Por Reginaldo Leme
Olá, amigos do Florida Review. Depois da virada que sofreu no campeonato, a Ferrari busca reagir em Mônaco. É a casa de Charles Leclerc, mas nas ruas onde, desde a infância, ele viveu o sonho de chegar à formula um, até hoje nunca conseguiu marcar um único ponto.
Vamos falar da historia do gp mais charmoso do ano e de como a Ferrari planeja virar o jogo de novo.
Semana passada na Espanha Charles Leclerc perdeu a chance de se firmar como líder do campeonato, e também Carlos Sainz de conquistar sua primeira vitória na fórmula um diante de sua própria torcida. A equipe italiana teve o carro mais veloz em todos os treinos e na classificação, mas acabou dando dobradinha da Red Bull, a segunda no ano, e a única marca Ferrari que a gente pôde ver no pódio foi mesmo a marca do champanhe oficial da fórmula um.
A quebra do turbo e do mgu-h na 27ª volta, quando liderava a corrida com mais de 20 segundos de vantagem, deixou Leclerc, pela primeira vez no ano, fora dos pontos. E o espanhol Carlos Sainz, ainda sem conseguir se livrar de sua falta de sorte, não conseguiu mais do que um quarto lugar. Muito pouco para uma equipe que pintou como a favorita em Barcelona.
Foi uma vitória que caiu no colo de Max Verstappen, mas não importa: a sorte também faz parte da carreira de um grande campeão. O que importa mesmo é que o holandês alcançou a marca mais importante deste o início de temporada: simplesmente venceu todas as quatro corridas que conseguiu terminar. Nas outras duas o carro da Red Bull o deixou pelo meio do caminho.
Mônaco é o gp que já existia antes mesmo de ser criado o campeonato mundial de fórmula 1.
Tradição é a palavra quando se pensa neste gp. Foi a segunda corrida do mundial de 1950, na semana seguinte à abertura do campeonato, que aconteceu na Inglaterra, mas a primeira edição não agradou muito: o principado ficou fora do calendário por quatro anos, e teve que lutar muito para conseguir voltar em 1955. Voltou. E nunca mais saiu. Exceto em 2020, quando ela foi uma das corridas canceladas por causa da pandemia da covid-19.
Um país menor que o Central Park de Nova York monta uma pista que cobre um terço de seu território. Sua população cresce 500% da noite para o dia. Um feito incrível de engenharia e logística que requer muito planejamento e uma excecução meticulosa, como são as coisas na fórmula 1. E é assim que o segundo menor país do mundo prepara sua pista para um dos maiores eventos de automobilismo do planeta.
Mônaco respira fórmula 1 nesta semana. Das pequenas correções no asfalto à montagem das arquibancadas e guard-rails. Camarotes, sala de imprensa… é preciso planejamento para arrumar espaço para 200 mil pessoas dentro de dois quilômetros quadrados e meio.
Como eu sempre saí de volta para o Brasil alguns dias depois, tive a satisfação de ver a engenharia toda empregada na desmontagem do circuito. A montagem, que dura seis semanas, eu vi através de imagens que usei uma vez em um programa e nunca mais me saiu da memória. Cada lâmina de guard-rail tem uma numeração específica, assim como os suportes delas, e é isso o que determina o local exato onde eles serão parafusados no chão. Os furos no asfalto já estão lá, não precisam ser feitos ano a ano.
Obviamente isso atrapalha a rotina das 38 mil pessoas que vivem regularmente em Mônaco, ao ver essa população aumentar, de repente, para duzentas mil. Mas, em geral, as pessoas já se acostumaram. O gp é o evento mais importante, mas é apenas um dos muitos que acontecem o ano inteiro neste principado acostumado às festas.
A primeira edição aconteceu em 1929, nos primórdios das competições automobilísticas e logo se tornou famoso pelo glamour das pessoas importantes que visitavam o principado numa semana muito especial. Hotéis luxuosos ou pequenos hotéis, restaurantes, bares e até as ruas, tudo lotado.
