Por Paulo Carcasci
Com o pé no porão, já estamos de volta. Quando o assunto é automobilismo, a gente não para!
Max Verstappen, o que falar sobre o novo tricampeão mundial da Fórmula 1? Não faltam fãs nem detratores do jovem holandês. Por isso, resolvi escrever um pouco para falar de pilotagem. Com 50 anos em pistas guiando, ensinando e organizando, gostaria de deixar claro minha opinião sobre várias dúvidas que vejo aparecendo em várias mídias no Brasil e no mundo.
Normalmente, muitos dos torcedores de automobilismo expõem suas preferências por este ou aquele piloto que acreditam ser o melhor de todos. Muitas vezes, isso é reflexo da educação que tiveram, influência dos pais ou amigos, ou simplesmente pilotos com quem se identificam por outros motivos além do automobilismo. Veem naquele piloto uma imagem que eles próprios gostariam de também passar aos seus fiéis seguidores… Enfim, uma infinidade de razões que existem para que sintamos afinidade com este ou aquele personagem.
Mas vou comentar sobre pilotagem para tentar me isentar de outros aspectos que não sejam técnica e talento para levar os carros o mais próximo do limite possível e assim conquistar o maior número de pole positions e vitórias no automobilismo.
Para pilotar carros de corrida, precisamos de sensibilidade, ter todos os canais de balanço em pleno funcionamento. É preciso estar atento aos sons emitidos pelo veículo, quaisquer movimentos que o carro tenha, os pilotos têm de detectar e registrar. Depois disso, devemos entender sobre as dinâmicas de funcionamento dos carros, e isso varia muito para cada tipo de projeto. Pois além de mecanicamente diversos na Fórmula 1, como já se sabe, a aerodinâmica tem influência determinante no desempenho. Uma vez que estamos sentindo e ouvindo tudo que acontece com nossos carros, devemos então nos atentar para a pista em questão. Cada uma tem suas particularidades de asfalto, dimensões, zebras, poeira, vento, ondulações, remendos, inclinações nas curvas e também nas retas… uma infinidade de pequenas variações que não vou ficar listando tudo aqui, mas deu para ter uma ideia da quantidade de observações que um piloto deve fazer sobre os circuitos.
Depois disso, temos que ajustar tudo isso – as sensações transmitidas pelo carro mais as variações da pista – todas as curvas em todas as voltas que fazemos. Pois a temperatura ambiente, do asfalto, o desgaste de pneus, o aquecimento ou refrigeração da pista e dos pneus, além de outros componentes do carro, mudam. Então, uma volta nunca é perfeitamente igual a outra, pois nada é estático. O carro fica mais leve, os pneus pioram, o freio se desgasta, tudo isso pode aquecer ou também esfriar… Entenderam a enorme quantidade de mudanças que acontecem a cada volta?
Para o condutor daquele veículo, que está provavelmente muito mais quente do que qualquer situação perto de confortável, muito mais apertado, pois os cintos de segurança estão espremendo suas costelas contra um duríssimo assento de fibra de carbono sem nenhuma espuma, encolhidos de tal forma que raramente conseguem encher totalmente os pulmões. E vamos adicionar aqui uma infinidade de ajustes no volante, que parados no box são difíceis de ler e lembrar, mas a 300 km/h apenas alguns poucos com visão de águias podem ajustar o foco de 200 metros adiante para 50 cm e voltar o foco em frações de segundo.
E como se não bastasse, eles têm ainda algum engenheiro falando ao rádio, muitas vezes algo que não é de importância, ou ainda em momentos onde precisamos de total atenção para gerenciar todas as sensações que estamos treinados e afinados para perceber. Gerenciamento esse que foi aprendido desde cedo, provavelmente próximos de seus 6 anos de idade nas provas de kart, onde aprenderam muito sobre tudo que estão utilizando para guiar esses carros próximos de seus limites. Depois correndo e vencendo nas várias categorias que antecedem a Fórmula 1, como F3, F2 entre outras. Foram anos de treinos e corridas nessas várias disciplinas, vários os professores que lhes ensinaram um pouco de tudo que precisam saber e agora põem tudo isso junto para colher os melhores resultados possíveis na F1. É importante confirmar que todos os pilotos na F1 passaram por esse aprendizado, inclusive aqueles que estão andando nas últimas posições. Todos aprenderam a sentir os carros, todos aprenderam vários truques e manhas para tirar o máximo de suas máquinas, todos foram vencedores em suas carreiras antes de chegarem à F1. Portanto, não tem ninguém correndo na F1 que saiba muito bem o que é importante para se vencer um GP ou o campeonato todo.
Agora que já sabemos como é difícil pilotar um F1, como é difícil prestar atenção em tudo que está acontecendo com o carro, as mudanças externas etc… Vem a pergunta, como o Max venceu 19 provas e os outros que também foram vencedores e sabem tudo o que é preciso para levar esses carros próximo do limite não venceram? Sim, o carro, essa é a diferença, mas não escrevi tudo isso para contar o óbvio. Escrevi tudo para que o nosso leitor entenda que não tem nada de fácil para nenhum piloto na F1, nem mesmo o Max, que demonstrou que sua vantagem em relação aos outros pilotos está na sua precisão. Onde todos sabem tudo que têm para saber, vence aquele cujos erros são menores e menos frequentes do que seus concorrentes. Grande Max Verstappen, com certeza, um dos melhores pilotos de todos os tempos. É isso aí pessoal, vamos diminuindo a marcha por enquanto, mas logo estaremos de volta com mais adrenalina.”