Por Claudia Zogheib
Frequentemente escutamos queixas de pessoas que somatizam no corpo, onde nos fica claro que existe uma exaustão, e o sofrimento que existe na mente faz sintomas no corpo.
Sabemos que o sofrimento físico é um reflexo do sofrimento emocional, e sentimentos como raiva, medo, ressentimento, culpa, estresse, ansiedade entre outros, são exemplos de emoções que num processo mental onde o corpo tem uma ligação direta com a mente, as manifestações corpóreas parecem nos dizer sobre uma mente lidando com algo insuportável, onde ela expulsa para o corpo a sua dor.
Joyce McDougall foi uma importante psicanalista que estudou as somatizações. Ela dizia que o sintoma é uma construção singular e dramática que tem por objetivo permitir a sobrevivência psíquica do indivíduo, na busca de cura para si mesmo.
No seu livro “Teatros do Corpo”, ela utiliza a alegoria para compreender os fenômenos psicossomáticos do ponto de vista essencialmente psicanalítico. Segundo ela, as somatizações estão relacionadas às sucessivas mudanças e falhas no processo de individuação que formatam a subjetividade do indivíduo. Pessoas que somatizam, apresentam fragilidade egóica, falhas no processo de simbolização e tendência à atuação. Existe um modo de defesa arcaica anterior à linguagem como resultado das falhas no processo de internalização que constroem a identidade subjetiva.
A somatização seria semelhante a preencher o vazio aberto pela tensão, que entre o desejo de fusão e de individuação, há uma falha na apropriação psíquica do seu próprio corpo: vicissitudes.
McDougall criou o termo desafetação onde ela diz que o afeto é um conceito limite estando entre o somático e o psíquico, e consiste basicamente em uma incapacidade de refletir sobre as emoções vividas: o paciente que somatiza mostra no corpo a sua dor, existindo nele uma desistência, falha ou cansaço no ato de pensar, deixando que seu corpo fale somatizando sua dor.
Parece estar associada a economia de afeto, onde o indivíduo está num “agir arcaico”, expulsando do psiquismo e jogando para o corpo as percepções ou pensamentos que suscitam afetos insuportáveis, associados às vivências traumáticas e precoces, presentes no desenvolvimento infantil e sucessivamente ao longo da vida.
Quando pensamos no mundo em que vivemos, notamos que existem muitos relatos de pessoas que sofrem de somatizações corpóreas, nos colocando diante de uma situação urgente que não podemos lidar coletivamente, mas sim individualmente numa psicoterapia.
Se considerarmos a vida mental do ponto de vista biológico, o instinto parece ser um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, e como o representante psíquico dos estímulos que nascem dentro do organismo, eles alcançam a mente como uma medida de exigência feita no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.
Os sintomas corporais que são manifestados pelo indivíduo em situações de威而鋼
conflitos, angústias e estresse emocional, necessitam serem tratados, para que assim se consiga acessar os gatilhos existentes em suas manifestações.
Mais do que descobrir a origem das somatizações e ao que elas estão ligadas, é necessário tratar para que assim se consiga retomar o caminho do pensar e elaborar, para quem sabe não sofrer da exaustão da mente que nos faz somatizar, retomando o caminho da simbolização.
Este texto foi escrito ao som da música “Princípio, Meio e Fim, de Diogo Nogueira.