Em 1950, quando passou a fazer parte do mundial de fórmula 1, ele se tornou uma das jóias da chamada tríplice coroa do automobilismo mundial, junto com as 500 milhas de Indianápolis e as 24 horas de Le Mans.
Durante muito tempo, exatamente na época em que comecei a frequentar Mônaco, Graham Hill, pai de Damon Hill, era o maior vencedor nas ruas de Mônaco. As suas cinco vitórias lhe deram o apelido de “Mister Mônaco”. Este recorde só foi batido por Ayrton Senna, que venceu a primeira em 1987 com a Lotus amarela e, depois, com a Mclaren, emendou uma sequência de cinco vitórias, de 1989 a 1993. Na verdade, poderiam ser sete vitórias consecutivas se ele não tivesse errado sozinho e batido no guard-rail em 1988, quando liderava a corrida com 52 segundos de vantagem para Alain Prost. Em respeito àquele antigo título de Mister Mônaco do inglês Graham Hill, o feito de Senna mereceu um título um pouco diferente: ele se tornou o novo “Rei do Principado”.
Este recorde de Senna vai completar 30 anos em 2023 e dificilmente será superado. Michael Schumacher também alcançou as cinco vitórias de Graham Hill e entre os pilotos em atividade no grid atual, Lewis Hamilton venceu três vezes, Fernando Alonso e Sebastian Vettel, duas cada, Daniel Ricciardo e Max Verstappen têm uma vitória.
A história de monaco é riquíssima. Seus primeiros habitantes foram os lígures, montanheses acostumados a trabalhar em condições adversas, que ocuparam um rochedo sobre as águas do Mediterrâneo. Mais tarde a área foi ocupado por gregos, que constr樂威壯
uiram um templo chamado Monoikos, que quer dizer casa única – e era de fato a única construção. Monoikos rapidamente virou Mônaco.
Mas há outra explicação para o nome Mônaco. Todo habitante monegasco conhece a lenda – ou história real – de que dois irmãos genoveses, Francesco e Rainier Grimaldi, armaram um golpe para tomar o poder em 8 de janeiro de 1297. Disfarçados de frades franciscanos, eles chegaram às portas do castelo real pedindo esmola e abrigo, mas assim que o portão foi aberto, eles atacaram os guardas e tomaram o castelo fortaleza. O que faz essa história ser conhecida como real é que o brasão de armas de Mônaco tem a imagem de dois frades empunhando as espadas.
A família Grimaldi, que se tornou Grimaldí para adotar uma pronúncia francesa, está no poder até hoje. Como parte do território francês, Mônaco tornou-se um principado. Foi tomado na Revolução Francesa de 1789. Em 1815 recuperou parcialmente sua independência como território protetorado do reino de Sardenha, e em 1860 o Tratado de Viena devolveu totalmente a soberania monegasca.
Segundo menor estado soberano no mundo, atrás apenas do Vaticano, o principado tem apenas dois quilometros de extensão, e é o país com maior densidade populacional do mundo – mais de 18 mil habitantes por quilometro quadrado. O curioso é que os monegascos são minoria em seu próprio país. Pouco mais de oito mil dos 38 mil habitantes. A maioria é francesa e outra grande parte, italiana.
Por ter um território pequeno e elevada densidade demográfica, o governo busca criar novos espaços para desenvolvimento urbano recuperando terra do Mar Mediterrâneo. Este é um desafio que durante os ultimos 150 anos já resultou em 40 hectares a mais de área urbana, que é a parte moderna do principado, chamada de Fontvieille. E está em execução um projeto para recuperar mais seis hectares de terra até 2025 em um local que fica antes da entrada do famoso túnel do circuito.
Diante de recentes reclamações que têm sido feitas pela própria Liberty Media pedindo modernizações no traçado para o atual nível da fórmula 1, é possível que esta extensão venha a fazer parte do circuito.
Mônaco vive basicamente do turismo. Principalmente a partir da metade do século 19, quando o governo teve que legalizar os jogos. A medida foi uma consequência de uma queda na economia quando as cidades de Menton e Roquebrune, que hoje estão em território francês, resolveram se emancipar por causa dos impostos sobre o comércio de azeite e frutas.
