀利士
eresses.
A saúde mental padece, e ficamos entre o imaginário e o real sem saber quem de fato somos e onde vamos parar.
Não deveríamos pretender estar em uma competição dentro das redes sociais. Se estamos, deveríamos nos perguntar o quanto disto levamos para a vida pessoal, e o quanto este comportamento denuncia quais são os verdadeiros objetivos que tais comportamentos se sustentam: a vida real pede coerência, portanto, as redes sociais deveriam ser uma extensão mínima e condensada do real. Do contrário, podemos nos perder, imaginando sermos importante por termos muitos seguidores … e padecemos, construímos uma vida pobre e sem sentido. Nos enganamos numa fantasia onipotente só porque “escolhemos” quem seguimos e deixamos todos nos seguir, muitas vezes a serviço de uma instrumentalização precária.
Uma expectativa engajada com a saúde mental deveria preocupar-se menos com as curtidas, e usar as redes sociais para enriquecer as memórias, entrelaçadas com nossas relações (familiares, de amizade e vida profissional), sobretudo tendo coerência na hora que nos comunicamos pelos meios que hoje estão à nossa disposição: responder, agradecer, ter o mínimo do mínimo do senso de se colocar no lugar do outro, ou seja, tratar o outro como gostaríamos de ser tratados, considerar as pessoas como indivíduos.
Às vezes, além de falta de saúde mental, o que falta mesmo é a boa e velha “educação”.
Em tempo, este texto foi escrito ao som da música: “Pé Na Areia”, de Rodrigo Leite, Diogo Leite e Caíque, cantada por Diogo Nogueira.
2 Comentários
Parabéns a escritora Cláudia, belíssimo e verdadeiro texto. Sempre espero para ler os textos dela e a música q ela escolheu Pé na Areia é maravilhoso
Obrigada!