Por Nanda Cattani
Enquanto o mundo atravessa uma nova fase de transição energética e redefinição de alianças comerciais, a Venezuela volta ao centro do tabuleiro geopolítico. Dona das maiores reservas comprovadas de petróleo do planeta, o país sul-americano está mais uma vez no radar das grandes potências — inclusive dos Estados Unidos, que recentemente anunciaram mudanças importantes em sua postura comercial e diplomática frente ao regime de Nicolás Maduro.
O presidente Donald Trump declarou no último domingo (24) que os EUA aplicarão uma tarifa de 25% a todos os países que importarem petróleo e gás natural da Venezuela. A medida, que entra em vigor no dia 2 de abril, visa enviar um sinal claro: a atual administração não pretende manter relações comerciais abertas com regimes que, segundo Trump, “prejudicam a segurança americana e violam os valores democráticos”.
Ao mesmo tempo, o Departamento do Tesouro revogou a licença especial da Chevron para operar no território venezuelano. A gigante americana do setor energético tem agora 30 dias para encerrar suas atividades no país, o que poderá impactar a produção local em até 150 mil barris por dia.
O petróleo como motor (e obstáculo) do crescimento
A Venezuela continua sendo uma peça-chave no jogo energético global. Com mais de 303 bilhões de barris em reservas, sua relevância permanece alta — mesmo diante de anos de instabilidade política, dificuldades econômicas e sanções internacionais. Mais de 80% das exportações do país ainda são baseadas no petróleo, o que reforça tanto sua dependência quanto sua vulnerabilidade.
O regime de Maduro, por sua vez, tenta contornar o isolamento buscando novos acordos com potências como China, Rússia e Turquia. Recentemente, o presidente venezuelano anunciou um ambicioso “Plano de Independência Produtiva Absoluta”, que visa reduzir a influência de empresas estrangeiras e fortalecer parcerias estratégicas fora do eixo ocidental.
Para além das fronteiras da Venezuela, os desdobramentos dessa política podem ser sentidos globalmente. Países como Índia e China, grandes compradores do petróleo venezuelano, precisarão avaliar os efeitos das tarifas sobre suas cadeias de fornecimento. E no mercado internacional, a saída da Chevron pode influenciar os preços, especialmente se houver escassez de oferta em regiões sensíveis.
Por outro lado, analistas veem a medida como parte de uma estratégia mais ampla do governo Trump de retomar o protagonismo energético dos Estados Unidos — valorizando a produção doméstica, reduzindo a dependência de fontes instáveis e reafirmando a postura republicana de firmeza diplomática aliada à segurança nacional.
Embora existam riscos e desafios econômicos, é possível interpretar as decisões recentes como uma tentativa de redefinir as bases do relacionamento entre os EUA e a América Latina. Para os republicanos, trata-se de proteger interesses estratégicos, incentivar a produção interna e sinalizar ao mundo que os EUA não toleram governos que promovem instabilidade e ameaçam a soberania regional.
E, claro, a questão energética segue como um dos pilares dessa equação. Mais do que uma commodity, o petróleo se consolida como um ativo político, econômico e diplomático — e a Venezuela, apesar de todos os obstáculos, permanece no centro dessa história.