Por Vivi Helney
Seu Giuseppe, melhor Giuseppe Antônio, meu sogro, pai do meu terceiro marido… foi uma pessoa que eu adorei, e não sei por que um dia conversando com meu editor Ialdo, comecei a contar histórias do seu Giuseppe, e hoje ele pediu que eu escrevesse a respeito. Eu não me lembro a data em que ele faleceu, acredito que tivemos uns 5 a 6 anos de convivência, mas foi犀利士5mg
uma pessoa que me deu muito, com suas conversas, apaixonado pelas músicas brasileiras. A primeira vez que o vi, não sabia o que fazer de jantar, sei que ele e Rosa, sua esposa, chegariam para comer. Eu fiquei pensando o que fazer para agradar, então preparei salsiccia e polenta e salada. Vinho tinto. E me lembro bem que fazia frio, mas na casa tinha um bom perfume de salsiccia (linguiça de porco) com um ótimo molho com cebola, pimentão e tomate. E a polenta, eu fiz com leite, mas antes dorei um pouquinho de alho com manteiga, coloquei uma parte de água para duas de leite, e depois coloquei um pouco de parmesão. Conquistei imediatamente…quando eu abri a porta, ele tinha um belo sorriso, a copola (chapéu masculino italiano) meio torta na cabeça, e foi me dizendo que bom esse perfume… respirei e relaxei… ele me contava mil histórias, não teve uma infância fácil, perdeu o pai quando era pequeno e a mãe com muitos filhos ele teve que ir trabalhar com 10/12 anos de idade, trabalhava o mês em troca de 1 litro de óleo de oliva. Não tinha sapato. No verão, tudo bem, mas no inverno… devia ser muito difícil. Serviu o exército italiano na Segunda Guerra, e foi preso na Líbia. Como prisioneiro de guerra foi transferido para Inglaterra para trabalhar como prisioneiro. Quando a guerra acabou, foi para Itália, encontrando muita pobreza, então resolveu seguir o caminho de um primo que tinha vindo para o Brasil, mas aqui como ele falou “se divertia muito, mas ganhava pouco”. Vendeu laranja nas feiras do Rio de Janeiro, trabalhou em uma fábrica de massa, em São Paulo, por 2 anos e voltou para Itália. Disse a um parente que gostaria de casar-se, e ele falou que conhecia uma moça, que era em idade de “maritar”. Fez acordo com o pai da Rosa e se casaram. E foram morar na fazenda em que ele trabalhara quando era prisioneiro. Eles deram o trabalho de volta, mas com um salário. Seu Giuseppe estudava todas as noites, ele não teve oportunidade de estudar quando era criança, mas começou a aprender sozinho. Ele falava, português, inglês, italiano. Falava e lia. Ele teve 2 filhos ali, e depois foi morar em Edimburgo, onde comprou uma van de sorvete e ia nos bairros mais distantes vendendo não só sorvete, mas tudo o que pediam pra ele. Teve mais um filho. Apesar do racismo dos escoceses em ralação aos italianos, Seu Giuseppe não importava, ia pra luta todos os dias. Meu ex-marido falava que acordava as vezes com pedras lançadas nas janelas de casa durante a noite. Com sua van de sorvete, ele construiu uma casa com 3 andares, e comprou um apartamento em Torino. E mudou com a família, mais uma vez. Era época do boom da indústria, mas na Itália ele achou dificuldade em achar um trabalho tendo mais de 50 anos. Entrou em depressão por expor a sua família a períodos difíceis, e olha que ele conhecia bem os períodos difíceis.
Mas esse senhor de oitenta anos, porque quando eu o conheci era isso que ele tinha, me chamava de Divina, e falava se você não fosse casada, eu me casava com você. E caiamos na risada… ele ficava comigo, me fazendo ler em voz alta para aprender a falar bem o italiano, e as vezes me dá uma pontinha de tristeza porque eu falava como brasileira, não me aplicava a dizer bem as palavras. Nós íamos ao supermercado e ele olhava senhoras de 50 anos e perguntava, quem são aquelas velhinhas ali… e nos olhávamos com uma cumplicidade e caiamos nas risadas. Uma vez foi toda a família para Monginevre para esquiar e eu e ele não esquiávamos. Ficávamos sentados no pé da pista olhando aquela montanha branca e pontos coloridos descendo como loucos. Nos comprávamos garrafa de vinho escondido e ficávamos bebendo escondido. Ficamos tomando e conversando melhor. Porque estar sentados ali por bastante tempo, depois de 20 minutos parados no frio qualquer minuto vira uma eternidade. Nossas conversas sempre terminavam em música. Ele me explicava desde como plantar olivo (árvore da azeitona) até como fazer um vinho. Falava de política, de guerra, de uma forma tão simples que era fácil entender. Me fez aprender a beber um bom Montepulciano di Abruzzo. De perceber o cheiro das coisas, e valorizar as pessoas. De que a guerra é sempre ruim, e que em qualquer tipo de desentendimento, todo mundo sai perdendo.
Salsiccia com polenta
1 quilo de linguiça
1 cebola em rodelas
1 pimentão em rodelas
6 tomates sem a pele picado
Colocar as linguiças para dourar, quando estiverem douradas, acrescentar a cebola e tampar a panela, dois minutos, colocar o pimentão e os tomates, pingar água pra ir fazendo o molho. Corrigir o sal , e pimenta do reino a gosto.
Polenta
Colocar uma colher de manteiga e alho para dourar. Acrescentar 300 ml de leite e 300 ml de água, e 3 colheres de sopa bem cheias de farinha de polenta instantânea. Mexer até engrossar. Quando estiver como um mingau bem grosso desligar o fogo e colocar um pires de queijo parmesão ralado, mexendo sempre.
Ajustar o sal.
E buon apetito!!!
13 Comentários
Parabéns Vivi, amei a estória, tive a sensação de estar ao seu lado de ouvindo ca recordar essas lindas lembranças
Obrigada minha amiga! Saudades de você.
Viva o Giuseppe!! Parabéns pelas boas lembranças!
Ele era muito especial Zé Ricardo, você iria adorar conversar com ele.
Bellissimo. Mi hai trasportato e commosso con questo fiume di ricordi. Anche la foto sembra proprio lui. Complimenti per tutti gli articoli che pubblichi qui. Seguo sempre.
Grazie Silvio. Io avevo adorazione per il tuo papà!
Suas histórias são como as receitas, deliciosas!
Obrigada Marri querida.
Que texto gostoso, parece que o conheci!!
Obrigada minha amiga. Saudades de você.
Molto bella la historia. Ricorda anche al mio papa.
Che bello che ti ha fatto ricordare il tuo papà. C’è una musica brasiliana che dice : Ricordare è come vivere, è come un sogno.
Well done! Eu simplesmente gosto de uma boa história da natureza humana. Como American grits, a polenta italiana é um mingau com textura granulada. A polenta é um prato simples mas satisfatório como a forma de contar esta história com tanta gentileza para o Signore Giuseppe. Eu posso ouvir suas palavras amorosas de um homem amoroso. Obrigado por compartilhar!