A saída foi atrair mais turistas com a abertura do famoso Cassino de Monte Carlo. No princípio não deu tão certo, mas a construção de uma ferrovia ligando a região a Paris em 1868 fez explodir o turismo. Foram criados outros três cassinos menos sofisticados, e hoje o pequeno principado de 38 mil habitantes recebe anualmente sete milhões de turistas.
Os lucros vindos dos cassinos foram tão altos que o governo deixou de cobrar impostos de seus moradores. Era uma forma também de encorajar pessoas ricas a estabelecerem residência em Mônaco. Uma em cada três famílias é de pessoas muito ricas, mas é também um país com índice zero de pobreza.
A fama mundial do principado aumentou muito em 1956, quando o príncipe Rainier III, que subiu ao trono em 1949, casou-se com a famosa atriz norte-americana Grace Kelly, vencedora de um Oscar. O casamento foi um acontecimento mundial, transmitido ao vivo para vários países. O casal teve três filhos – Caroline, Stephany e Albert, que é o atual chefe de governo com o nome de Albert II.
Este é um fim de semana de festa em Mônaco. Entre os vários eventos que o país recebe no ano, o mais importante é o gp de fórmula 1 que conta com a participação de um filho da casa, Charles Leclerc, que liderou o campeonato até domingo passado. Mas primeiro ele precisa terminar um gp de Mônaco, coisa que ainda não conseguiu. Bateu em 2018 e 2019. Não houve corrida em 2020 e em 2021, depois de fazer a pole position, bateu na volta seguinte, e nem conseguiu largar no domingo por um problema no carro.
Além disso, por mais incrível que possa parecer, como se fosse um roteiro de cinema, duas semanas atrás Leclerc participou do gp histórico de Mônaco pilotando uma Ferrari 312b que foi de Niki Lauda, e bateu o carro na curva Rascasse. A culpa nem foi dele e, sim, da quebra de um dos discos de freio, mas como não debitar a batida na conta dos “azares” de Leclerc na sua cidade?
Os pneus que a Pirelli escolheu para domingo são os três modelos mais macios. Depois de usar a gama mais dura em Barcelona, a Pirelli agora levou os pneus c3, c4 e c5. É um circuito travado com média de 160 quilômetros por hora.
Esta sétima etapa do campeonato é a primeira em que o campeão Max Verstappen aparece na liderança. Leclerc era lider com 19 pontos de vantagem até a última corrida, mas o jogo virou. Com a vitória em Barcelona, que é a quarta no ano, mais a quebra de Leclerc, Verstappen passou a ser o novo lider agora com seis pontos de vantagem: 110 a 104.
A virada da Red Bull foi completa. Já mostrando desde Miami ter um carro melhor que o da Ferrari em ritmo de corrida, a equipe austríaca assumiu também a ponta do campeonato de construtores. Marcou 44 pontos em Barcelona contra apenas 12 da ferrari e agora lidera a briga com 195 pontos contra 169.
Sinal dos novos tempos. uma antiga tradição se encerra neste fim de semana. Mônaco sempre foi uma exceção, com treinos na quinta e sábado, deixando a sexta como dia livre, mas isso acabou.
Agora, os treinos livres acontecem na sexta-feira às nove e ao meio-dia, horário de Brasília. No domingo a largada será às 10 horas.
Muita coisa pra conferir.Leclerc muda essa história de não dar sorte em Mônaco ? Red Bull ou Ferrari, quem terá o carro mais veloz? E mais: poderemos ter algum vencedor que não seja nem Verstappen nem Leclerc? Ou até uma equipe diferente?
Teremos as respostas no domingo e tudo o que acontecer na pista de Mônaco será discutido com Rubinho Barrichello no nosso “Batendo-roda. Rubinho estará em Mônaco acompanhando a corrida do filho Dudu, e o plano é pegar um voo no domingo mesmo para estar com a gente na segunda-feira. Em todo caso, fique de olho no meu instagram @regileme, que lá eu aviso direitinho o horário desse bate-papo ao vivo.
Ficamos por aqui. Agradeço e muito a todos vocês que me acompanham, e tomara que a corrida seja boa
Um grande abraço!